quarta-feira, 22 de julho de 2020

[AÇÃO GAMES 055] HIGH SEAS HAVOC (Mega Drive, 1994) [#442]




Sabe o que eu acho estranho a respeito dos anos 90?

PREVEJO QUE LÁ VEM MAIS UM POST FALANDO DA SEGA...


E não estamos todos nós, o tempo todo?

NÃO. NA VERDADE NINGUÉM MAIS FALA DA SEGA E EU NÃO ACHO QUE ESSA OBSESSÃO SEJA SAUDÁVEL...

Dicas de saúde mental vindas da voz na minha cabeça, agora eu já vi tudo... mas enfim, eu dizia que das coisas estranhas dos anos 90, uma das que mais me chama atenção é a modinha de mascotes-clones do Sonic. Quer dizer, eu não acho que a parte de tentar copiar o Sonic é estranha: um jogo ruim que fez um sucesso monstruoso sem esforço maior do que o personagem ter um visual de "atitude" se tornou o cálice sagrado das desenvolvedoras ruins.

Capa japonesa
Pouco esforço, nenhum talento necessário, muito lucro. A Sega criou o sonho. Porém não é isso realmente que me parece estranho, isso é apenas esperado. O que é estranho é que todos esses "Sonic clones" são, com apenas uma exceção, piores do que o jogo original! Faria sentido se estivessemos falando de um jogo bom, é apenas esperado que os clones de Mega Man ou Mario sejam inferiores ao original, mas no caso de Sonic... a barra não é exatamente alta, né?

E ainda sim, de uma forma ou outra, todos os jogos de plataforma que tentam "gotta go fast" falham miseravel, colossal, espetacularmente. Uma coisa tão simples de fazer (ser melhor que Sonic) e ainda sim falhava vez e vez novamente, o legado da grande intenção que os "bons e velhos tempos" nos deixaram.

Mas... e se uma empresa não decidisse apenas, você sabe, não ferrar a porra toda? Foi a ideia que a Data East teve. Até certo ponto.

Eu não tenho certeza se a capa australiana do jogo entendeu muito bem o espirito da coisa...
Havoc do Mar Alto é um jogo de plataforma em que o protagonista é um animal antropomorfico azul que se move ao estilo gottagofast e seu ataque é pular na forma de uma bolinha na cabeça dos inimigos. Todos os botões do jogo só pulam, igual a Sonic também. A grande coisa aqui é que, ao contrário de todas as outras,  a Data East efetivamente estudou Sonic e tentou replicar o que funciona naquele jogo.

Sapatos pontudos, check. Cara de entediado pra mostrar o quanto ele é cool, check.

Por exemplo, Sonic é um jogo muito bonito. Isso não pode ser tirado da Sega, especialmente com a paleta de cores limitadas do Mega Drive chama atenção o quão vistoso esse jogo é. Então o que a Data East fez? Não economizou em valores de produção.



Havoc é um jogo bastante bonito de se olhar, dos Sonic-clones é um dos mais estéticamente agradaveis de se olhar - com o bonus de ter cutscenes fofinhas de bichinhos bonitinhos fazendo coisas fofinhas

OU SEJA, OS FURRIES PIRAM...

Caham... hãm... então, nossa história se passa em um mundo de fantasia existe uma esmeralda mágica chamada, bem, "Esmeralda Mágica". Esse item tem o poder de ser... mágico. O que isso significa, exatamente, jamais é explicado exatamente já que a Data East estava no ramo de tirar grana fácil de infelizes donos de consoles da Sega, não de entrar na Academia Brasileira de Letras.


O maligno pirata Bernardo descobriu as propriedades mágicas da Esmeralda, sejam elas quais forem, para... fazer coisas de piratas malignos mágicos... eu acho? Esse jogo não me dá muito com o que trabalhar realmente...


Parelelo a isso, nosso herói - o pirata de nobre coração que vai todos os dias ao bosque recolher lenha Havoc e seu sidekick de fraldas estão fazendo coisas não especificadas, mas que podemos ter certeza que envolvem meter espadada em porcos e levar bebês de fraldas para cenários de carnificina. O que parece algo bem piratesco realmente, tenho que dar isso a eles.

Seja como for, a vida de Havoc e Marezinha mudam radialmente quando a nação dos furries atacou:


AGORA ENTENDI PORQUE VOCÊ ELOGIOU OS GRÁFICOS DESSE JOGO

Caham... então... de qualquer forma, uma curiosidade é que esse jogo foi desenvolvido ao mesmo tempo que Sonic CD. Então essa mocinha parece uma cópia safada da Amy Rose, mas é mais um caso de que meninas furries antropormoficas rosas estão ligadas a mascotes azuis rápidos no inconsciente coletivo japonês. The more you know...


Ao encontrar a novinha desmaiada na praia, Havoc fez o que qualquer cidadão de bem faria: a colocou embaixo do braço e a levou para sua cama.

VOCÊ REALMENTE PRECISA COLOCAR AS COISAS DESSA FORMA?

Absolutamente. Enfim, a novinha rosa se chama Bridget e ela é a guardiã do único mapa até a Esmeralda Mágica. O que faz dela uma guardiã bem ruim se ela sai dizendo isso assim e até mostra o mapa para piratas que ela acabou de conhecer.


