quarta-feira, 30 de outubro de 2024

[#1334][Mai/1999] SHADOW MADNESS

Oh boy. Oooooooooooh boy. É. Por onde eu começo? Quero dizer, cara... assim... né?


... assim... eu entendo que no começo de uma geração podem sair jogos altamente questionaveis porque tanto os caras não sabem mexer no hardware ainda, como eles precisam lançar alguma coisa - qualquer coisa - porque fisicamente não existem jogos ainda para o sistema, então vai qualquer porcaria mesmo do jeito que der e vamo que vamo. Eu entendo isso.

Eu também entendo os shovelware de fim de geração porque a grande massa já migrou para o próximo sistema e ficam só aqueles jogos "pra tia dar de presente pro sobrinho", então meio que foda-se. Eu também entendo isso.



Agora, este não é nenhum dos casos do Playstation nesse momento. Estamos em 1999, o PS1 está no seu auge, seus melhores jogos estão esmerilhando por aí, todos os jogos definidores do console já estão na praça, não tem uma única causa, motivo, razão ou circunstancia para começar a compreender porque diabos, porque caralhas, porque bilongas voadoras não identificadas os caras me fazem um jogo que não consegue acertar uma, mas UMA, mas sério mesmo nem UMA ÚNICA coisa certa? Eu queria apenas entender como isso é sequer possível, pq LOUCURA SOMBRIA tem a façanha de não ter uma ÚNICA REMOTA coisa certa nesse jogo. Chega a ser estado da arte o quanto eles conseguem errar mas TUDO, é um negócio pra ser estudado pela NASA!

ESSE NÃO É AQUELE JRPG QUE FOI FEITO NOS ESTADOS UNIDOS?

Ah, tá explicado.



Tá, vamos começar adereçando o elefante poligonal de 5 voxels na sala: ao bater o olho, é blatantemente obvio que SM foi feito como um ripoff sadado do jRPG que mais vendeu no mundo até então, FINAL FANTASY 7. Obviamente todo o processo criativo do jogo foi "as crianças gostam daquilo, vamos fazer um igual" e deu, todo mundo pra casa, terminado o brainstorm. Sabe o meme de "mãe podemos comprar/a gente tem em casa"? Esse é um exemplo de livro didático disso. 

Tá, o jogo usa cenários pré-renderizados e os bonecos são feitos em poligonos, isso não é uma coisa patenteada da Square e não é como se ninguem mais pudesse utilizar. O problema é que ao bater o olho nos ditos poligonos, não tem como não traçar as semelhanças com o sucesso de dois anos antes e se isso não é um bootleg safado tentando pegar alguma criança incauta eu sou um Corsa 2006 com tração nas quatro rodas que  na verdade é o Optimus Prime líder dos Autobots e deixo essa mensagem sobrevivente que esteja refugiado entre as estrelas. Estamos aqui. Estamos esperando. (toca WHAT I'VE DONE do Parque Ligando)

Mas não, sério:


Com efeito, a maior diversão que pode ser tirada desse jogo é tentar adivinhar qual cena de FF7 eles estão chupinhando. Tipo, sabe na Gold Saucer quando para entrar e sair tu anda de teleférico e toca uma pequena cutscene?


Ora, é claro que Shadow Madness teria o seu teleferico da Shopee em FMV para chamar de seu!


Ou talvez então você queira abrir o seu jogo com uma cena mostrando uma opressora cidade cosmopolita?


Tá coberto!


Ou vocês acham que é apenas coincidencia que os itens nesse jogo são representados na tela exatamente como as Matérias de FF7?


Eu poderia passar algumas horas fazendo mais comparações aqui, e certamente seriam horas mais divertidas do que eu tive jogando esse jogo, mas você pegou a ideia. Vou te dizer que quando eu vi a versão deles de baixo orçamento da cena em que Cloud está perdido no lifestream eu ri, pq a vergonha definitivamente passou longe.

E enfase no "versão de baixo orçamento", pq é uma coisa bem óbvia é que esse jogo não tem o orçamento de FF7, é claro que esse jogo não custou 100 milhões de dolares. Só que isso somado ao esforço proposital em emular os gráficos de um jogo que já estava completamente datado em 1999 faz o jogo parecer ainda mais um bootleg absurdamente safado.

