terça-feira, 7 de julho de 2020

[AÇÃO GAMES 036] JOURNEY FROM DARKNESS: STRIDER RETURNS (Mega Drive, 1993) [#426]

 


Então chegamos aquele momento muito especial de jogar o jogo que é capa dessa edição da Ação Games, e acho que não preciso me preocupar quanto a isso já que uma revista que preza pela sua credibilidade tem um cuidado criterioso sobre qual jogo colocar na capa, e sabe que sua reputação vai ficar eternamente manchada por colocar jogos que são uma bosta praticamente injogaveis...


... hã ...


... err...


... ah, fuck. To ferrado, né?



Mas antes do sofrimento, um pouco de contexto: o jogo Strider original é um arcade de 1988 que foi portado para Mega Drive com uma capa ridicula, embora hoje o persoangem seja mais conhecido por fazer parte da série de jogos Marvel vs Capcom.

Sério, é surpreendente que alguém tenha comprado um jogo com essa capa
Então estamos agora em 1993, a Sega está lá fazendo suas coisas, segando como sempre, quando decide ligar para a Capcom e perguntar se eles tinham plano de algum dia fazer um Strider 2. A Capcom polidamente respondeu que NEM FODENDO, embora aquele jogo fosse legal para sua época, precisaria de muito trabalho para ser adequado para a geração atual e eles estavam ocupados demais se esfregando com o dinheiro que ganhavam de Mega Man e Street Fighter.

Plano B, a Sega então perguntou se eles se importariam se ela fizesse um jogo do Strider, e uma das coisas que a Capcom nunca foi contra é ganhar uma porcentagem de vendas de um jogo sem fazer esforço nenhum. Assim, a Sega adquiriu os direitos para fazer um jogo de Strider sem a mão da criadora original e repassou a sua subsidiária US Gold. A second party, por sua vez, também sabonetou os direitos de fazer o jogo e assim ele acabou na mão da Tiertex.

A Tiertex, por sua vez, estava fazendo OUTRO jogo chamado T.O.R. - “Transforming Overland Robot”, quando recebeu a ligação da US Gold. Rapidamente eles mudaram os sprites para imagens reaproveitadas do primeiro jogo e badabing, novo jogo.

Ah, mas quem é a Tiertex? Bem, ESSA é a Tiertex:


Isso mesmo. A empresa responsavel por esse colosso, perola, legado, marco da história dos videogames, nada menos que The Flintstones do Master System! Mais conhecido como jogo que você tem a primeira fase é pintar a parede com uma criança dentro da sala e a segunda é trocar o pneu do carro. ESSA é a Tiertex.

Como diria o grande filosofo, o que POSSIVELMENTE poderia dar errado?



Mas ok, vamos lá. Strider original é baseado em um manga dos anos 80, que se passa no (então) futurista ano de 1998 e fala sobre uma força tarefa de cyber ninjas que resolvem embroglios diplomáticos e outras situações de tensão entre os Estados Unidos e a Russia sem que os dois países precisem começar uma guerra nuclear no processo. Você precisa que alguém seja resgatado das garras do governo russo mas não pode mandar seus soldados porque isso começaria uma guerra? Striders servem para isso!

Bem, diante desta pequena recaptulação, tenho certeza que a Tiertex assimilou o espirito da coisa e nos entregará uma história a altura e de forma alguma eles vão tentar anosnoventificar tudo... quem eu estou querendo enganar, é exatamente isso que eles vão fazer.


Anos 90, sério, só uma pergunta, só uma mesmo:


Mas enfim, é hora do Strider Dude rumble on, e para isso... ele usa um ataque que até hoje eu não entendi. Sério. No jogo original o Strider Dude usava usa espada, dando aquele arco branco iconico da série. Aqui, no entanto...


Não é um corte de espada, ele dá um soco e... uma coisa branca aparece? Ele tem a maior unha do mundo? Provavelmente jamais saberemos. Falando em ataque, em adição ao seu espadão iconico nesse jogo o menino Strider também ganhou aquele que eu considero o pior ataque da história dos videogames!

Sério, agora ele atira uma shuriken, só que ela tem alcance igual a sua espada (que alcança a tela toda mesmo), é infinitamente mais lenta para arremessar e causa 1/4 do dano. Ou seja, NÃO EXISTE UM ÚNICO MOTIVO, RAZÃO OU CIRCUNSTANCIA PARA VOCÊ USAR ESSA DESGRAÇA EM QUALQUER DIA DA SEMANA! Show de bola, começamos bem. Definitivamente começamos bem.

Fácil pra vc dizer, prisioneira sexualmente sugestiva. As vozes digitalizadas com frases bregas entre as fases são tão ruins que são engraçadas, pelo menos. 
Seja qual for o seu ataque, é bom utiliza-lo bastante de qualquer forma porque essa é a única coisa rápida no jogo: todos seus movimentos são dolorosamente lentos, e OU o jogo se passa embaixo d'água na Lua, ou algo muito errado aconteceu na programação desse jogo.