Havoc então tem os dias de sua vida, tendo agradaveis momentos com uma waifu  furry que faz sanduíches para ele. Havoc is living the dream, man. Porém como não há história se a desgraça não atingir nossos heróis, é apenas questão de tempo até os homens... digo, bichos... de Bernardo encontrarem este pequeno paraíso na Terra e sequestrarem Bridget para obter a localização da Esmeralda Mágica


Oh noes! Mova-se Havoc! Salve sua waifu rosada, macia e felpuda e que tem cheiro de mousse de morango numa manhã gelada de primavera! Hã... eu disse isso em voz alta?

SUPONHO QUE VOCÊ JÁ ESTEJA CIENTE DISSO A ESSE PONTO, MAS VOCÊ PRECISA DE AJUDA. SÉRIO.

Não creio que a psiquiatria esteja avançada o suficiente para poder me ajudar, mas de qualquer jeito o ponto aqui não é esse e sim que Havoc é um jogo bastante bonito mesmo. O que nos remete ao ponto que eu estava explanando antes da fantasia inebriante de waifus furries...

VOCÊ TEM RAZÃO, NÃO TEM TRATAMENTO PRA ISSO NÃO

... que era fazer Sonic só que melhor do que Sonic. Gráficos resolvidos, o próximo passo é: jogabilidade. Então a pergunta de um milhão de Sega Activators é: esse jogo controla melhor que Sonic?

A resposta é... sim, bastante. Sabe aquela coisa que o Sonic é rápido quando está correndo, mas demora para pegar embalo e se ele tem que pular parado (o que é mais da metade dos pulos em um jogo de plataforma) parece que você está jogando com o Leandro Hassum no começo da carreira?



Então a Data East olhou isso e tomou a decisão louca de, você sabe, NÃO fazer isso. Havoc não parece que tem uma trolha de ferro na canela pesando ele pra baixo e apenas isso já faz esse jogo mais bem pensado que Sonic. Adicione a isso fases que são desenhadas com bastante espaço livre para correr e pular e temos um jogo que estruturalmente, por definição e conceito deveria funcionar melhor que o jogo que ele tentava imitar.

ESPERA, "DEVERIA"?

Pois é... então, Havoc resolve os dois maiores defeitos dos jogos de Sonic: o peso do personagem e o level design (ou seja: jogabilidade e as fases, mais conhecido como "TUDO" em um jogo) e isso é incrível, agradavel, pimponeta. O problema é que, bem, a Data East inventou um problema onde não havia nenhum até então.

A Data East achou que seu mascote precisava de mais "atitude", então ele não apenas pula nos inimigos: se você apertar pulo de novo no ar, Havoc dá um tipo de voadeira, flash kick, sei lá que merda é essa, mas o ponto é que ele dá um kung fu voando. E isso é que fode o jogo.

Alguns inimigos morrem só pulando na cabeça deles, outros (como os chefes) precisam levar essa voadeira e existem ainda alguns que causam dano se você pular neles normalmente e só podem ser "voaderados".



Como você sabe? Bastante simples: não sabe. Mas ok, se não tem como saber, não é mais seguro então só dar o golpe da voadeira em todo mundo e esquecer que o "só pulo" existe como forma de ataque?

Bem, sim, mas na verdade não.

Quando você apenas pula na cabeça dos inimigos o momentum do personagem é mantido e você consegue continuar avançando. Na verdade, alguns trechos exigem que você pule em vários inimigos em sequencia para avançar e isso só é possível com o pulo "normal". Adicionalmente, a fisica do jogo é bastante gostosinha e é satisfatório pular nos inimigos.



Diferente disso, usar a voadeira interrompe o fluxo do jogo. Seu personagem trava e cai sem que você possa manobrar... exatamente o que acontece quando você toma dano. Deixa eu explicar de novo: atacar os inimigos faz seu personagem parar de responder e reage como se você tivesse tomado um hit.

Não é preciso ser realmente criativo para ver como isso pode dar muito, muito errado em um jogo de plataforma. Não apenas quebra o fluxo do jogo como efetivamente interrompe a jogabilidade. Isso torna Havoc um jogo muito, muito mais dificil do que ele foi desenhado para ser porque você tem que enfrentar os desafios da fase e os chefes ao mesmo tempo que luta contra os controles.

Essa sequencia de pulinhos é muito satisfatória de fazer, mas aí o jogo atira no pé impedido voce fazer isso na metade das vezes ou mais por causa da porcaria da voadera que mata o ritmo do jogo
Ah, e só pra terminar de foder com a sua vida, a detecção de colisão da voadera é uma desgraça e você nunca tem certeza realmente se o ataque vai pegar ou não. Aí não dá, né amici?

É impressionante como uma pequena decisão infeliz nessa doença dos anos 90 de querer fazer um jogo mais "radical e irado" que o outro cagou um jogo que de outra forma deveria ter sido muito bom. Eu sei lá, ou tinham agentes ninjas infiltrados da Sega no meio para garantir que nenhum jogo seria menos pior que o jogo ruim que eles vendiam como carro chefe. Parece totalmente algo que a Sega faria.

Edição 055



Edição 001