quinta-feira, 20 de novembro de 2025

[#1599][Out/2000] SPYRO: Year of the Dragon


Spyro: Ano do Dragão (e daqui pra frente eu vou chamar só de "Spyro 3", porque ninguém tem esse tipo de tempo hoje em dia) é o DONKEY KONG COUNTRY 3: Dixie Kong's Double Trouble do PS1. É isso. Essa é a review. Obrigado pela presença, pessoal – dirijam com segurança.

[E ESSE É O CARA QUE DISSE QUE NÃO FAZ REVIEWS RASAS AINDA ESTA SEMANA... MAS POR QUE ELE É O DKC3 DO PS1? O PERSONAGEM PRINCIPAL TAMBÉM FOI TROCADO POR UM BEBÊ ESTRIDENTE E CHATO?]

Ai Jorge, vc torna minha vida tão difícil... mas vamo lá então: não. O Spyro ainda é o Spyro – nenhum mascote irritante do tipo "as crianças VÃO AMAR esse novo mascote super divertido!". Bom... majoritariamente (as fases do Agent 9 ainda são o tipo de sofrimento que te faz questionar as escolhas da sua vida, mas, felizmente, o jogo não enfia ele goela abaixo por muito tempo.)

A capa europeia é cheia de atitude, SEU COROA!

A comparação não tem nada a ver com troca de personagens, design de fases ou mesmo os power-ups. Tem a ver com a vibe. A atmosfera. Aquela sensação intangível que você tem no momento em que o disco começa a girar. E que sensação é essa, você pergunta?

É a inconfundível atmosfera de "fim da festa".

Você sabe qual: o salão está meia-luz, alguém já desligou o ar-condicionado, o DJ está guardando os cabos com o olhar distante de quem está acordado há 20 horas, e só restam três pessoas – duas delas desmaiadas, a terceira tentando lembrar onde deixou a jaqueta. A festa terminou e alguém já começou a varrer o salão, pessoal.

Foi nesse exato ponto que ra aí que DONKEY KONG COUNTRY 3: Dixie Kong's Double Trouble chegou no final de 96. Recebido com apatia não porque era um jogo ruim, longe disso, mas porque quando ele chegou, o Nintendo 64 já tinha chutado a porta exibindo seu terceiro pegador pra quem quisesse ver e o PS1 já estava a todo vapor. O SNES ainda era querido, sim, mas também já estava perto da saída, de casaco vestido e o Uber chamado. DKC3 não foi um fracasso – ele simplesmente chegou numa festa que já tinha acabado.

E essa é exatamente a energia que exala de Spyro 3.

O PS1 no ano 2000 não estava morto ainda, mas dava para ouvir o bipe do respirador artificial. O PS2 já tinha saído no Japão e na América as pessoas estavam babando de vontade pelo monólito negro que prometia DVDs, emotion engines e o futuro™. Até o Dreamcast, coitado, estava dando cambalhotas para se manter relevante. Enquanto isso, o PS1 sabia que ele estava naquela fase da vida em que o médico já recomenda você não começar a ler livros longos.

Então, Spyro 3 não é um jogo ruim, de forma alguma. Mas não deixa de ser um tanto melancólico ver o que um dia foi o showcase do que o PS1 podia fazer com um jogo 3D ser relegado para "o presente de Natal para a criança mais nova que acabou de herdar o PS1 do irmão mais velho". Spyro merecia mais do que isso. A franquia merecia uma despedida com fogos de artifício, não um faxineiro perguntando se vocês ainda vão ocupar o salão muito mais tempo. Mas vamos a isso e explicar porquê essa despedida parecer tão melancólica.



O primeiro lugar onde você nota esse espírito de "festa acabou" é não mais distante do que na intro. Olha, eu entendo: o Spyro nunca tentou ser uma épico nível Tolkien. Ninguém esperava o equivalente dragão de O Silmarillion narrado pelo Cid Moreira nem nada. Mas até o primeiro SPYRO THE DRAGON se deu ao trabalho de te dar uma premissinha charmosa: uma entrevista falsa de TV com um dragão ancião, com direito a microfone do estúdio aparecendo e tudo. Não era revolucionário, mas tinha personalidade, esforço, era bonitinho. A introdução do Spyro 3, em comparação, parece o equivalente criativo de alguém saindo mais cedo na sexta-feira. A história é que alguém roubou os ovos de dragão. Vá buscá-los. Ou não. É isso. Essa é a introdução inteira. 

Não tem uma esquete divertida, nenhuma construção interessante, nem mesmo uma tentativa meia-boca de fingir que este é um capítulo emocionante. É entregue com todo o entusiasmo de um pai lembrando o filho de tirar o lixo. E essa falta de energia é meio que a Insomniac dizendo "ah, tanto faz, tá bom, é pra criança, elas não vão notar" que dita o tom de toda a experiência.

