Quando eu era criança eu nunca realmente tive uma Super Game Power. Eu tive uma Game Power e por algum motivo eu tinha uma Super Game (não faço ideia do porque já que eu nunca tive consoles da Sega, acho que eu ganhei mas não tenho certeza) - com efeito, eu tive a iconica Game Power que o Chefe mandava meter a porrada nas bichonas (mas que só nas que não compravam a revista). Anos 90.
A única revista que eu colecionava na época era a Ação Games, e dessa forma até começar esse projeto não tinha a melhor opinião da revista. O papel era de menor qualidade da Ação Games (até porque era mais barata e com mais páginas) e eu achava a diagramação mais bagunçada - que é o mesmo estilo "anos 90 cool" de diagramação das revistas americanas.
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Eis um jogo que a seleção de fases é feita por uma galinha voadora gigante. Respeito. |
Porém agora acompanhando as revistas com calma e experiencia de vida, eu tenho que dizer que minha opinião mudou radicalmente. A Super Game Power é uma revista de verdade, que segue uma edição profissional e apresentação de informações que parece uma revista "séria" só que de games. Já a Ação Games parece apenas um bando de moleques com acesso a todos os jogos de uma locadora e um editor de texto, mas lendo como a revista é escrita não parece algo que eu ou você não faria até melhor. Em notícias, conteúdo das cartas (sério, a quantidade de "a gente não sabe, mas se alguem souber manda ae" é bem lame), diagramação, capa ... tudo, basicamente. Quer dizer, eu ou você dos anos 90, isso é, porque o eu certamente faria melhor.
Porém se tem uma coisa que não sou realmente fã da Super Game Power são as reviews dos jogos em si. Não que a Ação Games faça uma analise autoral dos jogos com a linguagem que nós falavamos na época (isso é mais parecido com o que a Gamers faz), mas as "reviews" da SGP são absolutamente secas e de cintura dura - muito parecido com o estilo editorial gringo dos anos 90.
Isso quando as "reviews" não são apenas notinhas empilhando quatro por página, que é algo que eles fazem e que não acrescenta nada para ninguém - especialmente para o jogador da época. Eu me refiro a coisas como isso:
Isso não são "previews", essas são as matérias de jogos já lançados, a "analise". Uau, ajudou pra caralho, né?
Então, e já me foi perguntado isso, pra que eu escrevo sobre esses jogos que nem a própria revista deu cobertura? Bem, por dois motivos. Primeiro, porque eu amo jogos e aprender mais sobre a história dos videogames (o que meio que é o todo o ponto desse blog, afinal).
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Esse é um jogo onde os inimigos são... hã... isso, com uma boca? |
Mas o mais importante é que uma coisa que eu gosto na Super Game Power é que eles não fazem uma triagem tão grande quanto a Ação Games sobre que jogos colocar na revista. A Ação Games escolhe a dedo sobre quais jogos falar e mais frequentemente sim do que não ela tem o dedo podre, sério quem diabos faz uma matéria sobre a porcaria do
VAY e não sobre
FINAL FANTASY 6? Sobre a porra de CHRONO TRIGGER!!! E se eu não me engano - ainda verei isso - mas tenho bastante certeza que eles pularam Resident Evil. Sério, gente.
Já na Super Game Power, que segue as dicas das revistas gringas do que vai bombar ou não, temos bem menos dessas injustiças de deixar determinado clássico passar em branco, e outra coisa que eles fazem que eu acho bem legal é falar sobre jogos que nunca deixaram o Japão - o que me leva a aprender sobre coisas que eu nunca sequer ouvi falar na vida, como é o caso desse Nangoku Shonen Papuwa-Kun.
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O objetivo aqui é soltar o minhocão. Como na vida. |
Mas o que é NSPK?
Bem, veja se essa imagem lhe é familiar: um jovem ambicioso quer uma esfera mágica que realiza desejos, e para isso ele acaba envolvido com um garotinho criado isolado do mundo que é muito bom de luta mas também é super inocente e ingenuo. Juntos eles vivem altas aventuras por causa da esfera mágica, e das pessoas e da organização do mal que está atrás dela, e mais pro fim a série abandona a coisa da aventura e se foca mais em ser um anime/mangade luta. Isso tudo em um mundo muito surreal onde coisas bizarras acontecem com naturalidade. Parece com algo que você já ouviu falar?
Não, não é de Dragon Ball que eu estou falando mas negar a influencia de Dragon Ball em Nangoku Shounen Papuwa-kun é impossível. O manga dos anos 90 bebe fortemente na inspiração de seu senpai da decada passada, porém isso nao é necessariamente uma coisa ruim. Senão, vejamos:
Shintaro é um jovem aventureiro ambicioso que rouba a lendária "Jóia Azul", que segundo a lenda é capaz de realizar desejos, de dentro da organização "Ganma Army" que praticamente domina o mundo. Na fuga, seu barco é avariado e ele acaba indo parar na uncharted ilha de Papuwa. Lá, a jóia vai parar sob dominio do único habitante humano da ilha, um menino selvagem que atende pelo nome de Papuwa também.
Papuwa é bastante inocente, mas também é ridiculamente forte e agora Shintaro vive altas aventuras na ilha tentando fazer Papuwa lhe devolver a jóia, porém ele acaba se apegando a ilha e aos seus moradores e eventualmente passa a ajudar Papuwa a defende-la dos invasores que também querem a jóia para si.
Como dito, não é nada realmente diferente de Dragon Ball onde Papuwa é o Goku criança, Shintaro - que se achava super foda mas é constatemente derrotado por Papuwa sem esforço - é um Yamcha (lembra quando o Yamcha não era uma piada?), o Ganma Army é a Força Red Ribbon, e a Jóia Azul é obviamente a Dragon Ball.
