quarta-feira, 1 de julho de 2020

[AÇÃO GAMES 036] DRAGON BALL Z: SUPER BUTOUDEN (SNES, 1993) [#420]




Vou te propor um cenário louco, insano, inconcebível para os dias de hoje. Imagine, apenas imagine, que você é uma inocente criança do verão no ano da nossa waifu de 1993, e está casualmente andando pela locadora numa sexta-feira (porque você é descolado e rico, não os pobres que tem que esperar até sabado de manhã para alugar jogos e só ficar com os restolhos destinados a plebe) quando seus olhos puros e inocentes de criança se deparam com essa imagem:


Então, obviamente, como não poderia deixar de ser, sua única reação é: "hã, não faço ideia de quem são esses caras".


Sim, houve um tempo em que ninguém no ocidente fazia ideia de quem eram esses caras loiros, ou porque alguém usava um chapéu de papa com camuflagem militar. Talvez o jogo seja sobre um tipo de inquisição moderna, onde o papa vai atrás das linhas inimigas capturar hereges. Hmm, anota essa Hollywood!

Mas enfim, nós não sabiamos nada sobre Dragon Ball exceto que o protagonista da série se chamava Goku (graças a Ação Games) e que era um desenho animado bem popular no Japão. Aquela época nós também nem imaginavamos que o Japão tinha sua própria interpretação do que desenhos animados deveriam ser, mas como nós estavamos acostumados com desenhos animados não-americanos (europeus, principalmente passavam na Record e no SBT) e eles eram todos uma bosta, ninguém nunca achou que estavamos perdendo grande coisa ou mesmo sequer cogitou a possibilidade que os desenhos japoneses fossem um cavalo de uma cor inteiramente diferente.

Nós não sabiamos melhor o que estavamos perdendo
Foi só em 1996 (três anos depois) que eu ouvi a palavra "Goku" na televisão pela primeira vez, e foi um momento bem empolgante porque finalmente eu ia conhecer a história daquele jogo que a Ação Games tinha falado três anos atrás. Essa edição da Ação Games em particular foi a segunda que eu tive na vida, mas eu perdi a primeira então eu meio que cresci com essa revista - o que significa que eu li ela apenas uns 4 milhões de vezes. 

De fato eu estava tão empolgado com a ideia que eu aprendi a programar o videocassete para gravar episódios de Dragon Ball (já que eu estudava de manhã na época) conforme eles passariam no SBT. Ironicamente, eu nunca fui tão fã de Dragon Ball assim (sempre achei muito lento e arrastado, mesmo quando criança), mas ao menos aprendi uma skill util... até o fim daquele século. Não acho que muita gente saiba hoje o que programar um videocassete pode significar, ou muito menos esteja familiarizada com o conceito de esperar um canal de TV passar o que você quer assistir. Mas hey, pelo menos no pacote de animes que o SBT trouxe veio também Guerreiras Mágicas de Rayearth, onde eu tive minha primeira waifu de anime antes mesmo de eu saber que existia uma palavra pra isso, e foi parte fundamental da formação do adulto socialmente saudável que eu sou hoje.

Foto meramente ilustrativa, um power weeb como eu jamais teria poster de um anime de entrada para normies como Death Note
Obviamente que esse jogo nunca foi lançado fora do Japão, mas então você realmente não deve subestimar o poder da conexão China-Paraguai nas locadoras brasileiras dos anos 90. E bem, agora que eu já terminei de acabar com qualquer restício de dignidade que me restava, vamos falar do joguim em si, vamos?

Ora, estamos em 1993, ainda auge da Street Fighter Mania! E DBZ é um jogo de luta, então é apenas óbvio e esperado que a Bandai tentasse apenas copiar Street Fighter colocando os sprites dos personagens de Dragon Ball, certo? Não é muito diferente do que outros jogos de luta baseados em anime faziam, como RANMA 1/2: HARD BATTLE (Bakuretsu Rantou-Hen), por exemplo.

