quinta-feira, 23 de julho de 2020

[AÇÃO GAMES 041] JURASSIC PARK (Mega Drive, 1993) [#441]




Frequentemente eu faço zueira com os anos 90 porque... bem, os anos 90 não se ajudam, mé?


Porém diz o ditado que até um relógio quebrado está certo duas vezes por dia, e é verdade que não existe acerto maior nessa decada que a obra-prima atemporal de Steven Spielberg: Jurassic Park. Todo mundo gosta de dinossauros,  e o filme tem tudo que você poderia esperar de uma ventura fotorrealista com dinossauros - o fato do tio Steven ter escolhido usar animatronicos e roupas de borracha ao invés da CG porca da época foi talvez um dos maiores acertos da história do cinema. Ainda HOJE esses efeitos são bons!



E se hoje esse efeitos são realmente legais, em 1993 era algo simplesmente indistinguível de magia. Eu lembro de ter assistido esse filme no cinema (digo em um cinema de verdade, não em um shopping, com efeito foi o último filme que eu vi em um cinema) e lembro como se fosse ontem como os urros do tiranossauro me assustavam, e como o grasnido rouco do velociraptor realmente parecia um tipo esquisito de ave.

É realmente um filme muito bom, é engraçado, é assustador, tem violencia, tem um herói diferente do seu machão polivalente, um vilão que você lembra, Spielberg fazendo cinema diversão em sua melhor forma!


Jurassic Park é um filme tão bom, de fato, que Spielberg se empolgou em fazer uma continuação desse filme - algo que ele nunca faz pq ele é o fucking Spielberg e ele não precisa apenas milkar ideais que já deram certo, ele pode inventar uma ideia nova e ganhar bilhões do mesmo jeito. Assim sendo, nasceu Jurassic Park: The Lost World e... deus, que bosta.

E se uma continuação feita pelo próprio SS foi um lixo, que esperança existe para um joguinho feito na corrida de qualquer jeito só para surfar no sucesso do filme? Esse seria Jurassic Park para o Mega Drive.

Eita atropelei o dinossero, bora vazar antes que o IBAMA chegue!

Este, em particular, é um jogo exclusivo do Mega Drive que eu queria muito jogar quando era criança por um detalhe e um detalhe apenas: existem dois modos de jogo nesse jogo. Em um deles você joga o seu tipico joguinho de plataforma com o Dr. Grant, pega várias armas tranquilizantes e abre seu caminho em fases labirinticas.

Grandes merda, ninguém liga pra isso. O que conquistou corações realmente era o outro modo de jogo, em que você controla nada menos do que um fucking velociraptor! Agora, velociraptors realmente são o maior sucesso da história dos anos 90. Ninguém antes de Jurassic Park tinha ouvido falar desse dinossauro - mesmo nas figurinhas do chocolate Nestle dos anos 90 (pra quem é muito novo para lembrar, a Nestle teve a ideia sensacional de distribuir figurinhas de animais junto com o chocolate, e não qualquer figurinha, elas eram grandes, com uma gramatura maior, papel de qualidade e ilustrações muito boas, sendo a série "dinossauros" a mais conhecida), eles não tinham um grande destaque, sendo preteridos a outros mais famosos como o Tiranossauro, o Triceratops ou o Braquiossauro.


Isso porque o velociraptor não é realmente um dinossauro muito ameaçador, apesar de seu visual cool ele é do tamanho de um cachorro doméstico. Os dinossauros que aparecem no filme na verdade são Deinonychus e até hoje não se sabe se  Michael Crichton trocou os dinossauros em seu livro porque velociraptor é um nome muito mais legal, ou porque ele se baseou em um livro que tinha esse erro.

Seja como for, velociraptors surgiram do nada e se tornaram um dos ícones da cultura pop para sempre, e a possibilidade de jogar com um DINOSSERO matando pessoas e comendo dinossauros menores era o sonho incandescente de qualquer garoto daquela época.


O problema... porque é claro que tem um problema... é que a coisa que chamou atenção e todo mundo queria jogar, bem, não é o jogo que foi feito. Acontece que a desenvolvedora Blue Sky fez o jogo dos PARQUE DOS DINOSSEROS sendo um joguinho de plataforma com o Dr. Grant, como eu disse antes. E fez muito na corrida, porque foi um tie-in do filme com prazo apertado para ser lançado. O resultado foi que mal e porcamente eles entregaram um joguinho de seis fases (posteriormente a fase 5 foi dividida em duas e a versão final do jogo tem 7 fases).

