quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

[3DO] GRIDDERS (Maio de 1994) [#587]


Eu sei que a este ponto vocês meio que já entenderam isso, mas a grande verdade é que não se pode falar do 3DO em 1994 mencionar que ele foi lançado a U$699 dolares (preço da época, sem correção para os dias de hoje) e sem nenhum grande jogo exclusivo que justificasse a sua compra. Por mais que as revistas de videogame babassem por suas especificações técnicas (e de fato, no papel o 3DO era pau a pau com o Playstation da Sony), a verdade é que nada disso adiantaria porra nenhuma se você não tivesse o que jogar com ele. Para o consumidor, pura e simplesmente, era uma puta fria.

Bom, pelo menos o CD é bonito

Mas claro, ninguém achava realmente na época que a falta de jogos seria um problema a longo prazo. Quer dizer, mesmo em 1994 eles sabiam que um videogame precisava de, bem, jogos para serem jogados, isso é tão óbvio que sequer precisa ser dito realmente. Então as revistas brasileira da época deram sempre bastante espaço ao 3DO mesmo que praticamente ninguém tivesse esse console porque eles apostavam que futuro seria esse. Você seleciona uma pauta para fomentar uma ideia na mente do seu público para colher os frutos na frente, eu consigo ver esse lógica editorial acontecendo.

E também porque, sério, qual seria o provavel futuro dos videogames na metade de 1994? Ninguém sabia ainda absolutamente nada sobre o Playstation da Sony, e se sabia menos ainda sobre o futuro Nintendo 64 (ainda então chamado pelo working title de "Project Realitty"). As outras opções no mercado seriam então o... deus me ajude... Atari Jaguar que conseguiu fazer todas as escolhas ruins possíveis para um console (do the math!), ou qualquer que fosse a trapalhada que a Sega estivesse planejando para o futuro.

Então, sim, eu realmente entendo porque as revistas brasileiras realmente insistiram com o 3DO, ele definitivamente parecia o candidato "menos pior" na época e uma hora os jogões iam começar a vir e a coisa ia decolar, ia que ia quicando, certo?


A qualquer momento... certo? Hã... guys? Aqueles jogos maneiros da próxima geração, vocês estão mandando eles pra cá... não estão? Guys? O 3DO precisava de quantidade e qualidade urgentemente.

Bem, a noticia ruim é que não, os "grandes jogos" do 3DO não vieram e quando eles vieram, sairam ao mesmo tempo para um console muito mais barato e com maior biblioteca (o Playstation). A notícia boa é que se nunca houve a tal da "qualidade", pelo menos a Panasonic fez alguma coisa quanto a quantidade, enchendo a prateleira do 3DO de jogos feitos no desabalo só pra poder calar a crítica que "não tem jogo pro 3DO!". Ou seja,  a notícia boa é bem ruim na verdade.

O que nos leva a essa leva que saiu em 1994 de jogos para o 3DO em quantidade para "ter jogo" disponível no console. A maioria desses jogos eram ofensivamente ruins, isso quando não eram apenas minigames de Atari portados na correria como JURASSIC PARK INTERACTIVE (sim, são jogos de Atari mesmo, Space Invaders, Galaga, Asteroids e Breakout), e eu acha que isso pelo menos seria o fundo do poço... oh, doce criança do verão que eu sou em minha inocencia pueril. 


Porque veja, é justamente aqui onde entra esse Gridders, até o momento o mais tenebrosos jogo do pacote "vamos lançar qualquer coisa só pra fazer número" do 3DO, e já adianto pra vocês que é um que me fez ter saudade do JURASSIC PARK INTERACTIVE. Pois é.

Eu já vi jogos ruins ou bastante simples na minha vida, mas o fato deste jogo em particular ser lançado como um jogo completo e não apenas como uma fase de bonus em um outro jogo (porque é isso que esse jogo é), é apenas uma afronta a história dos videogames. Não, mais que isso! É uma afronta a moral e os bons costumes do cidadão gamer de bem! Pura e simplesmente isso.

ACHEI QUE O SEU SONHO ERA TER UMA CYBERCATMAIDLOLI PARA USO DOMÉSTICO, EU DEFINITIVAMENTE NÃO TE CLASSIFICARIA COMO UM CIDADÃO DE BEM

E ainda sim estou ofendido por esse jogo! Pra tu ver o nível da coisa! Mas ... ok, vamos ver de perto como esse capitulo negro na história dos videogames aconteceu...

Estamos no ano 2049 e como dá pra ver na imagem acima, a Terra foi pro vinagre. Ou, mais precisamente, a Terra está ok mas a raça humana sentou no tomate com o esgotamento dos recursos naturais do planeta.

Sem muita opção realmente, o Conselho Mundial da Terra recorreu a maligna "Gridders Corporation" para... hã... para... alguma coisa. Sim, alguma coisa. O jogo não fala realmente, então vou assumir que eles vão pra um plano full Wall-E e usar os gridders para... limpar a Terra... eu acho. Alias também não é dito o que EXATAMENTE a Gridders Corp. faz, então seu palpite é tão bom quanto o meu.