Seria a coisa mais fácil a ser feita, não que foi totalmente o que a Bandai decidiu não fazer. Ao contrário da escolha obvia, a Bandai decidiu inventar um sistema de jogo que emulasse o estilo de luta de Dragon Ball Z. Mas... como você faz isso em um videojogo?

Bem, em primeiro lugar, vamos ver: o que você imagina quando pensa nas lutas de Dragon Ball Z?


Gente voando, lutando em cenários que não fazem a menor diferença quando não são inexistentes (fica mais fácil desenhar assim, né Toriyama espertão?) e se arremessando a anos-luz de distancia. Bem, para o jogo a Bandai pensou em algo para isso. Em primeiro lugar os cenário são amplos, realmente amplos para um jogo de luta ao ponto que a tela se divide quando os personagens estão muito afastados!


De fato, tem até um mapinha na parte de cima da tela para indicar onde cada jogador está. E claro, também dá pra voar como é esperado em DBZ. Apertando X seu personagem muda de plano, ficando parado no céu:


Apenas isso já  diferencia completamente DBZ de Street Fighter, como cria um clima muito parecido com o anime. Só que esse jogo vai além e adiciona uma coisa que a Capcom não tinha pensado ainda: ataques especiais. Sim, porque concentrar ki e disparar magias do tamanho da insegurança com a própria sexualidade do próprio publico alvo é outra marca registrada de Dragon Ball. E isso casa perfeitamente com a mecanica de jogo porque como disparar um kamehameha demora 4 eras glaciais (como no anime), você só consegue fazer isso se tomar distancia do oponente. 

Então se você está lutando com um lafranhudo e ele está tentando tomar distancia de você, é sinal que alguma putaria o safado está maquinando. Tipo assim:


Resultando em uma muito satisfatória explosão dragonballiana:


Entretanto se você já assistiu qualquer anime de luta, sabe que a parte mais importante da luta não é o ataque em si, mas a habilidade do inimigo de menosprezar o seu ataque. Deter seu ataque mais poderoso com uma mão só, jogar para longe ou mesmo manda-lo de volta. Surpreendentemente, a Banda adicionou comandos para você fazer todas essas coisas!

Ele deteve meu golpe supremo com uma mão apenas, não pode ser!
Então soltar ataque especial não é um passe para vencer a luta automaticamente, você pode fazer todas as coisas que se fazem em animes shounen. É algo realmente muito legal, e este é o jogo que mais passou a sensação de estar jogando um anime. 
E, como não podia deixar de ser, o jogo tem a sequencia de lutas fiel ao anime: Piccollo, Vegetta, Freeza, Dr. Gero, Androide 18, etc até o Perfect Cell. O legal é que inicialmente você só joga com o Goku, mas conforme você vai ganhando aliados antes da luta pode escolher qual personagem vai usar para enfrentar o inimigo. Realmente maneiro.


Então quer dizer que esse jogo é super maneiro incrivel e supercalifragilisticexpialidoce?

Hã... é legal para a época, mas tem alguns problemas que impedem ser um "The Best of". O principal destes sendo que esse foi o primeiro jogo de luta feito pela Bandai e isso é algo que pode ser sentido. Os controles são muito duros e nem sempre os golpes saem como esperado - especialmente na hora de refletir ataques especiais, quando você só tem uma oportunidade de não levar uma bifa na cara.

Não é exatamente um jogo gostoso de se jogar, no que se refere a apertar botões.

Outro problema bem grande é que esse jogo é muito lento, sem mentira parece que o jogo se passa na Lua. O personagem pula e leva alguns segundos para cair no chão, é realmente ruim. Suponho que nas continuações isso será resolvido, mas por hora DBZ é um jogo de luta com ideias incriveis que se foca no que faz DBZ ser unico enquanto anime, mas a execução disso não é nada perto de estelar. Podia ser mais, mas é apenas ok.

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