sexta-feira, 31 de julho de 2020

[AÇÃO GAMES 037] FINAL FIGHT 2 (SNES, 1993) [#450]




Final Fight de 1989 é o jogo que catapultou os beat'm ups ao estrelato nos fliperamas (embora não tenha sido o primeiro grande título do genero, essa glória pertencendo a Double Dragon e Nekketsu Kōha Kunio-kun da Tecmo, Renegade no ocidente) mas a grande verdade é que eu nunca fui um grande fã de beat'm ups (a coisa que mais me atrai nele é o cooperativo, algo não tão comum nessa época) ou de Final Fight em geral.

Definitivamente a coisa que eu mais gosto de Final Fight é o seu cenário, mas já chegaremos a isso. Quando Final Fight de arcade foi lançado, todo mundo estranhou que nunca houve uma sequencia para os arcades desse jogo. Quer dizer, era praticamente uma licença para imprimir dinheiro, todo mundo ia querer jogar saporra e a menos que o jogo fosse horrivelmente ruim, todo mundo ia gostar porque começar com a predisposição favoravel do público é a coisa mais importante para o seu produto.

Pois bem, apenas 4 anos depois do primeiro jogo Final Fight 2 saiu, e então finalmente todo mundo entendeu porque nunca houve um segundo arcade desse jogo:



A Nintendo usou seu bom relacionamento com a Capcom e uma pilha de dinheiro maior do que quinze doguinhos empilhados para garantir que a sequencia de Final Fight fosse exclusiva do SNES, nem mesmo para o Arcade foi lançada.

E, acreditem ou não, esse foi um dos raros momentos na história dos videogames que a Sega se deu bem. Isso porque a esse ponto a Sega não precisava mais de Final Fight, ela havia criado sua própria franquia de beat'm ups e nessa altura do campeonato Streets of Rage estava muito bem, obrigado. Com efeito, STREETS OF RAGE 2 é melhor que Final Fight 2. Bem melhor, e isso é algo que eu não digo levianamente das coisas feitas pela Sega. Aproveitem.

Embora eu costume defender que as capas japonesas dos jogos são melhores que as americanas, e mesmo que essa tenha coxas e sideboobs, não tem um  Fred Mercury bombadão com cabelo de Super Homem fazendo flex enquanto dá uma voadora com os dois pés. Você venceu essa rodada, América.

A melhor coisa a respeito de Final Fight, como eu disse, é sua história, então vamos aí. Mas primeiro, é necessário recapitular os acontecimentos do primeiro jogo porque eles são muito interessantes: o novo prefeito de Metro City, Miky Haggar, começou uma campanha que estava limpando as ruas do crime. Claro que os criminosos não ficaram satisfeitos com isso, e como retaliação sequestraram a filha do prefeito para ele parar com isso.

O que na teoria poderia até funcionar, não fosse o fato de eles não levarem em conta que o prefeito , e pai da sequestrada, era ESSE cara:   


O namorado dela, que por acaso é um ex-presidiário, é ESSE cara:


E o melhor amigo dela, que por acaso é UM NINJA DE VERDADE, é esse cara:


Porra Mad Gear, na moralzinha, heim:


Vocês sequestraram a pessoa menos sequestrável da história da raça humana, obtendo com isso resultados altamente previsiveis:


Esse, sendo arremessado da janela do oitavo andar por um gancho, era o líder da Mag Gear, Belgar. Novamente, eu não vejo como qualquer um poderia esperar qualquer resultado diferente. Bem, após limpar todos os punks de Metro City com seus punhos e eu não estou falando de banhos de esponja, nossos heróis viveram felizes para sempre.

Haggar voltou a ser o maior prefeito da história de Metro City (literalmente), a agora ex-sequestrada Jéssica e sey s2 Cody sairam em uma romantica viagem de férias e nosso ninja Guy foi pra putaquepariu do oeste melhorar suas skills de ninjutsu. Tudo acaba bem quando tudo acaba bem.

Novamente, olha o tamanho desses caras. Seria o equivalente a você tentar sequestrar a neta do Vince Mcmahon, depois tá levando pilão do Braum Strauman e da Ronda Rausey e não sabe pq.