Limitações tecnicas a parte, Shadow Madness também tem a duvidosa distinção de conter talvez as escolhas artisticas e os designs de personagens mais feios que já vi em um RPG, todos os personagens são bem desagradáveis ​​​​visualmente. Stinger parece o Cloud Strife se tornando membro do Village People, e Clemett (outro personagem jogável) parece uma tentativa fracassada de transformar uma joaninha em um ser humano. A arte nas fotos que acompanham o diálogo não é muito melhor, mesmo que os retratos em estilo cartoon pelo menos sejam uma abordagem diferente do que o estilo anime padrão. Mas continua feio.



Mas tá, os gráficos quererem ser o FF7 na cara dura é o de menos realmente, afinal isso é um RPG e ele vive e morre pela sua narrativa no fim do dia, certo? É, certo, então... a narrativa desse jogo... como eu vou colocar... hã, ela meio que não existe?

Sim, esse é um RPG de 60 horas sem uma grande história pra contar realmente, e o que ele tem você já viu nos primeiros minutos de jogo: nosso herói estava fora de casa pq ele é um adolescente cheio de atitude e brigou com o padastro... pradrasto... pradasto... o esposo da mãe dele... o que é uma coisa diferente e que você não veria em um jogo japones, tenho que dar isso a eles... quando uma bomba mágica explode e varre a cidade do mapa.

Então sua primeira impressão é foi bastante positiva, começa e parece que vai a algum lugar interessante com isso... exceto que não vai. Primeiro, o jogo se transforma em mais um jogo com um vilão previsível, que é, claro, um mago poderoso que não tem motivações reais para suas ações. E então algo chamado "loucura das sombras" começa a enlouquecer as pessoas e fazer monstros aparecerem, mas é tão mal trabalhado na história que você pode nem perceber.


E muito disso por causa da estrutura desse jogo, cada vila que você vai tem um "problema da semana" que não tem muita relação com nada nem é particularmente interessante, você faz uma duzia de quests de buscar coisas pq te mandaram, repita isso por 60 horas e é isso. Tipo uma vila foi dominada por bandidos, então para a vila voltar ao normal (e vc poder falar com os NPCs, usar o inn e as lojas) precisa achar e derrotar todos os bandidos do mapa. Outra vila foi dominada por zumbis, então para a vila voltar ao normal (e vc poder falar com os NPCs, usar o inn e as lojas) precisa achar e derrotar todos os bandidos do mapa. Outra vila foi dominada por monstros, então para a vila voltar ao normal (e vc poder falar com os NPCs, usar o inn e as lojas) precisa achar e derrotar todos os bandidos do mapa.

Eu queria estar de zoeira com vocês que a coisa rola nesse nível durante 75% do jogo. Queria muito mesmo. Mas tá, a história beira o inexistente... mas pelo menos o seu desenvolvimento é interessante, os personagens são carismáticos e a escrita entretem, né? NÉ?


Jesusmariajosé... eu juro pra vocês que pela primeira vez em quase oito anos eu cogitei seriamente largar esse blog, papo sério, pq nenhum ser humano - independente do crime que tenha cometido - merece ser submetido a esses niveis de miseria e degradação humana.

Vamos dizer que o problema é o seguinte: todos os personagens do jogo, mas todos mesmo, falando parecem que são o mesmo personagem - o adolescente cheio de marra e atitude escrito pela Working Designs. Sério, não tem um boneco nesse jogo que consiga apenas dizer "bom dia", ele tem que meter um "vou deixar você cruzar o meu caminho dessa vez, mas não abuse da sorte!".


Sabe o cara que um adolescente de 13 anos acharia a coisa mais foda do mundo pq ele é mal educado e tem uma necessidade patológica de afirmar sua masculinidade o tempo todo? Bem, imagine que todos os personagens do jogo são esse cara. É um mundo povoado por Uchihas, eu já tive paralisias do sono menos pertubadoras que isso.

E sério, os caras viajam tanto na marrentice que as vezes eu realmente me questionei se esse jogo só tinha sido mal traduzido. Mas como esse é um jogo americano, eu só posso supor que a pessoa responsável por ele não fala inglês.