Seja como for, diante desse contrato trilhardario a Gridders colocou em prática seu mais ambicioso projeto ... seja ele qual for... meu deus dá pra sentir quanta vontade foi colocada nessa história, chega a escorrer pelos poros... enfim, automatização da fábrica e para isso automatizou inteiramente a produção. Você joga justamente com o último funcionário da Gridder, que está pegando seu contracheque de demissão quando não pode deixar de notar que tem um bilhete nele! 


Alguém chamada Sandra te manda ir ao porão da Gridders descobrir um segredo terrível! E que é verdade esse bilete. Mas que segredo é esse e quem diabos é Sandra? Só tem um jeito de descobrir! Todos para o Bat-Porão e... 


... hã, okay? Tem caixas rolando sozinhas no porão. Esse é o plano da "maligna" (assim chamada pelo narrador) Gridders? Caixas automatizadas que rolam sozinhas? Eu não faço ideia de como isso pode possivelmente resolver o problema ambiental da raça humana, como isso pode ser um segredo terrível ou o que de tão malignamente maligno pode existir nisso.

Porque não se engane, a cada tantas fases rola uma cutscene feita em Paint mostrando que a Gridders é mais malignamente malvada que os caras que decidiram inventar a escravidão. Quer dizer, olha isso:


- Diretor, tem um intruso no nível 1 griddaniano!
- Acalme-se, ele nunca vai passar pela The Ladder [nome da próxima fase] MUAHAHAHAHA

Sério que essa é uma transcrição do dialogo do jogo, eu não inventei isso. Porque ele não aproveita e pisa em um puppie enquanto está nisso, talvez algumas pessoas não tenham entendido ainda o quão mau ele realmente é.

Mas okay, chega de enrolação porque a este ponto você pode ter reparado que eu estou fazendo hora para não falar do jogo em si, só que existe um bom motivo para isso. Na verdade existe um ótimo motivo para eu não falar do jogo, que é todo o problema que eu levantei no começo desse texto: não existe muito um jogo para ser falado, em primeiro lugar.

Eis como as coisas funcionam aqui:


Você começa a fase em um cenário assim e tem caixas rolando. O seu objetivo é fazer as caixas que tem uma seta verde pararem de andar, isso vai vai fazer elas droparem uma chave verde. De posse da chave verde, você precisa caminhar até o... buraco no chão que é a saída da fase, de alguma forma... sem ser atropelado por caixas.

A mancha no chão é a "saída" e a coisa verde na caixa é a chave. Pois é.

Todos comigo até aqui? Ótimo. A pergunta que se segue então é como, afinal, você faz as caixas pararem de rolar para pegar a chave de saída da fase. Esse é o puzzle do jogo, e por isso deve ser algo dificil, não?

SÓ QUE NA VERDADE NÃO! SUPER EASY, BARELY AN INCONVENIENT!


Você... fica no caminho da caixa. É isso. Esse é o puzzle. Sério, fim. Já deu, é esse o jogo. Eu quero dizer TODO o jogo! De verdade!

NÃO PODE SER SÓ ISSO! MESMO PARA UM JOGO DE 3DO FEITO DE QUALQUER JEITO EM 1994 ISSO NÃO PODE ESTAR CERTO! TEM QUE TER ALGO MAIS NESSE "PUZZLE"!

Então... mais ou menos. De fato, algumas caixas você não pode parar na frente delas porque elas te atropelam e você morre. Na verdade, a maioria das caixas faz isso. Então como você faz para alterar o layout da fase e criar um engarrafamento que fará as caixas que tem a chave pararem de andar pra dropar a chave?

Simples: espere a própria fase criar um engarrafamento e empurre as caixas paradas!


E agora sim, é esse o jogo. Todo ele, eu quero dizer, e eu preciso dizer que estou impressionado. Nem mesmo a Sega, a nossa querida Seguinha que lança porcarias sem vergonha nenhuma como o Activator, teve a audácia, a pachorra, o despeite de embalar ISSO num CD só pra fazer volume na prateleira de "jogos lançados" do seu console.

Uau, parabéns Panasonic, agora de fato as revistas podem ostentar que o 3DO teve 20 jogos lançados em poucos meses e o número é impressionante, realmente vocês devem ter conseguido enganar um bocado de gente... lançando essas desgraças da porra! Vão tomar no cu de cup noodles, como que alguém tem a coragem de fazer um negócio desses! E pior ainda, faz uma merda dessas com uma marca que ainda está se firmando, que precisa conquistar o público! Vocês bebem água do parto de balde, por acaso?



Porque sério, isso que a Panasonic fez com o 3DO foi EXATAMENTE a mesma coisa que fez os videogames quebrarem nos anos 80 na época do Atari, era lançada tanta porcaria que as pessoas apenas tocaram o foda-se e pararam de se importar! A mesma coisa não aconteceu em 1994 porque ao menos haviam formas do publico se informar mais e haver uma curadoria prévia (não que as revistas sejam exatamente boas analistas, mas pelo menos era melhor que "olha a capa do jogo e vai na sorte"), mas em palidece em tons grená que a Panasonic tenha mesmo assim TENTADO repetir um crash dos videogames! AGAIN!

Ah Panasonic, vão se foderem. Na moral. Estou realmente feliz que o 3DO não foi o futuro dos videogames, e mais feliz ainda que vocês acabaram quebrando a cara nessa palhaçada. Pq quem lança um "jogo" como Gridders merece se foder infinitamente ao cubo.

E passar bem.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 066