Ou teria acabado, não fosse o fato que a Mad Gear (o que sobrou dela fora de Metro City, isso é) se prova a organização capaz de tomar decisões piores que o departamento comercial da SEGA, e decide que essa abaixada de guarda de nossos heróis é o momento exato para imprimir sua VINGAAAAAAAAANÇA. E você achando que Hitler atacar a Rússia no inverno tinha sido a maior demonstração de não ter aprendido uma lição na história da humanidade.

E como eles decidem se vingar, você pergunta?


Bastante simples: eles decidem deixar Jéssica em paz dessa vez, e sequestram a noiva de Guy e o pai dela, que também foi o sensei de nosso amigo ninja. Como Guy não estava em lugar algum para ser encontrado, é o plano perfeito, certo? Ceeeeeeeeeerto?

Hã... então...


A ruína da Mad Gear foi ter esquecido de fazer a lição de casa, porque se tivesse estudado saberiam que a sequestrada tinha uma irmã. Mais especificamente, uma irmã que é NINJA. Gente, parem de se meter com entes de ninjas, depois você passa a eternidade enterrado vivo em um buraco se perguntando o que diabos aconteceu.

Enfim, Maki - a nossa ninja em questão - fez o que qualquer pessoa racional faria (ou seja, não a Mad Gear): ligou para o prefeito Haggar e disse "hey, tu tem experiencia com esses caras da Mad Gear, bora fazer patê deles com as mãos em escala global?".

Obviamente que Haggar aceitou, porque nenhum prefeito dos anos 90 que se preze pode deixar passar a chance de sentir o gosto de miolos de punks entre suas falanges. Sim, prefeitos possuem sensores gustativos em suas falanges, não pergunte.



Porém nossa equipe não está completa, claro que não! Porque mal sabia a Mad Gear que dessa vez Mike Haggar não iria sozinho... não que ele tenha ido na outra, mas enfim... porque se existe uma prefeitura no mundo, lá havera um brasileiro mamando um carguinho de CC. E Metro City não é exceção, onde o brasileiro Carlos Miyamoto estava de boas na lagoa quando ouviu que seu chefe ia viajar e ganhar diárias pra caralho. 

Os instintos aspones de Carlos dispararam, e imediatamente ele se voluntariou para ir junto com o chefe e todas aquelas maravilhosas diárias barbadinhas.


Adicionalmente, como bom brasileiro Carlos também é um bolsominion e a razão de existir dos bolsominios é odiar pessoas. Pra convencer um a sair pelo mundo espancando cada ser vivo que encontrar pela frente não precisa muito, realmente. Juntou a fome com a vontade de comer.

Ou nesse caso, com um chefe que odeia tanto a Mad Gear que seus olhos pegam fogo. Uau, é realmente preciso ter muito ódio no coração para fazer seus olhos irem full Illidan, eu te digo. 


Nossos três ferozes guerreiros partem para a batalha, e eles aderem à habitual trindade de beat'm ups: um rápido que causa menos dano, um mais lento mais forte e o cara mediano - estes sendo Maki, Haggar e Carlos, respectivamente.


A coisa de Final Fight 2, enquanto jogo, é que se aplica a ele EXATAMENTE o que eu disse de DUCKTALES 2

DuckTales Final Fight de 1989 é, literalmente, o melhor que dava pra fazer em um videojogo naquela época. É o crem de la crem de sua década, é o epiteto de um zeitergeist. DuckTales 2 Final Fight 2, lançado quatro anos depois, não faz nada particularmente errado (bem, exceto pela trilha sonora ser dolorsamente esquecível), apenas... é o mesmo jogo de 1989 quatro anos depois.

Final Fight 2 é exatamente o mesmo jogo de 1989, lançado em 1993. Só que o cenário de games de 1993 é diferente do de 1989: em sua época Final Fight consagrou o genero como sucesso dos arcades, mesmo sendo um jogo extremamente simples. Quatro anos depois a formula avançou, evoluiu, se adaptou as necessidades... e Final Fight permaneceu congelado no tempo.

Tem uma cena em que você fica em um elevador enquanto os inimigos saltam para lutar com você, porque esse é um beat'm up da Capcom e eles são contratualmente obrigados a fazer isso. Sabe conhece aquela parte de Watchmen onde Rorschach diz: "Eu não estou trancado aqui com vocês, vocês estão trancados aqui comigo"? Basicamente isso.

