segunda-feira, 17 de novembro de 2025

[#1596][Nov/2000] SONIC SHUFFLE

Aqui neste blog, temos orgulho de nossas resenhas autênticas, profundamente refletidas e bem pesquisadas. Mais do que isso, nós—

[QUEM É ESSE “NÓS” QUE VOCÊ SE REFERE? EU SOU SÓ UM FIGMENTO DA SUA IMAGINAÇÃO DEPRIMIDA. SE HOUVESSE MAIS ALGUÉM ENVOLVIDO NESSA PALHAÇADA, O NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS SERIA MAIOR QUE O DE LEITORES.]

Você é real pra mim, Jorge, não importa o que os psiquiatras digam. Mas onde eu estava? Ah, certo. Eu ia dizer que nós não fazemos senso comum aqui. Nós não simplesmente soltamos opiniões clichê e damos o dia por encerrado. Não, não, não. Isso nós absolutamente não fazemos.

Por exemplo, o modo fácil e de nível normie de analisar Sonic Shuffle é declarar que “Sonic Shuffle é o MARIO PARTY da Sega, mas com o Borrão Azul.” Essa é a opinião padrão. 

Mas aqui? Aqui nós cavamos mais fundo. Aqui nós mergulhamos de cabeça na toca do coelho e eu posso orgulhosamente anunciar que Sonic Shuffle não é meramente “MARIO PARTY da Sega”. Ah, não.

Sonic Shuffle é o Mario Party da Sega… COM CARTAS.
AHA! Plot twist!

E é por isso, caro leitor, que estamos aqui. Porque qualquer um pode te dizer que Sonic Shuffle é só um concorrente querendo ser o MARIO PARTY. Mas só aqui nós fazemos as perguntas de verdade: Por que cartas? Por que os tempos de loading? Por que os minigames que parecem ter escapado de uma inicial de de programação? E o mais importante: Por que o Jorge não para de me perturbar em vez de pagar aluguel?

Talvez nunca saibamos. Mas nós vamos falar sobre Sonic Shuffle. Em detalhes excruciantes. Porque alguém tem que fazer.

Então, antes de mais nada, eu recomendo que você vá ler minha resenha do MARIO PARTY, porque eu não vou explicar as mecânicas básicas de novo. É conhecimento fundamental importante. Leitura essencial. Uma pedra angular da civilização humana, sério.

Então vai ler.
Ou não.
Eu não sou sua mãe, e francamente não me importo—ela também não se importa, e alguém tinha que te contar isso mais cedo ou mais tarde.
Mas, de qualquer forma, agora que estamos todos na mesma página (ou não), vamos falar sobre embaralhar cartas!

…E acredite ou não, essa não foi a pior ideia que a Sega já teve. Tá, essa barra é meio baixa porque as piores ideias que a Sega já teve são um capitulo a parte... mas ainda assim—o sistema de cartas? Surpreendentemente é uma ideia maneira.
Pronto, falei.

Como funciona: em vez de rolar um dado, você escolhe uma carta que determina quantas casas você vai andar. E o que é que isso tem de mais? Bem, ao contrário dos dados, você pode escolher qual carta vai usar, dã, mas a parte importante é que isso te dá um lampejo de controle estratégico. Algum tipo de autonomia, algo que você não pode tomar por garantido em um party game.

Mas—e é aqui que fica interessante—você também pode escolher as cartas de outros jogadores às cegas. Exceto que é não totalmente às cegas: no canto da tela, tem um mostrador mostrando quais cartas já foram usadas, e como só há quatro de cada número, você pode contar cartas e fazer um palpite educado sobre o que seus oponentes podem estar segurando. Isso mesmo: Sonic Shuffle incentiva a contagem de cartas, tornando-se o único jogo da Sega onde você pode se sentir um mestre dos Casinos sem correr o risco de ser chamado para conversar pela segurança no quartinho dos fundos.

Então é assim que o loop de gameplay funciona na prática: no início de um novo round, você está segurando toda a sua mão, então você pode basicamente escolher onde quer cair. Mas conforme os turnos passam, a mão diminui. De repente, você está debatendo se queima um precioso 5 ou 6 logo cedo ou os guarda para um sprint final em direção à “Estrela”—bem, Esmeralda do Caos, mas não vamos fingir que alguém não tá vendo a copia.

