terça-feira, 1 de dezembro de 2020

[MEGA DRIVE] COLUMNS 3: The Revenge of the Columns (Outubro de 1993) [#571]


Na década de 20, a atenção do mundo foi tomada por um frenesi cultural como nunca havia sido conhecido antes: a descoberta da tumba do Rei Tutancamon - o único dos grandes faraós do Egito cuja tumba jamais tinha sido encontrada até então. Essa não foi uma expedição qualquer, entretanto, já que para financiar a escavação, preservação e catalogação das riquezas da tumba, lorde Carnarvon assinou um contrato de exclusividade com o jornal The Times, concedendo ao periódico o direito de publicar em primeira mão notícias e fotografias sobre o que fosse encontrado. 

Assim, era a primeira vez que arqueologia tinha cobertura da imprensa como um grande acontecimento pop, com direito a paparazzi, fofocas e a porra toda. Não pouco surpreendentemente, toda a coisa da “maldição da tumba perdida do faraó” se tornou um grande elemento da cultura pop e mesmo quem não faz a menor ideia do que foi essa expedição ou de quem foi Tutancamon já ouviu falar de múmias tanto quanto de vampiros ou lobisomens.

Para cimentar a coisa toda ainda mais forte no imaginário popular, não apenas foram de fato encontrados tesouros fabulosos no túmulo do faraó, como alguns membros da expedição tiveram mortes bem... estranhas... após violar o sepulcro. O que os jornais da época cairam matando com gosto.

Na realidade as mortes atribuídas a “maldição da múmia” ou não são tão inexplicaveis assim (como um estudante de história da arte que tinha um histórico de problemas respiratórios e que entrou num lugar repleto de fungos que estavam crescendo sem contato com o homem pelos últimos três mil anos), ou apenas foram inventadas na fake news mesmo para impedir que geral saqueasse o sitio arqueológico afinal o Egito do século XX também não é nenhum passeio no parque.

A mais famosa dessas é justamente do idealizador da expedição, Lord Carnavon, conforme o depoimento de sua neta para os jornais da época, Patricia Leatham: "No momento em que ele morreu, toda a luz do Cairo se apagou e, naquela época, todos os serviços públicos do Cairo eram administrados pelo exército britânico e não havia meios de eles religarem a energia. Não encontraram motivos para a energia ter acabado. Vinte minutos depois a energia foi restaurada. A pequena fox terrier de Carnavon, Suzie, estava dormindo em sua cesta no quarto de sua governanta, no castelo de Carnavon na Inglaterra. E no mesmo momento em que Carnavon morreu, Suzie sentou em sua cesta, uivou e morreu".

E voce achando que fake news era uma coisa atual, pff...

A capa japonesa do jogo não usa um tiozão tentando ser descolado de formas constrangedoras e potencialmente material pro FBI e sim galinhas. Todo mundo gosta de galinhas.

Mas porque eu estou falando sobre a tumba perdida de Tutancamon? Bem, porque por muitos anos se especulou o que REALMENTE aconteceu na descoberta da tumba e se imaginava que a verdade estaria perdida para sempre entre o sensacionalismo da imprensa da época e dos interesses do governo egipcio e isso provavelmente seria verdade para sempre... até o ano de 1994, quando a Sega trouxa a verdade do que aconteceu na exploração daquela tumba!

E que desafios os exploradores encontraram nessa empreitada? Ora, nada menos do que... A VINGANÇA DAS COLUNAS!!!


Sim, exatamente isso. Kudos a Sega por bolar um dos melhores subtítulos de jogo de todos os tempos, afinal quantas vezes na vida você poderá dizer que jogou um jogo chamado A VINGANÇA DAS COLUNAS? Pois é, foi o que eu pensei. Mais estranho ainda, o modo campanha do jogo é temático sobre a exploração da tumba de Tutancamon e para chegar até ela voce precisa desafiar morcegos, ratos e serpentes em partidas de Columns 1x1 porque é como as coisas aconteceram na vida real, obviamente.