Mesmo para o Mega Drive, não tem tanta coisa acontecendo na tela para o jogo ser lento desse jeito, mas aqui só de você ANDAR o jogo entra em slowdown! Puta merda, é como assistir o jogo todo a uma velocidade 0,25!

Fun fact: no jogo original desenvolvido pela Tiertex, T.O.R., o herói do jogo se transformava em robo quando ia enfrentar os chefes. Me pergunto porque não mantiveram isso...

O tempo limite que tem nas fases, entretanto, não compartilha dessa lentidão e o resultado é que você mal tem tempo para chegar ao final da fase antes que o tempo acabe. Na verdade, se você parar de se mover por um instante sequer, não vai dar tempo. O que é isso, Strider é o tubarão mais lento de todos os tempos agora?

Mas tudo bem, não é como se eles tivessem piorado isso fazendo o jogo repleto de fases labirinticas que são compostas por 90% de becos sem saída ou buracos que se você errar seu pulo absurdamente sem timing vai levar muito tempo para voltar e...



FILHOS DA PUTA, QUE TIPO DE DOENTE COLOCA LASERS PROTEGENDO UM BECO SEM SAÍDA?! E LASERS COM INTERVALO DE TEMPO PRA TE FAZER PERDER MAIS TEMPO AINDA POR CIMA!

Strider 2 é um daqueles jogos que gosta de brincar de "Aha! Te peguei!" com o jogador, e ele faz isso gastando seu tempo que já não é suficiente com um level design deliberadamente filho da puta.


Ok, falta só 49 segundos, mas acho que é por aqui...


Tem um inimigo que tem que esperar ele brotar do chão (literalmente), lá se vai mais tempo, mas se tem inimigos devo estar no caminho certo pelo menos...


Beco sem saída! AH VAI A MERDA PORRA! O que mais falta eles estragarem nesse jogo? As lutas com os chefes?

Bem, sim. Exatamente isso. Durante a fase você coleta power ups chamados "orb" (a segunda barra amarela), quando você encontra o chefe ela ativa automaticamente e...


... que causam dano no chefe sozinhas. Oh, claro, lutar com os chefes automaticamente, que ideia maravilhosa. Verdade seja dita, com os controles lentos desse jogo isso ajuda, mas eis aqui uma dica singela sobre como fazer uma luta de chefe: NÃO FAÇA UM JOGO COM CONTROLES TÃO RUINS QUE A MELHOR OPÇÃO É ELE SE RESOLVER SOZINHO!

Meu deus, precisa ser um genio para deduzir uma coisa dessas?


Além de reutilizar dos gráficos do primeiro jogo só mudando as cores, ele também importa a característica mais irritante do Strider original e que totalmente deveria ter sido corrigida: o salto travado. Quando você aperta o botão de pulo, ele dá essa pirueta para frente sempre na mesma distancia, sempre na mesma altura. Isso elimina completamente sua capacidade de reagir aos perigos da fase.

AH C'MON!!!

Não é bom, mas é compreensível em um arcade dos anos 80. Em um jogo da metade de 93, absolutamente fucking não.

- Você é o último chefe do jogo anterior. 
- Sim, e daí?
- Escuta, eu já destruí você no outro jogo. Você não pode apenas voltar para ser chefe a cada duas fases sem explicação nenhuma só pq os caras estavam com preguiça de criar uma coisa nova
- Se Star Wars fez exatamente isso, pq eu não posso?
- Ok, justo o bastante...

Mas como, como eu te rogo um jogo pode ter saído TÃO errado assim? Ainda mais um baseado em um jogo que, enquanto mesmo em 1993 já era datado, era pelo menos funcional?

Bem, o site LCS Mainframe fez de fato uma entrevista com o criador do jogo, Allan Findlay e obteve algumas respostas interessantes:


Uau, foi o primeiro jogo programado pelo coitado e programado usando uma engine de Amiga ainda por cima? Eu totalmente entendo o que deu errado nesse jogo agora. Absolutamente tudo. Desde o primeiro instante desse projeto.

De fato, Strider Returns é um jogo tão ruim, mas tão ruim, que quando o personagem Strider voltou a ser popular graças a sua participação nos jogos Marvel vs Capcom, a Capcom aproveitou para capitalizar em cima do sucesso e lançou em 1999 para o Playstation 1 o jogo STRIDER 2!

Sim, a Capcom lançou Strider 2 seis anos depois desse jogo, ou seja, eles absolutamente ignoram a existencia dessa abominação. Como qualquer cidadão de bem deveria.



VERSÃO PARA MASTER SYSTEM 
EDIÇÃO 045