Exceto que é aí que outro jogador vem na cega e aleatoriamente pega exatamente a carta que você estava guardando. E, naturalmente, você revida vasculhando o baralho deles, como guaxinins brigando por pão velho. É parte gerenciamento de recursos, parte probabilidade, parte caos puro e destilado—exatamente o que um party game deve ser.

E—que a alma gentil e benevolente de Miyamoto-sama me perdoe por dizer isso— é  realmente muito mais interessante do que simplesmente jogar um dado.
Pronto.
Falei. Não tenho como desfalar.

Então… estou insinuando que a cópia da Sega é na verdade melhor que um jogo da Nintendo? Espera aí, deixa eu checar uma coisa… Hmm. Não. O inferno ainda não congelou. Então acho que não estamos na linha do tempo em que “a Sega é melhor que a Nintendo em alguma coisa”. E não me pergunte como eu posso checar a quantas anda o inferno. Você não vai gostar da resposta. Vamos dizer apenas que envolve burocracia, uma cabra e três marcas diferentes de extintor de incêndio.


Porque, sim, o sistema de embaralhar cartas é realmente melhor do que usar dados. Dou esse ponto à Sega. Mas o que não é melhor, infelizmente, é… bem, todo o resto. Veja, um party game vive e morre pelos seus minigames. Essa é a coisa toda. Ninguém liga MARIO PARTY para admirar o tabuleiro ou se engajar em pensamento estratégico profundo, eles vieram para arruinar amizades e macetar botões. E suponho que chocarei um total de zero pessoas ao informar que a Sega se embananou nesse quesito. 

Os minigames em Sonic Shuffle variam de “ok, isso existe” a “alguém foi pago com dinheiro de verdade por isso?”. Mas o problema maior nem é a qualidade. Não, a verdadeira cena do crime aqui é a quantidade. Este jogo tem muito menos minigames do que Mario Party no N64. E Sega, minha amada entidade caótica e neutra, como em nome das sete esmeraldas do caos, você conseguiu isso? Como você faz menos conteúdo que um cartucho de 25 MB… em um console com um disco de 1 GB? Um disco quase quarenta vezes maior. QUARENTA! Como é que ninguém foi parar no pelotão de fuzilamento por causa disso?

E não só há menos minigames, como você os vê com menos frequência. Os tabuleiros têm menos espaços de minigame, então sua experiência típica no Sonic Shuffle é:

  • Anda
  • Loading
  • Anda de novo
  • Loading
  • Mais loading ainda
  • Passa várias eras geológicas esperando
  • Eventualmente testemunha um da meia dúzia de minigames que você já enjoou de jogar

É um monte de tabuleiro, ainda mais telas de loading, e então — talvez — um minigame para te lembrar por que você está aqui. 


E eu tenho que dizer uma coisa: quando a Nintendo alegou que escolheu cartuchos em vez de CDs para o Nintendo 64 “por causa dos tempos de loading”, a gente sabe que é mortadela. É sobre dinheiro, controle, royalties e manter third partys na coleira curta.

Mas Sonic Shuffle se embanana tanto com os tempos de loading que a Nintendo poderia ter feito um caso fantástico para provar o seu ponto com esse jogo. Porque, por Arceus, este jogo tem mais loading que um título da Bethesda com 300 mods instalados. Isto é um jogo de tabuleiro, e ainda assim o leitor laser do Dreamcast guincha e range como se estivéssemos arrancando seu primogênito das suas mãos. Puta jogo mal otimizado, sério! (E vocês crianças achando que os desenvolvedores inventaram otimização porca nos jogos na era moderna...)

Bem, pelo menos o jogo é bonito de se olhar. Dou esse ponto. O cel-shading — o mesmo estilo usado em JET SET RADIO — ainda se sustenta. O Dreamcast pode ter morrido mais rápido que a dignidade da Sega depois do lançamento do Saturn, mas visualmente o negócio tinha algum músculo para mostrar. Sonic Shuffle parece vibrante, estiloso e distintamente “Dreamcast-y”.

E olha, a Hudson Soft estava envolvida! Sim, Hudson, os caras que fizeram o MARIO PARTY! Isso é uma coisa boa para esse jogo, certo?

... certo?