E COMO ISSO NÃO É UMA COISA RUIM?
Bem, porque Papuwa pode ser ripoff de DB, mas até onde eu vi (esse é um anime realmente dificil de achar, eu vi apenas os primeiros episódios) é melhor que Dragon Ball no que ele se propõe a fazer. Como isso? Bastante simples, o manga é escrito por ninguém menos que Ami Shibata.
A FAMOSA QUEM?
O nome pode não ser famoso, mas certamente o seu trabalho é já que todo mundo que foi criança nos anos 90 lembra de um dos animes shonen mais esquisitos já produzidos. Jibaku-kun, conhecido por aqui como Bucky, é uma daquelas coisas que você assiste e pensa "o que diabos eu estou vendo?"
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Não, sério, que porra é essa? |
Então acho que todos podemos concordar que Ami Shibata tem um parafuso a menos, ou usa uma quantidade pouco saudável de narcóticos. Provavelmente uma combinação de ambos. E nesse aspecto Papuwa-kun parece muito mais bizarro (e divertido) que a obra que o inspirou. Alias é curioso como essa é meio que a coisa dela, porque Bucky também é basicamente Pokémon (praticamente os mesmos personagens até) só que com doses homéricas de dorgas. Vai entender.
Papuwa, por exemplo, é um personagem bem mais interessante que o Goku. Primeiro, porque o visual dele é mais carismático:
Mas mais importante, a personalidade dele é mais interessante. Ele é inocente e não entende como as coisas do mundo fora da ilha funcionam, mas ao mesmo tempo diferente do Goku ele também é meio safado e gosta de trollar o Shintaro porque é divertido e sempre com uma cara de super sério - o que acaba ficando mais engraçado.
Nessa cena, por exemplo, Papuwa diz que escondeu a jóia no topo de uma arvore. Aí quando Shintaro sobe desesperado ele diz - com essa cara super séria - que tava só zoando e que na verdade a jóia tá no fundo de um lago. O que também é uma trollagem. Acho que deu para entender o espirito da coisa.
A outra coisa que torna esse anime mais engraçado que Dragon Ball é o elenco de apoio que são os animais da ilha. Na verdade todas as coisas da ilha, a exceção do cachorro do Papuwa... ao menos ele é chamado de cachorro, sei lá que porra é esse bicho ... falam.
TÁ, ANIMAIS FALANTES, O QUE TEM DE TÃO ENGRAÇADO NISSO?
Hã, talvez "animais" não seja exatamente o termo correto. Já que estamos falando de coisas tipo...
... como um caracol gay gigante que tem certeza que absolutamente todo mundo está atrás do seu corpo nu... ou concha... ou sei lá o que...
... ou um peixe gigante que tem pernas gordas e usa meias arrastão because... a fish with fishnets... e que fala o tempo todo gemendo porque... hã, bem, essa mulher realmente usou todas as dorgas conhecidas pelo homem, é a única explicação.
Então, como dá pra ver, Papuwa-kun parece realmente um anime bem divertido que eu jamais teria ouvido falar se não fosse por esse textinho da SGP. O que nos leva ao não menos bizarro jogo licenciado dos anos 90, é claro. E que nunca foi lançado no ocidente por razões que já devem estar obvias a esse ponto.
O jogo é simples. Um botão para atacar, outro para saltar e um terceiro para liberar magia limpa-tela que é limitada. O grande diferencial dos controles desse jogo são os botões L e R servem para uma rasteira no estilo
MEGA MAN X que é bastante útil para a maioria dos inimigos comuns. A única coisa que eu não gostei é que R da rasteira para a direita e L para a esquerda, e isso é menos prático do que parece - apenas um botão para dar a rasteira para o lado que você estiver virado seria mais do que suficiente - que é como qualquer outro jogo faz, inclusive o citado
MEGA MAN X.
Usando L ou R no ar, Shintaro manda uma voadora para baixo no estilo Akuma.
Nangoku também tem um sistema de level up. Sempre que você mata um inimigo, um número aparece indicando quantos pontos de experiência você acabou de ganhar. Depois que um determinado valor é alcançado, você sobe de nível - o que significa que você ganha uma barra extra de vida (você pode ter até 6 barras de vida). Isso é muito legal e você não vê isso muito em jogo de plataforma. Um sistema de passwords senha também está lá para facilitar sua vida.
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E então houve o dia que eu dei voadora num guarda-chuva com um pernão. Taí algo que eu jamais achei que aconteceria. |
Esse jogo foi desenvolvido pela Daft, que eu já comentei aqui em outro jogo:
SUPER BACK TO THE FUTURE 2 - mais conhecido como "o único jogo bom de De Volta do Futuro". Aquele é um jogo com gráficos bonicos e jogabilidade sólida, e aqui o caso é o mesmo - embora substitua gráficos fofinhos por "puta merda que porra que eu to vendo", o que faz mais jus ao espirito do anime original.
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Você encontrará seu fim, Doritos cru com pernas! |
Enfim, não é um jogo espetacular, mas é um jogo de plataforma padrão bastante sólido com o "charme" japonês peculiar nele. Eu apenas mudaria uma coisinha que outra no peso do personagem, não parece ajustado corretamente e eu me divertiria mais com um gameplay mais leve - se eles fizessem mais parecido com
SUPER BACK TO THE FUTURE 2 seria perfeito.
Ainda sim, Nangoku Shounen Papuwa-kun é um jogo que tem um gameplay okay e que diverte pela bizarrice do material original pq, como já estabelecido aqui, Ami Shibata é uma pessoa com coisinhas na cabeça. Felizmente.
MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Ediçao 005