Em 1987, o produtor britanico Allan McKeown teve a ideia de trazer o formato de programas de esquetes humoristicas bem popular na terra da rainha para os US and A - você sabe, shows como Monthy Python e Mr. Bean, coisas assim só que na televisão americana. E para aproveitar e matar dois coelhos com uma caixa d'água só, ele ainda aproveitou para usar sua esposa que era comediante para isso. Nasceu assim o Tracey Ullman Show, um programa protagonizado pela comediante do título que era uma coleção de esquetes, o tal formato popular na televisão inglesa.
HÃ, OI? O QUE É QUE ISSO TEM HAVER COM O JOGO DE HOJE? COMO UM PROGRAMA DE ESQUETES DOS ANOS 80 SE RELACIONA COM RUGRATS?
Calma, Jorge-san, calma, a gente chega lá. Então, além das esquetes protagonizadas pela própria Tracey Ullman, tambem passavam esquetes na forma de curtas de animação. A ideia era fazer uma versão animada das tirinhas "Life in Hell", do cartunista Matt Groening e que estavam bem populares na época.
Infelizmente, a emissora Fox não chegou a um acordo com Matt sobre os direitos do uso da marca em si, especialmente do merchandising relacionado a esses personagens - a Fox queria os direitos para si como parte do acordo, Matt tinha seus próprios planos. A produção do Tracey Ullman show então perguntou a Matt se ele tinha outros personagens que ele poderia usar, um com menos marketibilidade, pq eles estavam mais interessados no humor suburbano satírico dele para o programa.
Então, a coisa é que sim, Matt tinha. Ele poderia providenciar uma família suburbana tipicamente americana, se aquilo servisse ao programa. O que era exatamente o que o programa estava procurando, de modo que assim nasceu uma série de animações curtas que pode lhe vir a ser familiar de alguma forma:
Suponho que eu não precise dizer que essa série de curtas veio a se tornar seu próprio cartoon... que meio que está aí até hoje, não é exatamente um segredo isso.
HÃ... OKAY, É MUITO INTERESSANTE A ORIGEM DOS SIMPSONS... MAS O QUE ISSO TEM RELAÇÃO COM RUGRATS?
Toda, na verdade. Pq essa animação original dos Simpsons, enquanto ainda era uma esquete, foi feita pelo casal Arlene Klasky e Gábor Csupó, literalmente no apartamento deles. Isso é muito importante, porque quando a Nicklodeon começou a caçar talentos na animação para fazer o seu primeiro bloco de cartoons com Doug e THE REN & STIMPY SHOW, alguém na Nick considerou "escuta, aqueles caras que fizeram a animação original dos Simpsons, eras uma boa, heim?"
Com o cartaz de terem criado o maior sucesso na animação dos anos 90, Klasy e Csupó fizeram seu pitch para a Nicklodeon de um cartoon um tanto peculiar: mostrando as desventuras de um grupo bebês, caso os bebês pudessem falar e raciocinar como se fossem crianças mais velhas.
Os Minins du Coro... ah Portugal, nunca mude!
Isso por si só já garantiria ação e aventura para entreter as crianças (o episódio piloto é sobre um bebê tentando entender o que é uma privada, algo que realmente não faz muito sentido para alguém que acabou de chegar nesse mundo), Klasy e Csupó atiraram um osso extra: o desenho tem uma representação surpreendentemente realista do que realmente significa ter filhos.
Eu quero dizer, REALMENTE realista:
Então essa é a coisa de Rugrats realmente: 80% do episódio é feito para crianças, onde os bebês vivem altas aventuras tentando entender o mundo, mas existe uns 20% que são uma visão bastante sincera do que é ter uma família.
A antagonista da série, por exemplo, é uma menina mais velha que tenta fazer os bebês de gato e sapato, e é bem mimada e ruinzinha. Mas pq ela é desse jeito? Pq a mãe da Angélica é uma empresária super bem sucedida eu fica ocupada 25 horas por dia e o pai é um banana ressentido que a esposa ganha mais do que ele, e pra tentar compensar isso ele mima demais a criança.
Existem alguns momentos em alguns episódios até onde Angélica deixa escapar uma visão da sua vulnerabilidade quando ela só queria ter os pais dela sendo pais normais, apenas um breve momento antes de voltar a sua persona de arrogancia e poder sobre os bebês. Cara, isso é... bem profundo, na real.
Toda a série tem momentos assim, como entre uma aventura e outra super colorida dos bebês com Chuck tentando entender pq ele é a única criança que não tem uma mãe (que morreu logo depois que ele nasceu) ou o próprio longa metragem que é sobre os pais de Tommy tendo outro bebê e ele tendo que aprender a ter que dividir a atenção seus pais com um irmãozinho.
De certa forma, Rugrats é meio que o equivalente ocidental de Digimon. Você tem crianças vivendo loucas aventuras because yo-ho-ho, mas no background ainda são crianças lidando com problemas questões e genuínas de crianças. Bem, claro que os Anjinhos não digivolvem e não tem a trilha sonora açucarada na manteiga de Wada Kouji, mas vc entendeu a ideia.
E com efeito esse aspecto humano e relacionavel era o principal ponto de atrito nos bastidores da série, o estúdio queria fazer Angelica uma vilã mais cartunesca e apenas maligna, enquanto Arlene Klasky fincava o pé que ela era uma bully sim, mas ainda uma criança com problemas por trás disso.
