sexta-feira, 24 de julho de 2020

[AÇÃO GAMES 055] ASTERIX AND THE GREAT RESCUE (Mega Drive, 1994)[#443]





Uma das coisas que mais me alegra neste projeto é o quanto de coisas novas eu aprendo fazendo isso. E eu digo não apenas sobre videogames - eu achava que sabia bastante sobre games dos anos 90, descubro a cada dia o quanto eu não sabia - mas sobre varias coisas em geral. Por exemplo, eu sabia que Asterix era bastante popular na Europa, e frequentemente eu comparo a popularidade da Turma da Monica no Brasil.

Bem, isso não é exatamente correto. Isso porque Asterix é muito, mas MUITO mais popular na Europa do que eu sequer poderia ter concebido porque seja se não temos MAIS UM jogo de Asterix em tão pouco espaço de tempo? Caralho, eu realmente não fazia a mais remota ideia de que havia sequer demanda para tantos jogos assim do baixinho gaulês pistola e seu amigo fortão. Tantos, de fato, que eu não tenho muito mais a dizer a respeito de Asterix do que eu já disse em tantos outros jogos da série.


Internet... internet never changes
Ao ponto que meu primeiro instinto foi pular esse jogo porque, bem, porque não? Via de regra são jogos de plataforma mais ou menos parecidos e, a exceção do primeiro para Master System que é realmente bom, são jogos mais ou menos intercambiaveis entre si. Não são hediondos, são funcionais e não muito mais que isso. Então pra que escrever sobre mais um jogo de Asterix (o quinto em um ano e meio)? Não tem realmente razão disso.

Porém, só por desencargo de consciencia, eu decidi jogar o jogo mesmo assim porque né? E o que eu vi me fez mudar inteiramente de ideia. Eu vi coisas que não podem ser desvistas.



Quando você joga um jogo do Asterix feito pela Sega, você sabe mais ou menos o que deveria esperar. Como eu disse, na pior das hipoteses o jogo ainada é funcional. Você não espera, você não está preparado para um acidente de trem como esse. E sabe por que isso aconteceu? Porque a Sega fez uma versão desse jogo para o Master System e uma adaptação disso para o Game Gear. Na hora de fazer a versão para o Mega Drive, seu principal console, o único que vendia alguma coisa (ainda que pouco) nos Estados Unidos, você poderia esperar que a Sega colocasse seu melhor esforço para fazer um Asterix pica das galaxias para arrebentar a boca do balão, certo?

Se você espera isso, é claro que não conhece a Sega. Na hora de lançar um Asterix para seu principal console ela decidiu sabonetar o trabalho para a Core Design - que posteriormente viria a mudar a história com o seu Tomb Raider, mas por hora era conhecida apenas pela “obra-prima” chamada Chuck Rock. O que possivelmente poderia dar errado, não é mesmo?

De modo resumido, tudo. Quero dizer, literalmente tudo, não tem absolutamente nada nesse jogo que deu certo. Mas nada MESMO.


 Enfim, nesse jogo controla Astérix ou Obélix, podendo escolher antes de cada estágio. Só que diferente da versão para Master System, as fases não são diferentes de um para outro - são as mesmas fases, não importa qual você escolha. Show de bola galera, já começaram atrás do Master System, A PORRA DA CARROÇA DO MASTER SYSTEM! Isso ae campeões, tão manjando muito.

A única diferença entre jogar com um ou com o outro seriam as suas habilidades, no entanto há pouco ou nenhum sentido em escolher Obélix já que o muda na prática é só que o Obélix é um alvo maior na tela, mais lento e com pulo menor. Em compensação a isso ele tem como vantagem... hã... err... bem, nada realmente.

Jogar com Asterix não resolve os seus problemas, no entanto. O pior problema desse jogo é que o alcance do ataque é horrível de uma forma que eu sequer tenho como criar hiperboles para isso. O que eu posso relatar é que o alcance do seu ataque vai apenas um ou dois pixels da hitbox do seu personagem. O resultado obvio é que é muito, mas muito dificil acertar qualquer coisa sem que ela te acerte de volta, porque puta merda como o seu ataque é curto e é claro que você só tem ataque corpo-a-corpo

O quadrado vermelho é o hitbox de onde o seu personagem toma dano. O quadrado verde é a area de acerto do seu ataque. Achou que eu tava exagerando?

Acho que não é necessário dizer o quão divertido isso soa... Você pode encontrar itens para ajudá-lo, como bombas e poções que criam plataformas de nuvens, mas eles são tão escassos que não são de grande ajuda. O jogo é terrivelmente difícil, como você já pode imaginar, e tudo na face da Terra corre na sua direção com a fúria de mil sóis. Guardas romanos marcham sobre você de todos os ângulos, pássaros voam a 200 km/h, bonecos de neve deslizam sobre seus pés, caranguejos beliscam você, e tudo mais que você puder imaginar se atira contra você que não tem como se defender porque o alcance do seu ataque é colado no corpo. E, apenas de zoeira, você também não pode pular e atacar. Apenas sobreviver é mais desafio do qualquer um gostaria de ter em qualquer dia da sua vida.

Não que avançar seja la grandes vantagens, porque o layout das fases foi deenhado para torná-lo acessível para tanto para o sprite grande de Obélix quanto para o pequeno de Asterix, o resultado é um level design terrivelmente genérico e sem graça. E quando as fases se destacam de alguma forma, não é de uma forma positiva - como por exemplo o nível da neve, onde flocos de neve que cobrem metade da tela caem constantemente, bloqueando seu campo de visão. Só delicia caras.

Uat. Da. Fãqui.

Porém ser chato nem é o pior problema das fases, e sim que alguém na Core Design jogou Strider 2 e pensou “hey, sabe essa coisa que você não apenas tem tempo na fase mas o tempo é contado na unha e se você não jogar fases labirinticas como se estivesse fazendo um speedrun profissional não vai dar tempo de terminar? A gente totalmente devia colocar isso no nosso jogo”.

Apenas... por que? O que eu te fiz, Core Design? Pra que tanto ódio contra a minha pessoa?

A fase que se passa na Alemanha é formada pro salsichas com vikings alemães atirando linguiças. Achei ofensivo, manda mais!
Porque não basta exigir que você jogue no speedrun mode, o jogo ainda coloca pequenos puzzles a serem resolvidos. Não é nada realmente complexo, tipo pegar uma poção que cria plataformas em um lado da fase para subir um paredão no outro lado. Não seria tanto problema, não fosse o fato que você teria que já saber o que fazer e então executar um gameplay time-attack disso. Sendo que acertar seu ataque já é praticamente impossível com seu alcance ridiculo, quando você tem que correr como um condenado a coisa transcende o nível do rídiculo. Apenas lembrando que no Master System você podia pular na cabeça dos inimigos, e apenas poder fazer isso já ajudaria bastante. Mas quem quer correr o risco que jogar o seu jogo possa ser agradavel de alguma forma? Não a Core Design, eu te garanto.

Infelizmente, este título foi o primeiro jogo da Astérix a obter um lançamento grande no mercado mundial, para além da Europa. Seria uma excelente oportunidade, mas o que conseguimos no final foi um jogo de plataformas genérico com alcance do ataque horrendo e layout de fases apenas cruel com esse limite de tempo tacanho.

É bizarro que os desenvolvedores japoneses que nunca tiveram muita conexão com a Astérix fizeram um jogo melhor na merda do Master System, enquanto um desenvolvedor do Reino Unido, um território no qual a Astérix era imensamente popular, em um console bem mais poderoso, faz essa sequencia de cagadas empacotada na forma de cartucho.

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