Honestamente, eu não faço ideia do que a Hudson fez aqui que a Sega não poderia ter feito sozinha. Talvez eles tenham dado apoio moral. Talvez tenham emprestado um grampeador para a Sega. Talvez alguém da Hudson tenha entrado no escritório, escrito “MINIGAME?” num quadro branco, dado de ombros e saído para fazer Bomberman Kart ou o que quer que pagasse as contas naquela época.

Mas tudo bem, vamos ser justos: questões técnicas à parte (leia-se: as telas de loading que duram eras geológicas), eu não tenho muitas queixas mecânicas de verdade sobre o jogo. Talvez porque seja preciso um esforço especial de incompetência para estragar um jogo de tabuleiro… o que é um nível de genialidade que a Sega historicamente nunca teve medo de flertar, mas realmente não é esse o caso aqui.


Mas mesmo assim, eles poderiam ter gasto um pouco mais de esforço na seleção de personagens. Quer dizer, qual é, gente. Você tem com o trio principal da Sonic Team — Sonic, Tails, Knuckles — mais Amy Rose, e esse é todo seu elenco. Quatro personagens para quatro jogadores. Até o SUPER MARIO KART não foi tão sovina assim, e aquele jogo rodava em um console que mal conseguia desehar círculos.

Tá, não é como se Sonic fosse conhecido por ter o elenco de apoio mais amado já criado — não estou exatamente implorando pela escalação do elenco de KNUCKLES CHAOTIX para um retorno triunfal — mas com certeza, com certeza, eles poderiam ter adicionado mais gente. Metal Sonic. Shadow the Hedgehog, mesmo que SONIC ADVENTURE 2 não tivesse sido lançado ainda o marketing do personagem já era bem forte.

Mas não. Vc tem quatro personagens. Quatro.
E então—

[TODA ESSA CHORADEIRA SOBRE PERSONAGENS É SÓ PORQUE A ROUGE THE BAT NÃO É JOGÁVEL, NÃO É, SEU FURRY DEGENERADO?]

O quê? Não, eu—
Quer dizer—
Olha, eu simplesmente acho o conceito de uma morcega ladra de joias moralmente flexível narrativamente intrigante. Uma ladra com estilo! Uma femme fatale com asas! Uma personagem com… profundidade.


E eu não sou afetado de forma alguma, maneira ou forma por ela ser uma morcega antropomórfica de desenho animado com… uh… enormes… muito generosamente animada… carisma.

Sim. Carisma. Personalidade.
Personalidade… enorme.
Sim, é por questões meramente conceituis e não físicas, eu estou totalmente acima disso. Completamente imune. Intenções absolutamente acadêmicas aqui.


Então, à parte falta de morcegas peitu... perfeitamente interessantes narrativamente, é… Sonic Shuffle tem uma boa ideia para uma cópia de MARIO PARTY, e então simplesmente bate o ponto depois disso. Ele chega no trabalho com uma mecânica inteligente, coloca ela na mesa e sai para um intervalo para fumar que dura o resto do desenvolvimento.

Não há nenhuma revelação do tipo “na verdade, se você analisar pela perspectiva de um historiador do Dreamcast—”. Receio, meu caro leitor (singular), que este é um daqueles raros momentos onde o consenso comum está correto. E o que é que todo mundo diz sobre este jogo? Pois é. É exatamente isso.


Sonic Shuffle é um party game de liquidação—não ofensivamente ruim, não espetacularmente bom, só o tipo de coisa que você encontraria entalado entre NFL 2K2 e TONY HAWK PRO SKATER 2, precificado a 7 reais com um adesivo que diz “O DISCO PODE NÃO FUNCIONAR”.

Então, é. Nenhuma insight profunda hoje. Nenhuma revelação chocante sobre filosofias de design mal compreendidas. Às vezes o mundo é simples: Sonic Shuffle é só okay. Não é um desastre. Não é um triunfo. É um party game do Dreamcast que existe, e isso é o que eu posso dizer sobre ele.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
EDIÇÃO 144 (Outubro de 1999)


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
EDIÇÃO 076 (Julho de 2000)


EDIÇÃO 082 (Janeiro de 2001)


MATÉRIA NA GAMERS
EDIÇÃO 071 (Julho de 2000 - Semana 1)