Quando vc tem 13 anos isso deve parecer a coisa mais maneira do mundo, mas gente imagine 60 horas disso e que TODO MUNDO no jogo é assim o tempo todo... para, gente, só para.

E eu não posso frisar o suficiente o quão terrível é aturar essa galerinha durante 60 horas, nunca na minha vida eu quis tanto esfregar um ralador de queijo na cara dos personagens de um RPG. Todos eles. Que coisa absolutamente terrível. E mesmo que você realmente tenha 13 anos e ache isso muito engraçado, te garanto que lá pela décima hora você vai querer que os personagens apenas se dêem melhor e ajam pelo menos um pouco como um grupo de heróis, e não pessoas marrentas que mal se conhecem e não ligam pra ninguém além de si mesmas.

Mas tá, os gráficos são uma versão barata de um jogo já visualmente datado, a história beira o inexistente e os personagens despertam ojeriza. Hã, o que mais resta para um RPG? Quer dizer, pelo menos o sistema de combate se salva? Hã... vamos colocar assim: esse foi o primeiro jogo desenvolvido pela Crave Enterteinment (e não surpreendentemente o único), e se tem um aspecto que aparece a inexperiencia deles com certeza é nas mecanicas de combate.

As batalhas são extremamente simples e ainda sim falham nisso. O sistema básico baseado no padrão de um jRPG (ataque/magia/item/flee) porém cada opção fica em um dos botões de cima do controle (L1/L2/R1/R2)... o que é estranho, mas não é um problema. O problema é que, em primeiro lugar, você ataca em turnos enquanto o inimigo ataca praticamente em tempo real e enquanto vc navega nos menus para achar um item ou uma magia (que não tem descrição do que fazem, boa sorte decorando todos os nomes) ele já te deu tres ou quatro ataques pq esqueceram de programar um wait time nos inimigos, só você tem.



O segundo problema é a camera, pq seu boneco só pode fisicamente atacar quem está perto dele... e a camera é colocada a uma distancia e um angulo que você pode garantir que nunca terá certeza disso. FINAL FANTASY 7 usa uma camera móvel nos combates, mas te dá uma lista com os inimigos para você selecionar caso não esteja conseguindo ver o cursors nos bichos, SM acha isso frescura e metade das vezes você vai atacar sem ver quem você está escolhendo

O jogo ainda tem um sistema de agressividade no ataque vc pode escolher a postura: cautious, normal ou agressivo. No cautious você diminui 90% do seu dano para perder 20 pontos a menos por hit, no agressive você aumenta sua chance de errar o ataque em 50% para causar 20 pontos de dano a mais por hit. Se alguém testou essa bosta antes de colocar no jogo (ou ao menos se perguntou qual é o próposito disso existir), pode me chamar de Armindo Antonio Ranzolin.

Porém nada disso realmente importa muito porque esse jogo tem o sistema de leveling mais cagado da cabeça que eu já vi na vida. Com cerca de 1/3 do jogo seus personagens já chegaram no nível máximo e derrotam qualquer inimigo apenas macetando o ataque básico. Sim, a programação do jogo urra que é FRACA e AMADORA por todos os seus poros, e eu nem macetei nem farmei nada, só procurando onde ir (boa sorte com isso) já deu level cap COM 1/3 DO JOGO. Pq algum genio, ser iluminado, espacial, cerebral, decidiu que o jogo ia até o nível 15 e foda-se. Com 1/3 vc chega no nível máximo e deu. Pq foda-se.



Porém quando vc acha que pelo menos já foi tudo e não tem como ficar pior... aí entra o sistema de inventário. Deus, o inventário desse jogo... o inventário desse jogo. Você tem um espaço realmente limitado no seu inventário (aproximadamente 30 slots) para acomodar itens de cura, armas e armaduras... o que já seria apertado, mas vá lá... mas então o jogo decide que apenas de sacanagem vai te encher de lixo, novamente pq foda-se.

Sério, 98% dos itens variam entre curar 1HP e fazer nada, e eles ocupam um dos seus poucos slots de inventário. Aí vc precisa jogar eles fora... só que vc só pode jogar fora 1 por 1. Então se você tem 98 maçãs (que curam 2HP cada) vc tem que consumir ou dropar elas UMA POR UMA. UMA. POR. UMA. PQ AAAAAAAAAAAHHHHHHHHH ALGUEM PROGRAMA DESSE JEITOOOOO?!?!