Sonic Blastman tenta uma abordagem mais técnica das mecanicas de beat'm up, STREETS OF RAGE 2 oferece gameplays diferentes com personagens diferentes, ALIEN VS PREDATOR usa o sistema de armas para dar uma apimentada nas coisas... mas Final Fight ainda é o beat'm up extremamente primitivo que foi quatro anos atrás.

Isso não é ruim, Final Fight 2 não é um jogo ruim e dar pilões giratórios com um prefeito de 200kg sempre será divertido, apenas que não é remotamente relevante como seu antecessor foi.

Chun-Li tranquilamente comendo seu lamen do Naruto enquanto um brasileiro aspone chuta os punks da sua cidade na boca. "Heh, então existem brasileiros mesmo que não são verdes", ela pensa.
Bem, eu disse que Final Fight 2 era basicamente o mesmo jogo que o primeiro, mas isso não é inteiramente verdade. Isso porque Final Fight 2 foi lançado em um contexto histórico muito específico: em junho de 1993 os Estados Unidos estavam no meio do shitstorm das discussões no Senado sobre a censura ou não dos videojogos por causa de violencia e sexualidade. Toda confusão causada por MORTAL KOMBAT e principalmente NIGHT TRAP   

Isso significa que a situação politica fez a Capcom se sentir bastante desconfortavel em colocar inimigas mulheres para serem espancadas nesse jogo, então na versão americana do jogo todas as NPCs mulheres foram substituídas por color swaps dos inimigos homens do jogo.


Dessa forma, para não ser acusada da promover "violência contra a mulher" e tambémpara agradar os bons valores puritanos americanos, todas personagens femininas do jogo - a exceção da protagonista Maki - foram removidas do jogo. Para um jogo que já tinha uma variedade terrivelmente baixa de inimigos foi reduzido a um exercicio ridiculo de espancar os mesmos seis caras e todo seu exército de clones. 

Se Final Fight 2 já parecia um jogo bastante simplista para os padrões de 1993, toda essa situação levou a coisa a um status de ridiculo.

Porém, verdade seja dita, não foi a coisa mais ridicula que já aconteceu com Final Fight. Na versão original do arcade havia uma inimiga, uma punk ultra sexualizada chamada Poison.


Para evitar toda coisa de ser acusada de promover violencia contra a mulher, no manual do primeiro Final Fight para versões domésticas foi alterado que Poison não era mulher-mulher, e sim uma personsagem trans. Por que aí tudo bem, espancar trans é algo totalmente aceitavel.

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Bem vindos a lógica dos anos 90, senhoras e senhores. Bem, algumas pessoas argumentarão que esse acabou sendo um ótimo upgrade (ainda que involuntário) na hotness da personagem.


Enfim, quando o primeiro Final Fight foi portado para SNES, muita gente ficou desapontada. O jogo ser single player apenas, ter fases e um personagem faltando foi bastante frustrante. Esses problemas não se repetem em  Final Fight 2. 

Um ponto a favor do jogo é a variedade do cenários, que se passam em vários lugares do mundo. Como essa fase na Holanda, por exemplo... espera, essa é a Holanda? Djizuz Christ, não é atoa que eles liberem as drogas...

Coop para dois jogadores e três personagens diferentes, seis fases sólidas, ninguém fica desapontado. Mas o jogo não vai muito mais além disso. É bom que a Capcom tenha corrigido as falhas do port doméstico do original, mas quatro anos depois era necessário ir além. Em essência, Final Fight 2 seria  muito menos um jogo novo e mais um DLC do primeiro jogo se tal coisa houvesse na época, pois eles são basicamente o mesmo jogo - Maki e Carlos jogam da mesma forma que Guy e Cody até.

Isso meio que derrota o ponto de introduzir novos personagens, se forem para ser iguais aos antigos. Apesar de fases ao redor do mundo, até o final do primeiro nível você terá visto todos os inimigos do jogo. Mais um pra grande categoria de "não é ruim, mas eu também não usaria uma palavra como bom" tão comum nesse ponto das coisas em 1993

Para surpresa de absolutamente zero pessoas, Maki é uma ninja que não presa exatamente pela discrição. Verdade seja dita, a este ponto estou começando a achar que os ninjas do mundo real é que não entenderam bem o que significa ser um ninja com essa coisa de "não chamar atenção".