Quando a Sony começou a levar a série seu projeto de ter seu próprio VIEJGUYM, eles imediatamente sabiam duas coisas: primeiro que eles iam entrar pra ganhar, segundo que isso só ia acontecer se eles tivessem um plano muito bom. O que, como todos sabemos hoje, eles tinham.
Resumindo bastante a história que eu já contei na A HISTÓRIA DO PLAYSTATION e na HISTÓRIA DO NINTENDO 64, o plano da Sony consistia em cooptar as developers fornecendo um sistema fácil de trabalhar (e fácil quer dizer rápido, o que quer dizer dinheiro), margens de lucro imensamente mais interessantes que as da Nintendo e praticamente nenhuma ingerencia no processo criativo. Ou seja, era o sonho do pãozinho molhado no hidromel pros devs.
O problema, entretanto, era que a Sony sabia que não podia parar por aí. Quer dizer, claro, é muito bacana ter jogos CARALHOSSAURICOS no seu sistema como FINAL FANTASY 7, TEKKEN 3 ou RESIDENT EVIL 2. O problema, entretanto, é que esses jogos não são seus e vc não tem controle sobre eles nem sobre onde eles são lançados (tanto que RESIDENT EVIL 2 saiu para Nintendo 64), e é melhor ter controle do que não ter. Depender apenas de si mesmo sempre é preferível.
Tendo isso em mente, a parte 2 do plano da Sony consistia em criar ou adquirir second partys que criassem jogos exclusivos para o Playstation e alguns desses estúdios deram frutos, outros não. Por exemplo, a Polyphony Digital criada por eles acabou criando o jogo mais vendido da história do PS1, GRAN TURISMO.
Como não dá pra acertar sempre, outras dessas desenvolvedoras não tem resultados tão brilhantes assim e entregaram jogos... eh, okay-ish, pra dizer o minimo. Como por exemplo é o caso da Contrail, que é mais lembrada pelo sem absolutamente nada de especial (a não ser a abertura) WILD ARMS
Bem, depois do mediocre (no sentido literal da palavra, mediano em tudo) WILD ARMS, a próxima produção da Contrail... também não rendeu lá tantos frutos assim quanto a Sony esperava. Isso porque a Lenda das Gaias Legais é essencialmente o sucessor espiritural de WILD ARMS: melhor em todos os aspectos (exceto na trilha sonora) e enquanto isso é uma coisa obviamente boa... meio que só vai até aí tambem. E ser um pouco melhor que medíocre te faz no máximo bom. O que esse jogo é, Legend of Legaia é um bom jRPG... com várias ressalvas. Vamos a isso então.
A história do mundo de Legaia é legaiazinha e uma das melhores coisas do jogo, eu preciso abrir dizendo isso. Essencialmente, o mito é que no inicio Deus criou o céu, a terra e os animais. Então criou o ser humano e lhe deu inteligencia... apenas para perceber que os animais fariam paçoca com o ser humano fisicamente na natureza. Aparentemente ter um QI de 122 ajuda bem pouco diante de um urso marrom procurando por carinho numa noite cálida de verão.
Ao que, obviamente, Deus reagiu com:
Como plano de contingencia, ele então enviou seres simbiontes chamados de Seru para Legaia, onde os Serus se fundiriam com hospedeiros e lhes dariam força extra e habilidade de usar magias, isso certamente ajudaria a raça humana a sobreviver na natureza e construir uma civilização.
E por um tempo foi bom. Até que um dia surgiu uma nevoa maligna do mal que odeia o bem que começou a transformar as pessoas que tinham Serus (ou seja, praticamente todo mundo) em monstros irracionais. Assim, chegamos a ultima vila humana de Legaia que só sobreviveu pq uma muralha separa a vila do resto do mundo.
ESPERA, ESPERA... ENTÃO ESSE É UM MUNDO ONDE ALGUMA COISA CAUSOU UM APOCALIPSE QUE EXTINGUIU A RAÇA HUMANA EXCETO POR UMA ÚNICA CIDADE MURADA?
Sim, exatamente. Mais precisamente, existe um grupo de caçadores que vai além dos muros coletar recursos, e o nosso herói tem o sonho de ser um desses quando crescer - tem até uma cena dos caçadores voltando todos fudidos pra mostrar que o bicho pega mesmo lá fora. Até o dia, obviamente, que as forças inimigas externas arrebentam a muralha e aí é dedo no cu e gritaria até o herói conseguir uma dessas ameaças (no caso, um Seru) especial que é usada para o bem. Hmm, eu não sei pq exatamente, mas isso me soa bastante familiar a alguma coisa que eu não sei bem apontar o que...
Isso é uma coisa que me chamou muita atenção realmente, pq o começo de Attack on Titan é bastante similar a esse jogo. Embora não existam provas que o autor do manga se inspirou, as semelhanças são realmente notáveis.
