quinta-feira, 30 de julho de 2020

[AÇÃO GAMES 051] PAC-ATTACK & DR. ROBOTNIK'S MEAN BEAN MACHINE (SNES e Mega Drive, 1994) [#448][#449]




Sabe, de todos os jogos lançados na minha vida, não consigo pensar em único que tem sido mais influente do que ... Tetris.
Quero dizer, porque existem videogames portateis hoje ou mesmo smartphones capazes de rodar jogos? Por causa de todo o sucesso que o Game Boy teve. Mas porque o Game Boy fez um sucesso tão intergaláctico quando outros videogames portateis como o Game Gear da Sega ou o Lynx da Atari falharam?

NÃO GASTAR 6 PILHAS POR DUAS HORA DE JOGO?


Bem, é, também. Porra Sega, vc me fode na entrada e na saída, né... mas então, além disso eu queria dizer que um dos grandes motivos que a Nintendo teve uma ideia puta genial que a fez sobreviver por mais de vinte anos. Isso porque ao invés de colocar um game do Mario no lançamento do console (como a Nintendo sempre fez até hoje), que seria a escolha óbvia, o jogo que vinha junto com o Game Boy era esse bad boy aqui:


Assim, o Game Boy não era apenas uma coisa para gamers. Sua mãe poderia pegar e jogar Tetris, a mãe da mãe dela poderia jogar Tetris. E todos queriam jogar Tetris, porque Tetris é Tetris, oras! Na verdade, as pessoas queriam tanto jogar Tetris que outros jogos se transformaram em Tetris.

De repente, houve um milhão de jogos famosos com uma versão sobre blocos caindo: Dr. Mario, Kirby Avalanche, Wario's Woods, Yoshi e Yoshi's Cookie (sim, tem dois jogos diferentes do Yoshi baseados em Tetris)... quero dizer, todos estavam na moda de blocos blocos. Inclusive o Pac-Man e Sonic.

Então, o interessante de todos esses jogos pós-Tetris ... é o quanto eles se esforçam para acrescentar alguma coisa diferente do que simplesmente copiar Tetris. As vezes essas ideias são mais ... criativas ... enquanto outras envolvem vem pouco esforço nisso. Nesse aspecto, Pac-Attack e Dr. Robotnik Mean Bean Machine são jogos bem diferentes. O primeiro tenta até demais ser um Tetris diferente, o segundo tenta de menos.

E como no fim do dia ambos são clones de Tetris, eu não vou fazer um post pra cada um, então veremos algumas coisas sobre Pac-Attacl e DRMBM

PAC-ATTACK



PAC-ATTACK não é bem exatamente Tetris. Ok, ele é tipo 90% Tetris, mas o que fica desse jogo é é nesses 10% que o jogo é diferente, porque essa parte é realmente algo novo. Não necessariamente bom, mas novo.

Então aqui está o negócio: isso é basicamente Tetris, os blocos cadentes caem, porque é isso que is os blocos cadentes fazem ... e se você preencher as linhas elas desaparecem. Mais uma vez, Tetris.

Só que a coisa aqui temos dois tipos de peças: os blocos e os fantasmas. Os blocos eliminam linhas e tal, a coisa padrão de Tetris. Mas o problema é: vê os pequenos fantasmas no meio dos blocos?



Veja, você não pode limpar as linhas, se elas tiverem fantasmas no meio. Os fantasmas basicamente quebram suas linhas. Porque fantasmas são como seu crush, eles apenas quebram seus sonhos. Então, de alguma forma, você tem que se livrar dos fantasmas, certo? Mas como fazemos isso?

Bem, Pac-Man os come. Porque o Pac-Man é como seu crush, ele apenas come tudo. Então o que acontece é que a cada fantasmas que você junta, você recebe um bloco do Pac-Man. Uma vez colocado, o bloco Pac-Man come qualquer fantasma em seu caminho, o que deixa os espaços  que você pode preencher com blocos e limpar as linhas. Parece simples, certo?

Sim, e parece muito legal em conceito também também. Teoricamente você tem que construir caminhos para o Pac-Man comer os fantasmas, então a Namco fez o melhor que pode para combinar Pac-Man com Tetris, o que realmente é uma ideia bacana. Porém, apenas um problema ... não é tão simples quanto parece.

Na verdade, é meio que uma dor.


