Sabe o que mais? Esse jogo do 007 para o Mega Drive é um joguinho de plataforma com fases labirinticas em que você precisa resgatar um número de mocinhas e achar a saída da fase. Não é pavorosamente ruim, mas também não é bom. Tem controles decentes e é um jogo de fases labirinticas que não tem limite de tempo, o que é algo que eu não apenas respeito mas seria muito mais feliz se fosse implementado mais amplamente, mas ... meh.
Por isso ao invés de falar sobre o jogo, vou ruminar os pensamentos que eu tive enquanto jogava porque... bem, porque esse é o meu blog e eu escrevo o que eu quiser. Mas vou postar o vídeo do Sr. Wilson jogando caso você PRECISE ver 007 The Duel por alguma razão que eu não consigo imaginar
Uma coisa da qual eu posso me orgulhar, é que eu sou savante na maioria dos fandoms ligados a cultura pop. Não um expert, mas eu posso manter uma conversa sobre praticamente qualquer coisa de pro-wrestling a animes, de videogames retro e futebol. Você dificilmente encontrará alguém para falar sobre o que deu errado em Game of Thrones e sobre o que My Little Pony poderia ter sido na mesma conversa, e essa pessoa sou eu.
Existem algumas exceções, no entanto, que são areas que eu nunca fui porque... bem, honestamente não tenho o menor interesse. Como a segundo maior franquia de filmes da história do cinema, por exemplo (embora logo será ultrapassada pelo MCU nesse número). Veja, não é como se eu particularmente tivesse algo contra os filmes do Tiago Bonde, apenas... eu não me importo.
Quer dizer, eu definitivamente entendo porque a série se tornou popular em primeiro lugar. Ao contrário de muitos autores de livros de espionagem em seu tempo (e no começo da guerra fria, nos anos 50, espionagem era o equivalente ao que o terrorismo é nos noticiarios hoje), Ian Flemming tinha alguma noção do que ele estava escrevendo.
Durante a segunda guerra mundial, Flemming trabalhou para o Serviço de Inteligencia Naval da marinha britanica, e não apenas conheceu vários espiões de verdade como ele próprio desenhou várias missões de espionagem durante a guerra, chegando a comandar duas unidades de inteligencia simultaneamente. Então ele não apenas estava bostejando sobre como ele "achava" que a espionagem funcionava, ele esteve lá, ele fez coisas.
Esse é um ponto. O outro é que os livros dele chegaram em uma época bastante dificil para a Inglaterra, que é o período pós segunda guerra mundial - quando o "Império Britanico" se esfacelou até o posto que modesto a Inglaterra ocupa hoje no cenário mundial de "ah, é, tem aqueles caras que são aliados dos Estados Unidos, né?". Perdendo mais colonias do que eles saberiam numerar em tão poucos anos, somados com os custos de reconstruir um país que foi bombardeado pelos alemães, os ingleses pela primeira vez em toda sua história se viram... bem, não pobres, mas definitivamente uma classe média que ainda tinha o gosto dos jantares chiques da realeza.
Aí entram esses livros bem escritos que são uma wish fullfilment do que todos os homens daquela época queriam ser. O macho-alfa definitivo dos anos 50, que superava todos os desafios sem suar, sempre com um sorriso de cafageste no rosto e uma frase de efeito para mostrar o quanto ele não estava preocupado, e que obviamente pegava (sem se apegar) todas as mulheres que passavam no mesmo hectare que ele, mesmo as vilãs mais perversas e sem coração se derretiam por sua macho alfacidade.
Então, é, ok, eu consigo entender que havia um publico para isso nos anos 50, 60 e 70. Os filmes do 007 eram para os homens daquela época o que os animes de isekai são para os otakus hoje, uma fantasia de poder onde você pode se projetar no personagem tendo os seus sonhos mais loucos sendo realizados.
Entretanto atualmente as coisas mudaram, e personagens como James Bonde se tornaram... inconvenientes. Quer dizer, você ainda pode ter o seu macho alfa pegador se quiser fazer uma paródia ou um filme intencionalmente ruim, como Machete, por exemplo, mas ninguém mais leva a sério isso hoje em dia.
Mas então se o 007 não é o pegador invencível, então ele é o que? A coisa é que James Bond não tem muito por ele senão os seus feitos. Ele não tem uma personalidade, definitivamente não tem um arco de personagem, não tem um tema, não tem cenas de ação particularmente inspiradas, não tem dialogos profundos ou engraçados. Ele apenas... está lá.
No seu melhor, como em Skyfall por exemplo, ele apenas é "ok, legal", mas definitivamente não é um John Wick. A coisa é que mesmo nos anos 90 o James Bond não era muito mais que isso mesmo. E olha que não era dificil se destacar nos anos 90! Quer dizer, Vanilla Ice fez isso, qualé!
Talvez isso seja em grande parte porque eu cresci vendo paródias do personagem do que a coisa em si, quando o primeiro filme do 007 que eu assisti (007 contra Goldeneye, em 1995), já faziam seis anos que não era lançado um filme do agente secreto mais famoso do mundo (Licença para Matar, de 1989).
Outra coisa que pode ter influenciado bastante é que em 1988 havia sido lançado um filme que mudou a concepção que nós tinhamos de filmes de ação: Duro de Matar. Até Bruce Willis ficar preso em um prédio ultra moderno (para a época) com o professor Snape, heróis de filme de ação era suposto serem machões invencíveis e que superariam todos os desafios com um pé nas costas - o mesmo modelo criado por James Bond.
Só que John Mclanne era o completo oposto disso. Era um policial não tão bom assim, com um casamento ferrado e ele passa o filme todo se ferrando - a cena mais iconica do filme é justamente ele com ataduras nos pés, porque perdeu os sapatos e pisou em caco de vidro.
Ao invés da sua frasesinha de efeito de machão Hollywoodiano, John Mclanne tem muito mais um tom de "puta merda, eu só me fodo nessa porra mesmo que desgraça..." |
É um fandom que se retroalimenta do próprio fandom, e não porque o motivo do fandom existir em primeiro lugar ainda esteja lá. Mais ou menos o que a Disney está fazendo com Star Wars, mas essa é uma outra história...
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MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 008