Agora Columns 3, o jogo, é a continuação direta do primeiro Columns já que a Sega não achou que o ocidente tinha tanto interesse assim por puzzles e nunca lançou “Columns 2: A Viagem Através do Tempo” (sim, sério) fora do Japão. Muito porque a imprensa americana da época bateu bastante no jogo como Columns sendo apenas uma cópia preguiçosa de Tetris.


O que é uma pena, Columns nunca recebeu crédito que lhe é devido por introduzir o conceito de chains e combos no gênero de quebra-cabeças. No entanto, apesar de sua jogabilidade de ótimo puzzle, apresentação atraente e ótima trilha sonora, Columns sempre será visto como se aproveitando da fama de Tetris tanto quanto Fatal Fury é acusado de apenas tentar ser um clone de Street Fighter II, sem levar em conta seus próprios pontos fortes.

Mas então porque esse terceiro jogo foi lançado no ocidente se a Sega acreditava que os americanos queriam era dedo no cu e gritaria? Bem, porque Columns 3 é um puzzle repleto de “atitude, dude!” e acharam que esse jogo tinha como ser marketeado ao público americano. Como? Ora, porque tal qual Puyo Puyo (que foi lançado no ocidente como DR. ROBOTNIK'S MEAN BEAN MACHINE) esse jogo é puramente competitivo, você está sempre enfrentando alguém - seja outro jogador, seja um inimigo do jogo no modo campanha.


Portanto, quem procura o infinito (e relaxante) modo para um jogador do original está sem sorte. O jogo mantém a mesma jogabilidade do original - empilhe as colunas de joias que caem de modo que três ou mais encaixem horizontalmente, verticalmente ou diagonalmente. O que esse jogo faz de diferente é incorporar ataques especiais dentro dessa estrutura. Assim, o foco agora é derrotar um oponente criando combos porque isso vai dar mais pontos para gastar em ataques especiais.

E meio que esse é o problema da coisa toda. Columns simplesmente não é um jogo projetado para ser jogado sob coação (como a maioria dos puzzles não é), e Columns III está muito ocupado desencadeando sua "vingança" e sobrecarregando o título com ataques e itens para lembrar a jogabilidade simples que o tornou uma franquia em primeiro lugar. É um problema bem comum em continuações de puzzles, porque cada novo jogo acredita que precisa trazer alguma reviravolta na jogabilidade, independentemente de como isso afeta o jogo às vezes.


Seria okay haver um modo competitivo vamo vamo vamo depressa depressa em Columns, mas quando isso é a custa de tirar todos os outros modos de jogo, Columns III então tem um problema. E sequer são ataques criativos como em TETRIS BATTLE GAIDEN - assim como TETRIS BATTLE GAIDEN divisou um sistema que não exige você rushar o jogo para ganhar mana para fazer os ataques, na verdade até atrapalha se você tentar.

Isso sendo dito, existe um modo de jogo em particular que eu acho interessante nesse jogo: existe uma opção para cinco jogadores, tornando o jogo um party game totalmente bagunçado. A forma como o ataque funciona neste modo é que se você pressionar A, você ataca a pessoa à sua esquerda e pressiona C para atacar a pessoa à direita. Esta é a razão pelo qual a posição dos jogadores é alterada entre as rodadas - para você não atacar as mesmas pessoas a cada rodada.




Enfim, Column's Revenge tem um modo single-player que empalidece em comparação com o jogo original, um modo versus que não joga com as forças do puzzle e a raridade de encontrar usuários com o Sega Tap para o modo de 5 jogadores diminui muito essa qualidade do jogo. Do jeito que foi feito, Columns III apenas ajuda o (injusto) argumento que a Sega apenas tentava copiar outras franquias para sua marca de quebra-cabeças estéril.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES 
Edição 058


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 002