Oficialmente, o 3DO foi descontinuado no final de 1996. Porém isso foi apenas a emissão do atestado óbito, o paciente já estava morto a muito tempo. Em Janeiro de 1996 a Ação Games desistiu de vez e publicou sua última matéria sobre o console (o tenebroso ALONE IN THE DARK 2, fazendo jus a vida do console), a Gamers em março daquele ano. Ou seja, é onde estamos agora. A Super Game Power ainda vai insistir em tentar ressucitar o paciente um pouco mais (o último jogo é em julho de 1996 com WAY OF THE WARRIOR, outra perola que ilustra bem o petardo), mas é inegavel que o relógio estava correndo, as ultimas badaladas se aproximando.
Assim sendo, voltamos a eterna pergunta: terá o 3DO o lendário jogo original "The Best Of" antes do seu fim derradeiro? Bem, definitivamente Killing Time é uma das últimas chances desse console superar pelo menos o Jaguar. Provavelmente a última. E eu digo isso pq KT é um jogo bastante ambicioso, até mesmo a frente do seu tempo em vários aspectos, tudo isso apesar de sua engine ser um clone de Doom.
O port para PS1 e Saturn acabou nunca saindo, mas chegou a ser feita essa campanha de marketing |
Nossa história começa no Egito, anos 30. Um professor de egiptologia chamado Dr. Hargrove descobre um relógio dágua na tumba do Faraó Ramses. Só que diferente do relógio d'água no shopping Iguatemi, segundo os escritos este relógio em particular tem o poder de conceder vida eterna ao seu dono. Considerando que eu não conheço nenhum egipcio eterno, essa é uma alegação altamente questionável.
Seja como for, a condessa Tess - a financiadora da expedição - decide tomar o relógio para si mesma. Até onde me consta, se ela pagou a porra toda ela tem o direito de ficar com as coisas pra ela, então vou assumir que estou jogando como um psicopata ciumento e de sangue frio que não pode aceitar que outras pessoas tenham coisas legais.
Mas essa não é a história toda: suspeita-se que o relógio foi levado para uma mansão na Ilha Martinicus, na costa do Maine, EUA, onde a condessa Tess costuma organizar festas suntuosas para a alta sociedade dos anos 30, recebendo desde celebridades da época até gângsters.
Em uma dessas festas, no solstício de inverno de 1932, todos os ocupantes da mansão desaparecem sem deixar vestígios, e nunca mais se ouviu falar de Tess Conway ou de seus convidados naquela noite. Você é um detetive, amigo pessoal do Dr. Hargrove que decide investigar o mistério e vai sozinho até a mansão, contando apenas com sua inteligência, coragem e seu revólver .45.
Estranhamente, ao colocar os pés na ilha, seu relógio para...
Em primeiro lugar, essa não é exatamente a primeira tentativa de fazer um FPS com elementos de survival horror no 3DO: ESCAPE FROM MONSTER MANOR tentou fazer isso quase dois anos antes. Você investiga uma mansão onde coisas sobrenaturais acontecem, o que é só uma desculpa para tentar emplacar um Doom genérico para chamar de seu.
Bem, Killing Time pode ter uma descrição parecida, mas ele faz as coisas de uma forma mais interessante do que seu antecessor e - acredite ou não, anos a frente do seu tempo. Isso porque o jogo não conta sua história através de textos ou mesmo cutscenes, o que ele faz é que os NPCs interpretam seus papeis enquanto jogo tá rolando e se você não quiser parar pra ouvir o que ele tem pra falar, tomatecru é vitamina, você segue seu caminho.
Por exemplo, quando você chega na ilha é recebido por um policial que te avisa pra ficar longe da Tess pq a mina é tretosa:
Mas não apenas isso, o jogo é repleto de pequenos erros chatos que teriam sido corrigidos em um playtest. Por exemplo, no início do jogo tem um grande labirinto do lado de fora dos jardins da mansão, infestado de caçadores e patos que fazem um barulho irritante. Supostamente serviria como uma fase introdutória e uma espécie de tutorial, mas o que ocorre é que a dificuldade é desbalanceada e é muito dificil passar pelos caçadores com as armas que você tem porque você leva muitos tiros antes de conseguir matar eles - eles são inimigos mais avançados, não deveriam estar na parte inicial do jogo, não com as armas que você tem a disposição.
Ou então outra coisa é que se você seguir o labirinto pela direita acaba indo parar nos subterrâneos da mansão, um lugar que não deveria chegar nem perto antes da metade do jogo porque você precisa de armamento bem pesado para passar por aí. Mas você precisa fazer isso logo no começo, e não é raro os jogadores desistirem porque o jogo tem esse dificulty spike louco com menos de 15 minutos de jogo. E assim o jogo é todo desbalanceado assim.
Outras pequenas melhoras que teriam acrescentado qualidade de vida ao jogo: um indicador de que lado você está tomando dano porque vc nunca sabe isso, os mapas terem nome de qual areas são conectadas para você se orientar, ALGUMA explicação do que os power ups fazem pq nem o manual diz isso. E por aí vai, conforme você vai jogando a cada instante você deseja que alguma coisa fosse feito de uma forma diferente.
Killing Time poderia ter sido um dos grandes jogos dos anos 90, sem exagero mesmo dado que o jogo teve ideias que depois foram reaproveitadas em clássicos como Half-Life e Bioshock... mas infelizmente tudo que envolve efetivamente jogar o jogo é envolto em sofrimento e dor. Uma pena, o 3DO chegou realmente perto dessa vez.
MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 015 (Junho de 1995)