Veja, Pac-Man anda em linha reta até bater em alguma coisa, então é muito dificil jogar Tetris normal fazendo linhas, mas ao mesmo tempo criando caminhos para o colocar o Pac-Man no lugar certo e fazer ele comer os fantasmas e manejando onde você vai largar o Pac-Man. Se você já jogou Tetris alguma vez na vida (e quem não jogou?) sabe o quanto isso já é dificil por si só, mas administrar todas essas outras coisas ao mesmo tempo é muito confuso e frustrante.

Não é algo que seja instantaneamente claro ou intuitivo. Tipo, mesmo quando você está colocando o Pac-Man, você nem sempre tem certeza de que ele irá do jeito que você quer que ele faça, é um pouco confuso com o pouco tempo que você tem para tomar decisões. E talvez fosse mais simples se 
você pudesse controlar o Pac-Man diretamente, mas então, novamente, talvez isso fosse fácil demais, eu não sei. 



O que eu sei é, o que deveria ser uma pequena reviravolta inteligente de Tetris ... acaba parecendo desleixado na execução. Ainda acho que é uma ideia muito legal, e não é um jogo ruim, de forma alguma, mas a jogabilidade nunca faz jus à ideia.

Mas ok. Tudo bem. Nada de errado com um Tetris-like decente, boa apresentação, tanto nos departamentos visual quanto de áudio. Se tivesse conseguido executar o que pretendia seria um jogo lembrado até hoje, e agora você sabe porque ninguém lembra mais de Pac-Attack.



DR. ROBOTINIK'S MEAN BEAN MACHINE





Obviamente houve uma reunião em algum lugar nos escritórios da Sega em que alguém sugeriu que o Dr. Robotnik deveria ter seu próprio jogo. A coisa estranha sobre personagens como o Dr. Robotnik - e eu me recuso a chamá-lo de Eggman - é que ele é claramente um vilão tosco que ninguém realmente queria ser. Ele é um personagem tão encharcado em sua própria inaptidão desde o primeiro dia que realmente é dificil imaginar como isso poderia dar certo.

Não que não ter como dar certo algum dia jamais deteve a Sega, mas digresso.

"O DR ROBOTNIK PRECISA DE SEU PRÓPRIO JOGO."
"Seu John Sega, eu não acho que as crianças realmente...”
“HUMANO TOLO. VOCÊ NÃO É PAGO PARA PENSAR!" 
"Achei que era pra isso que o departamento de ideias era pago... mas enfim, que tal dar a ele um jogo de plataforma onde ele se move em veículos ou algo assim?"
"DEMITAM O ESTAGIÁRIO QUE DISSE ISSO!"
"Hã, que tal então um jogo de corrida tipo Mario Kart então? Eu não sei chefe, realmente não tem muito com o que trabalhar com o Robotinik..."
"DEMITAM TODOS OS ESTAGIÁRIOS!"
"Um puzzle então... ?"
"DEMITAM OS CACHORROS DOS ESTAGIÁRIOS. E FAÇAM ESSE JOGO DE PUZZLE DO ROBOTINIK! É ISSO QUE AS CRIANÇAS QUEREM!".



Então foi assim, provavelmente, que alguém decidiu que a melhor coisa a fazer seria pegar uma franquia já existente - os clones de Tetris da série Puyo Puyo - e dar a ela uma roupagem de Sonic. Naquela época os cartoons de Sonic the Hedgehog estavam no ar, então eles pegaram alguns personagens da série de TV e mandaram bala. Infelizmente eles pegaram a série preguiçosa do Sonic feita nas coxas, não a boa - mas é meio que o que eu esperaria da Sega, de qualquer maneira.

Mas a ideia não foi até o fim e na verdade não jogamos o jogo como o Robotinik, não. Estamos jogando contra ele. Graças as coxas de Rika-sama por isso. Em vez disso, estamos interpretando um protagonista sem nome e sem rosto. Quero dizer ... poderia ser o Sonic ... mas o Sonic não é exatamente um jogador de puzzles para todos os efeitos. Poderia ser o Tails, ele faz mais o perfil puzzlogico e eu sempre sou a favor de jogos com raposinhas furriestraps... digo, eu sou sempre a favor de dar mais espaço a coadjuvantes interessantes, então no meu coração estamos jogando com o Tails.

Oh, espere, o manual diz que na verdade você joga com um bean que deve salvar seus colegas beans... que se chama HAS BEAN. Porra, pessoal. Eu não quero jogar com um personagem chamado HAS-BEAN. Eu não queria jogar como Robotnock, mas ainda é melhor em qualquer dia do que um personagem chamado HAS-BEAN. Sério. Vão se foderem!