A Sega não ficou satisfeita em estar pagando por um jogo tão curto, então eles mandaram o jogo de volta para a Blue Sky colocar mais carne nesse corpo. Foi aí, apenas nos 45 do segundo tempo, que eles pensaram o seguinte: tem vários sprites e linhas de comando para a movimentação do velociraptor no jogo como  um dos dinossauros inimigos. Não era tão fora de propósito adaptar isso para o velociraptor ser controlado pelo jogador. Não apenas isso seria legal pacas (e é), como economizaria um puta trabalho da Blue Sky.



Eles não precisariam fazer fases novas do zero, como a Sega pediu, e sim reutilizar os backgrounds, músicas e sprites das fases do Dr. Grant. É só mudar as plataformas de lugar e badabing, fases novas para o DINOSSERO!

Rápido, fácil e todo mundo fica feliz, certo?

Err... mas não pode ser tão simples assim, pode? Quer dizer, se fosse tão fácil transformar um NPC em personagem do jogador, não haveriam tantos jogos com problemas horríveis de resposta dos controles, hit detection e level design. Não é essa festa para fazer uma boa jogabilidade de um jogo, e jogar com o velociraptor nesse jogo mostra todos os problemas disso.



Pra você ter uma ideia, eu não faço a menor ideia de como causa dano nesse jogo. O velociraptor tem um botão de atacar, mas isso ele faz dar uma mordida que eu não faço ideia se causa algum dano realmente ou é apenas o ato de esbarrar nos inimigos que mata eles. Sério, os humanos morrem só de encostar neles... as vezes. A detecção de colisão é tão ruim que eu não sei o ataque faz alguma coisa! Porra!

Se você apertar para frente e ataque, entretanto, o dinossero dá uma voadeira que, novamente, eu não sei se isso faz alguma coisa ou foi apenas esbarrar nos inimigos que faz o truque.


Não me entendam errado, eu sou o primeiro a defender dinossauros que lutam kung fu, mas tudo é tão frouxo que isso não é parece incrível. E se o ataque é ruim, os pulos são piores ainda: o velociraptor tem saltos estratosféricos e você não tem como ter a menor ideia de onde vai cair quando pula. O problema é tão sério que a melhor forma de avançar é utilizar a voadora kung-fu do dinossauro. Sim, a melhor forma de pular nesse jogo é o ataque, isso mostra o quão zoadas as coisas são.

A ideia de poder comer os dinossauros menores para recuperar energia é assaz legal, mas não compensa os problemas desse jogo.


Sabe o que não é uma completa desgraça nesse jogo, entretanto? Aquilo que absolutamente ninguém poderia se importar menos: o modo para o qual o jogo foi realmente feito. Ou seja, jogar com o Dr. Grant.

Para a campanha principal, o Dr. Grant viaja por sete fases (bem, seis na verdade já que uma das fases foi dividida e tem menos de dois minutos, como eu disse). Para escapar, ele deve chegar em segurança ao Centro de Visitantes, onde um helicóptero o aguarda. Felizmente, apesar de jogar como um paleontólogo que gosta mais de dinossauros de gente, o Dr. Grant é surpreendentemente hábil em usar um arsenal de armas. Uma pistola tranquilizadora, uma arma de choque para gado, granadas e um lançador de foguetes não representam nenhum obstáculo técnico para ele. No entanto, tudo isso requer munição espalhadas pelos estágios, geralmente em locais de difícil acesso, repletos de monstros pré-históricos.

Eita Jorge como tu se meteu aí?


O truque aqui é que cada arma é mais eficiente contra um tipo de dinossauro, e por "eficiente" eu quero dizer que coloca ele pra dormir com um tiro só. Se você usar a arma "errada", ainda vai funcionar, mas você vai ter que usar mais tiros.

O gameplay tem uma movimentação meio travada, e parece um filho pobre de FLASHBACK: Quest for Identity e Alien 3 . O level design é definido em um equilibrio de risco e recompensa. A rota para se chegar ao final de um nível é geralmente óbvia, mas fazer um desvio perigoso provavelmente significa que você vai achar um kit de primeiros socorros ou uma arma mais impressionante. 


É um jogo aceitável, não é "minha noooooossa que gameplay espetacular", mas é funcional. Eu não odeio as sessões do Dr. Grant, a pior coisa a respeito delas são que, bem, elas não são comer pessoas sendo um dinossauro. E infelizmente nem comer pessoas sendo um dinossauro é comer pessoas sendo um dinossauro, porque a parte do velociraptor é muito porca.

Uma pena, realmente.


MATÉRIA NA EDIÇÃO 043





PREVIEW NA EDIÇÃO 038