E sabe o que é pior? Sabe o que é realmente pior? É claro que você não sabe o que é pior pq eu vou te dizer o que é pior: não existem poções de cura, itens de mana ou antídotos genéricos em Shadow Madness. Não, tudo tem um nome bizarro e para saber o que cada item faz você não pode ver os efeitos de um item durante a batalha. de batalha, o unico lugar que dá pra ver é verificando o item na tela de inventário. O mesmo vale para os magias.



Pq, claro, é óbvio que o que eu preciso é de manter uma lista escrita a mão do meu lado com o nome de 150 itens e magias para lembrar o que eles fazem... e já que eu tenho que anotar coisas, melhor anotar tambem os atributos dos itens equipados, pq na hora de comprar itens novos nas lojas o jogo não te diz se eles são melhores que os que já estão equipados nos seus personagens. 

Mas PUTA QUE ME PARIU MAMELUCO ATRÓZ! RPGs de Nintendinho já faziam isso QUINZE anos antes. QUINZE. Q-UI-ZOJFJISJHFSJD AAAAAAAAYH VAI TOMA NO CU CARALHO, COMO QUE VCS NÃO PODEM AO MENOS DIZER SE O ITEM QUE EU TO COMPRANDO É MELHOR QUE O QUE JÁ TÁ EQUIPADO, O QUE É QUE CUSTA AO MENOS ISSO PORRA VÃO TUDO $%#$¨$%

CALMA, RESPIRA, RELAXA...

*Inspirando e expirando furiosamente com ódio de mil sóis amarelos*

TENTA FOCAR EM ALGO POSITIVO... A MÚSICA DESSE JOGO NÃO É BOA?

A musica do jogo não é ruim, é nível padrão de música de jRPG de Super Nintendo, mas tá, não é o fim do mundo...

VIU?

Exceto que é claro que eles cagaram isso também! Obvio que sim! Isso pq principais cidades têm várias músicas tema são tocadas em sucessão, ao invés de apenas uma música no loop... e isso não funciona tão bem quanto poderia parecer porque as musicas são muito diferentes de tom entre elas e isso muda a ambientação da cidade. Quando você ouve um tema tranquilo seguido de outro muito sinistro, e nada na cidade mudou nesse meio tempo, vc fica deslocado e incapaz de decifrar o clima da cidade. Aconteceu alguma coisa? Estamos sob ameaça? Era pra eu saber de alguma coisa? Não, apenas a trilha sonora foi feita no random, foi apenas isso. Pq, novamente, foda-se você, é por isso.

Enfim, Shadow Madness deveria ser algo especial e no papel deveria ser a melhor chance de um jRPG ocidental dar certo já que foi um RPG criado com produção executiva e co-escrito por Ted Woolsey. Se esse nome lhe é familiar, é porque ele é o cara que traduziu a grande maioria dos jogos da Squaresoft do SNES para o inglês. Literalmente não tem ninguém no ocidente com mais envolvimento com CHRONO TRIGGERFINAL FANTASY 6 e SECRET OF MANA

O outro escritor e designer, Paul Reed, era conhecido por escrever SECRET OF EVERMORE, o RPG ocidental da Squaresoft e que anos mais tarde projetaria Metroid Prime - um pouta de um jougo. Então como as coisas deram tão errado assim? Só posso imaginar que a falta de dinheiro e a falta de experiencia na equipe (afinal quem no ocidente entendia alguma coisa sobre programar jRPGs?) cobrou seu preço. E foi um preço bem alto.



Seja qual for o motivo, o fato é que eu não estou brincando que não tem uma única coisa nesse jogo que funciona ou é interessante. Graficos, sistema de combate, inventario, interface, narrativa, personagens, tudo isso se esforça de uma forma até sobrehumana para ser o maior acidente de trem na história da humanidade. 

Que esse é o pior jRPG da história do Playstation eu não tenho a mais remota duvida, o que eu realmente fico me perguntando é se esse seria o pior jRPG de todos os tempos. Para responder isso eu teria que trancar ele numa sala com BREATH OF FIRE 2... e torcer para que nenhum deles saia vivo dela.

MATÉRIA NA GAMERS
Edição 041 (Junho de 1999)