Claro, porque eu iria querer jogar com uma raposinha jeitosinha e macia com cheiro de hortelã numa manhã de primavera quando eu posso jogar com uma amoeba geleca que vinha de brinde na Coca-Cola. Puta merda, vocês só me fodem a cara mesmo né Sega...

Enfim, de qualquer forma o objetivo do jogo é simplesmente sobreviver a um ataque de feijões mais do que o seu oponente. Se sua tela estiver cheia, acabou o jogo. Tetris básico, você sabe. 

A diferença é que ao invés você formar linhas, você tem que ligar 4 amoebas da mesma cor e, para ser honesto, é visualmente muito agradavel isso. A apresentação desse jogo é top: os bichinhos são fofinhos e eles ficam muito bonitinhos ligados. É uma coisa que fica gostosinha de se ver na tela, então kudos onde kudos são devidos para a Sega.



Bem ao estilo "atitude fuck yeah" da Sega, esse jogo só tem modo competitivo: você sempre está jogando contra outro jogador ou contra a máquina, onde a cada quatro amoebas eliminadas você manda uma pedra para o campo do oponente - cinco ou mais, ou combos, mandam mais pedras de uma vez. É uma das formulas mais simples de como fazer um clone de Tetris, a Sega realmente não tentou nada de especial nesse jogo senão a coisa de fazer as gelecas bonitinhas. Combine feijões, enxague,  repita.

Realmente não tem muito como errar aqui, e esse jogo é funcional para dois jogadores. Acho que a Sega errou a mão na velocidade do jogo, o modo "fácil" dele já é rápido o suficiente, e as partidas rapidamente degringolam para a velocidade injogavel. Não é ruim, mas o tempo que você consegue aproveitar o jogo jogando contra um amigo é muito, muito curto.

Chame-me de louco se quiser, mas eu gosto pode poder jogar os meus jogos e não ser enxotado dele o mais rápido possível como se fosse um arcade sedento por fichas. É realmente frustrante. Como eu disse não tem muito como errar com um Tetris-like competitivo, mas de alguma forma a Sega conseguiu isso. 

Parabéns a todos os envolvidos.



Mas se o modo para dois jogadores pode ser descrito como "pouco divertido", o modo single player não pode ser descrito como nada senão ATENTADO CONTRA O JOGADOR

Veja, esse é um dos únicos jogos de puzzle Tetris-like em que seu modo padrão é exclusivamente competitivo. Você não está apenas trabalhando contra os blocos caindo, mas também contra um oponente do computador quem você tem que derrotar conscientemente.

Como tal, apenas manter sua pilha baixa não será bom o suficiente; você tem que projetar reações em cadeia, você deve ter um plano de ataque em mente, deve ficar de olho em sua pilha para determinar o melhor momento para atacar, é certamente uma dinâmica interessante. Na teoria. 

Porque na prática, o que você tem é isso:


Esse é um dos jogos mais inclementes e dificeis que eu já vi na minha vida. Antes que você consiga  setar seu combo, respirar ou apenas existir quanticamente, o computador faz combo atrás de combo como se estivesse sendo pago por isso.

Sério, mesmo jogando no fácil o computador joga pedras em você como se você tivesse feito aviãozinho de papel com o Alcorão no Oriente Médio. Eu não estou de sacanagem com você, se a velocidade do jogo já tornava a coisa pouco agradavel no modo dois jogadores, no modo singleplayer a coisa é de uma raiva contra o jogador que eu não via desde o menino do Kamen Rider Zero One que odeia Human Gears... e muitas outras coisas, aquele menino tem problemas sérios de raiva... mas o meu ponto é que mesmo no easy o jogo não dá sossego, ele não dá um segundo pras ideias.

Sério:


AH COME FUCKING ON!

O jogo é tão dificil, mas tão dificil que o jogo dá passwords após cada batalha. Imagine um jogo de luta que o jogo desse passwords depois de cada luta. Uma empresa só faria isso se eles soubessem que o jogador só tem uma chance em cem milhões de realmente vencer. Você sabe que ferrou de verde e amarelo o seu jogo quando precisa colocar uma opção desse tipo.

Para um jogo que apenas mal e porcamente fazia o minimo aceitavel forçando a amizade, é a pá de cal que faltava. Como de costume, quando a Sega não faz na entrada, faz na saída.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 051


Edição 067


Edição 142 (Agosto de 1999)



MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 009


Edição 014



Edição 041