O segundo sinal amarelo – e esse sim é um que importa em termos de gameplay – é que o Spyro não ganha uma única habilidade nova neste jogo. Nenhuma. Sim, eu sei: eles construíram Spyro * na engine do SPYRO 2: Ripto's Rage. Tudo bem. Reutilizar recursos, economizar tempo, reciclar assets – padrão da indústria. Mas você está me dizendo que eles não conseguiram encaixar nem UM truque novo? Nenhuma habilidade inata nova, como ele ganha escalar ou nadar no jogo anterior, nenhum power-up temporário novo, nem mesmo uma esquisitice besta que dura só por uma fase?

Olha, não estou pedindo para a Insomniac reinventar a roda ou redefinir os plataformas 3D a cada doze meses, mas... alguma coisa? Qualquer coisa?? Porra, até o Mario 2 – o japonês original, não a viagem de arremessar legumes – pelo menos tentou introduzir alguns power-ups e mecânicas de fase novas. Spyro 3, em comparação, parece que saqueou a sala de corte do SPYRO 2: Ripto's Rage e costurou as fases rejeitadas que estavam de bobeira por ali. E, não-ironicamente eu não ficaria surpreso se foi exatamente isso que aconteceu.

Mas, para ser justo – só para evitar dizer que o jogo não acrescenta literalmente nada novo – Spyro 3 introduz aquelas salinhas secundárias onde você joga com o recém-expandido grupo de companheiros animais do Spyro. Porque sim, ele agora tem amigos animais. Claro que tem. É a lei dos plataformas de mascote.

E claro, esses companheiros não são horríveis. Cada um vem com sua própria mecânica de jogo. Um canguru aqui, um pinguim com uma bazuca ali, o macaco com uma fase de tiro terrível... sabe, os clássicos. Mas o problema é que as seções deles são mais minigames do que qualquer coisa, meio que se resumem a pegar um ou dois ovos e foi bom.

Ainda assim, vamos dar crédito onde é devido: SPARX, A LIBELULA, FINALMENTE GANHA SUA PRÓPRIA FASE. Sim, depois de anos servindo como pouco mais do que a barra de vida flutuante do Spyro, ele agora ganha uma missão de shooter vista de cima que grita: "Viu? Estamos fazendo coisas NOVAS! Por favor, palmas!". Alguém estava realmente pedindo por isso? Absolutamente não, mas ei – temos uma fase do Sparx agora, yay...


Olha, eu sei que provavelmente estou soando muito negativo a essa altura, mas eis o seguinte: eu não odeio Spyro 3. Nem de perto. Porque, no final das contas, o Spyro 3 ainda é... bem... Spyro. E o Spyro, no pior dos seus dias, ainda é a realeza – a linhagem nobre dos plataformas 3D da era PS1.

Então, Spyro 3 parece uma compilação de fases rejeitadas do SPYRO 2: Ripto's Rage catadas do chão da Insomniac? Sim. Com certeza. Só que até as sobras do melhor plataforma do PS1 ainda são deliciosas. Comer uma segunda porção de uma ótima refeição não é o que eu chamo de um dia ruim. Joguei coisas muito, muito piores – acredite, eu tenho algumas histórias de terror nesse blog.


E por falar em coisas deliciosas, tem as cutscenes da Bianca. Elas são fofas. Elas são cativantes. Elas têm personalidade. Mas provavelmente estou sendo tendencioso, porque ela é uma vilã furry com um arco de redenção, e o Jorge nunca vai me deixar em paz se eu me aprofundar nesse tópico. Então não vou. Estou me poupando anos de humilhação. Seguindo em frente.

Conclusão: Spyro 3 pode não ser a hora mais brilhante da Insomniac, e sim, o jogo é basicamente "mais do mesmo" – mas o "não foi o melhor esforço" da Insomniac ainda é anos-luz a frente de quase qualquer coisa que não se chame Rare ou Nintendo. Se "mais do mesmo" significa "mais de um dos maiores plataformas 3D que o PS1 já produziu", então dificilmente isso configura um sofrimento.


Então não, Spyro 3 não é o grande final que o dragão roxo merecia. Não é a despedida emocionante, nem a gloriosa demonstração técnica, nem o estrondoso encerramento de uma trilogia. É mais um tapinha nas costas, uma suave despedida, um "obrigado por jogar conosco pela última vez".

E, honestamente, tá tudo bem. Porque mesmo neste estado de transição, um pouco cansado e meio reciclado, Spyro 3 ainda oferece mais charme, mais diversão e mais refinamento do que metade dos jogos de plataforma que eu consigo lembrar. É um testamento ao fato que quando uma série é construída sobre um design genuinamente bom, até mesmo os jogos menos inspirados brilham. Acredite quando eu digo que existem destinos muito piores nos games do que passar um fim de semana coletando ovos de dragão e dando cabeçadas em Rhynocs.

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