Para ser honesto, eu estou surpreso que isso está funcionando mesmo depois de todos esses anos
O resultado disso, dessa mescla que agradava tanto adultos quanto crianças, é que Rugrats acabou sendo a segunda animação mais bem sucedida comercialmente da história da Nick - sendo passada apenas pelo sucesso de Bob Esponja. Com 174 episódios entre 1991 e 2005, três longa metragens e uma adaptação em live action em produção mais dois spin-offs (Anjinhos Crescidos em 2003 e um reboot em computação gráfica em 2021), não tem como dizer que isso é nada senão o mais estrondoso sucesso.
O que significa tambem, obviamente, um jogo licenciado, é claro. Na verdade esse meio que até demorou pra vir, AAAHH!!! REAL MONSTERS (que foi a série de Csupó e Klasky produziram após essa) ganhou um jogo para Super Nintendo antes da animação mais bem sucedida... o que eu também não faço lá taaaaaanta questão, não é como se esses jogos adaptados de séries sejam lá essas coca-cola toda, como o próprio AAAHH!!! REAL MONSTERS bem exemplificou.
E esse jogo para PS1 não é muito melhor que isso, realmente. Mais do que isso, na verdade, de um ponto de vista gráfico essa coisa é puro combustível de pesadelo, eu te digoe um lembrete de como jogos de baixo orçamento de como os jogos baratos do PS1 podem involuntariamente se tornar um jogo de terror. Sério, imagine que vc é uma criança de 8 anos jogando no seu pleixtexo e essa ABOMINAÇÃO LOVECRAFTIANA aparece na tela:
Esse elder one prestes a devorar sua alma deveria ser o cachorro da família Pickles, eu suponho?
A música não é menos pertubadora. É o tema clássico do cartoon - algo que o PS1 podia reproduzir com um pé nas costas - mas com uma taxa de bits baixa o suficiente para começar a se desintegrar, quase um slowverb usado em creepypastas. O elenco original do desenho também está lá, o que só me fez reparar de como a dublagem brasileira é tipo 8 BILHÕES de vezes melhor que o original. Sério, a dublagem brasileira entendeu os personagens mais do que o cast original, papo real.
A história desse jogo, se é que podemos chamar assim, é que Tommy perdeu as 12 peças de seu quebra-cabeça do Reptar. A casa dos Pickles funciona como um hub você pode acessar outras fases, sendo que cada uma é um minigame que te dá um pedaço do quebra-cabeça (literalmente, não no sentido investigativo).
Sabe, descrevendo assim, me ocorreu que esse jogo é essencialmente uma versão que funciona de THE SIMPSONS: BART'S NIGHTMARE. O hub de onde você entra nas fases não te odeia com a fúria de mil sóis amarelos e os minigames são realmente terminaveis, sabe que não era tão dificil assim consertar THE SIMPSONS: BART'S NIGHTMARE? Era só a Acclaim não ser cuzona... tá, a Acclaim não ser cuzona, isso é meio que bem dificil sim.
Mas enfim, você encontra objetos brilhantes na casa dos Pickles (uma caixa de biscoitos, um saco de tacos de golfe, a boneca Cynthia, etc.) que começam uma ceninha a qual culmina no minigame em questão - o vovô semi senil Pickles levando os bebes para fazer compras, Angelica querendo tomar os biscoitos das crianças, o velho raguru tão comum no cartoon.
A maioria dos minigames são bem bobos, na real. Colete todos os ovos antes que o tempo acabe. Vença uma corrida simples contra outro personagem. Coisas básicas assim, sendo que alguns são baseados em episódios, como Tommy e Chuckie sendo trancados em uma loja de brinquedos à noite (que alias tem uma placa na parede que diz "4 por US$ 1", sem nenhuma indicação de qual era o produto, e eu fiquei pensando o que você poderia comprar 4 por 1 real em 2024... mas divago).
Depois de obter sua 12ª peça do quebra-cabeça, você vai para um nível bônus onde joga como Reptar e destrói a cidade, no melhor estilo Godzilla. O que é realmente curioso que uma fase bonus de um jogo licenciado feito com o orçamento de dois plets e uma bala Xaxá consegue ser um jogo do Godzilla destruindo a cidade melhor do que GODZILLA GENERATIONS... o que realmente me faz temer pelo futuro do Dreamcast, mas novamente divago.
Enfim, no fim da fase bonus você ganha o prêmio final por vencer o jogo, uma cena estranhamente longa de Reptar com uma cartola e uma bengala dançando nos degraus da prefeitura. Outro ponto em que esse jogo supera GODZILLA GENERATIONS, você realmente devia se envergonhar Sega.
Mas enfim, esse jogo não tenta realmente esconder que é um caça-niquels licenciado que pode ser terminado em aproximadamente uma hora, mas suponho que é um jogo feito para crianças menores e na mão delas o jogo deve durar mais... mas então, eu não realmente tenho certeza se vc quer colocar uma criança pequena diante do nightmare fuel que são os gráficos desse jogo.
Mas tá, eu não vou ser chato, se você olhar para Rugrats: Search for Reptar do ponto de vista de uma criança ou de um fã de longa data de Rugrats, é a chance de andar dentro da casa dos seus personagens favoritos e jogar minigames bobos com eles.
Claro, os gráficos são hediondos para o que o PS1 podia fazer na época e os controles são apenas no limiar do funcional, a camera só não é um problema... bem, pq não tem muito desafio nesse jogo realmente, mas em um jogo em um pouquinho mais exigente ela seria materia de pesadelos.
Não é um jogo quebrado ou injogável, e definitivamente não é a abominação que é THE SIMPSONS: BART'S NIGHTMARE, mas... bem, se jogos baseados em licenças de desenhos animados tem a reputação de serem coisas preguiçosas montadas de qualquer jeito pq o que vai vender é o nome mesmo, com certeza é por causa de jogos como esse, eu te digo