Seja como for, o jogo tem realmente um mistério: o que é essa neblina? Da onde ela vem? O quanto do mito dos Serus terem sido enviados por Deus é verdade? Todas essas perguntas e algumas outras hoje, no Globo Reporter. Mas sério, querer saber essas respostas é realmente uma boa motivação e embora as respostas não sejam estelares, ao menos são interessantes para justificar valer a pena a duração do jogo.
O que já é um avanço para um RPG da Contrail já que seu RPG anterior não tinha nada de interessante após as cenas iniciais, ao menos esse tem algumas perguntas que vc tem interesse em saber a resposta. O problema é que em ainda sendo um RPG da Contrail, não espere nada muito mais que isso também.
Então essencialmente vc viaja pelo mundo combatendo a neblina, cada cidadezinha da semana com seu problema particular com a neblina e como esperado da Contrail, vc junta um time de três heróis ao longo do caminho para faze-lo. Alem do nosso já citado "bom moço da vilazinha pacata", tem um monge muito rigido e ... uma garota que foi criada em uma caverna por um lobo e que é totalmente inocente sobre como o mundo funciona. Tá, a Noa é bem interessante e de longe a melhor coisa do jogo, e tenho que dizer que dos RPGs em geral, quem diria que uma personagem tão divertida viria de um jogo que é de outra forma tão... genérico...
Mas se tirando as cenas com a Noa não dá pra esperar muito desse jogo... o que dá pra esperar do jogo então? Bem... com certeza os gráficos não são, isso eu posso te dizer. Os gráficos em Legaia são incrívelmente datados para sua época, e quem olha sem saber melhor pode jurar que esse jogo saiu em 1995, não QUATRO ANOS depois!
Tudo, das pedras às árvores, é completamente sem textura e com tão poucos poligonos, os cenários são vazios e sem vida que eu me senti jogando 3DO de novo, gente, estamos em 1999, o PS1 consegue fazer bem mais que isso, faça-me o favor né? Sério, e sem poder mudar os ângulos da câmera, você não pode ter certeza se uma coisa no cenário é uma flor ou deveria ser um vestido! As cenas curtas em CG no jogo também não impressionam muito, novamente estamos em 1999, o PS1 definitivamente já estava entregando mais que isso...
O sistema de combate em LoL é a parte mais ambiciosa do jogo todo, mas não chegou a ser nada grandioso. A ideia é muito parecida com a de
XENOGEARS, onde gasta pontos de AP para inserir combinações de botões e então o computador faz seus personagens lutarem e executarem movimentos especiais dependendo dos combos que você insere. Não vou dizer que não é interessante, existe um equilibrio entre conserva APs para dar combos maiores e usar magias e defesa nos turnos (que aumenta sua barra de combos), acho que esse é o único jogo que eu lembro na vida de ter usado a opção de defesa.
Isso torna as lutas contra chefes muito interessantes, sendo que vc tem que aprender o padrão de ataque deles para saber quando atacar e quando defender como se fosse um jogo de ação, é uma implementação melhor até melhor que o utilizado
XENOGEARS, até pq o jogo é dificil para um cara do alho e os chefes batem pesado, eles te wipam sem pena se vc não prestar atenção nos padrões de ataque deles. Ponto para o jogo.
A única desvantagem que eu posso citar é que esse sistema só brilha mesmo em lutas contra chefes, nos combates aleatórios normais meio que é um RPG sem nada realmente diferencial exceto pela dificuldade já que o jogo exige grindind pra caceta - as opções de itens de cura são amplamente eficientes mas caras pra porra, então bora farmar esse dindin ae maluco.
No geral, Legend of Legaia é um RPG apenas um dedinho acima do mediano (o que já o faz superior a
WILD ARMS, pelo menos), mas nada além disso. Eu não me senti entediado jogando, mas também nunca foi um jogo que eu realmente me empolgasse muito - era um RPG pra grindar assistindo WWE, se querem saber.
Definitivamente não é um jogo ruim, é apenas muito dolorosamente mediano, com exceção do sistema de batalha que brilha nas lutas contra chefes. Ainda sim, é um jogo que dá recomendar para o tipo certo de jogador - o fã hardcore que já jogou sua cota de RPGs old school e quer tentar algo que tenha um toque um pouco menos conhecido. Ainda mantenho, entretanto, que é um jogo visualmente desapontante para a época que foi lançado. Enfim, não é revolucionário, mas definitivamente é um dos jRPGs já feitos
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
EDIÇÃO 137 (Março de 1999)
EDIÇÃO 139 (Maio de 1999)
MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
EDIÇÃO 059 (Fevereiro de 1999)
EDIÇÃO 062 (Maio de 1999)
EDIÇÃO 063 (Junho de 1999)
MATÉRIA NA GAMERS
Edição 038 (Março de 1999)