domingo, 13 de outubro de 2024

[#1317][Mar/1999] ARMY MEN 3D

Por volta de 1999 com o catastrófico fracasso do 3DO, a 3DO Company já havia seguido o caminho das produtoras de videogames que tomaram uma dura dose de realidade que videogames não são para abilolados que fazem as coisas na moda louca because pareceu uma boa ideia na hora. Hmm, me pergunto que outras empresas biruleibe das ideias aprenderão esta dura lição...


... hã, onde eu estava mesmo?

DE ALGUMA FORMA METENDO A SEGA QUE TÁ QUIETA NO CANTO DELA NO ASSUNTO, ESSA SUA OBSESSÃO PRECISA SER TRATADA...



Bobagem. Eu dizia que em 1999, a 3DO Company já havia entregado os tacos da produção de consoles e focado inteiramente em fazer apenas jogos - como é o caminho dos PERDEDORES - e obviamente que eles não exatamente estavam tendo sucesso nisso pq... hã, você jogou os jogos deles? Bem, eu sim, dezenas deles na verdade... e os horrores que eu vi... os horrors que eu vi... oh deus, faça os pesadelos pararem...

Mas hey, eu não sou de guardar rancor!

JORDAN MECHNER...

Maldito seja você e sua prole, que sua terra seja salgado e seus dias tenham caramujos! Mas eu dizia que, hey, em 1999 o estúdio estava repleto de gente nova que não tinha culpa nenhuma pelos horrores do 3DO, e novas ideiassão sempre algo a se incentivar!

Com efeito, a 3DO tinha uma ideia de fazer um jogo de guerra estratégico como era popular na época, dado o sucesso de COMMAND AND CONQUER. A ideia era boa, só tinha um problema nem tão pequeno assim: fazer jogo de guerra era um saco.

Pq? Bem, pq se vc fizesse um jogo de guerra... boa sorte vendendo ele na Alemanha, o segundo maior mercado da Europa. Bem, tecnicamente é muito raro que o governo decida que certos jogos devem ser proibidos de serem vendidos no país, isso aconteceu poucas vezes na história (sendo MORTAL KOMBAT e WOLFENSTEIN 3-D, por motivos óbvios, os casos mais famosos de jogos que foram banidos).

O que normalmente acontece é que existe um conselho que decide qual restrição de idade se aplica a um jogo - o que não é diferente de em qualquer outro lugar do mundo. O que é diferente, entretanto, é que se um jogo (ou qualquer outra obra de arte, como um filme, uma música) for rotulada como inadequada para menores ela é colocada em um índice ("Index jugendgefährdender Schriften" - "índice de escritos prejudiciais à juventude"). 

Algumas coisas o governo alemão não vai permitir que seu povo faça... espera...

Não é permitido anunciar essa mídia "indexada" de qualquer forma, mesmo que ela não esteja banida, o que quer dizer que é proibido colocá-la em uma prateleira aberta, não é permitido publicar resenhas dela, não é permitido marketing de qualquer forma... tecnicamente, essa mídia só pode ser vendida se um cliente adulto for até a loja e solicitar especificamente por ela, então o lojista pode vender ela por debaixo do balcão. Isso significa que, na prática, uma vez que a obra entra na lista ela está comercialmente morta na Alemanha. 

Eu não vou me meter a cientista político aqui e especular pq a Alemanha tem tanto medo que as pessoas escolham o que consomem por conta própria - suponho que vc pode apostar seu bigodinho nas razões para isso - exceto que ela faz. Verdade que em 2019 a Alemanha relaxou um pouco o regulamento e até alguns jogos de zumbis são permitidos serem vendidos agora - até 2019 jogos como Dead Rising e Dead Island eram proibidos pq a Alemanha não permite violencia contra cadaveres, já que mutilar um cadaver fere "a dignidade do homem".

Isso levou a uma situação onde as distribuidoras as vezes faziam versões exclusivas para o mercado alemão, como por exemplo o clássico CONTRA III: THE ALIEN WARS na Alemanha se chama "Probotector" e todos os sprites do jogo foram mudados para serem robôs, eliminando totalmente a violencia contra humanos no jogo


Tá, mas porque eu estou contando a situação da censura de jogos na Alemanha?  Pq ela é vital para o jogo de hoje, é por isso. Isso pq, como eu disse, a 3DO Company estava latejando de vontade de ter um COMMAND AND CONQUER para chamar de seu... mas viu como a Westwood estava penando com a indexação dos seus jogos.

Uma saída seria fazer duas versões do jogo como muita gente fazia, mas então... cara, isso ia dar um trabalho e gastar um dinheiro que a 3DO preferiria não gastar - tanto o tempo quanto o dinheiro. Qual a solução então?

Em uma entrevista para a Next Generation, o produtor do jogo, Chris Wilson, explicou a solução que eles chegaram: 

The Germans are extremely uptight about realistic violence, so Command & Conquer, for instance, changed all its units into robots and changed some of the cut scenes. But we didn't want to have to do two versions, and very early on in the design process we'd been planning things out with little plastic army men, so we suddenly realized that this was what everyone always likens a game like this to anyway!

Inspirados pelo sucesso de TOY STORY, a ideia era fazer um jogo de guerra usando aqueles soldadinhos de plastico verdes. Você sabe, literalmente os Army Men, uns bonequinhos com poses fixas - que justamente por não serem articulados podem ser feitos em formas e portanto bem baratos de serem feitos as centenas de milhares!

Melhor ainda para a 3DO é que não existe uma patente sobre o brinquedo Army Men, eles são chamados assim e tem os Army Men Green e os Army Men Tan, mas é como as pessoas chamam, não é realmente uma marca que você tem que comprar os direitos ou algo do tipo.

Ou seja, a ideia era perfeita para o que eles queriam em todos os sentidos! Assim nasceu Army Men, o jogo de estratégia para computador em abril de 1998... com um port para Game Boy, sendo que a versão de gameboy foi muito mais bem recebida que a de PC. 

Armu Men para PC

Para esse proposito, a versão de computador era um RTS aos moldes de COMMAND AND CONQUER, a versão de Game Boy era bem mais um top down shooter dado que fazer um RTS no Game Boy... vamo combinar, né? O importante, entretanto, é que a versão original do jogo foi recebida com avaliações mistas - pq era um joguinho bem mediano e esquecível, afinal - enquanto o do Game Boy foi bem melhor avaliado dado que era um joguinho de tiro maneiro dadas as limitações do sistema.

Isso levou a 3DO Company a decisão óbvia: vamos investir no jogo de tiro então, sem dúvida a respeito disso! E assim eles fizeram, nascendo então a iteração de tiro pew pew pew 3D dos seus HOMES DO EXÉRCITO!

Army Men para o Game Boy Color

Nossa história aqui, narrada no estilo daquelas propagandas de guerra dos anos 40, é que Nação Verde foi invadida pela Nação Tan. Muito pouco é dito sobre o que motiva essa guerra ou mesmo o que diferencia os dois lados, mas a informação importante está lá: Verde = bom, Castanho = ruim. Até pq quando você é um cara que nasceu com uma bazuca fundida às suas mãos, suas opções de carreira provavelmente são bem limitadas... mas divago, o importante aqui é que a inteligência Verde relata que os Tan estão montando uma misteriosa super arma que está sendo transportada em três partes. 

Cabe então ao nosso glorioso Sargento entrar no modo full Rambo e resolver tudo no modo só você e Deus no sertão para recuperar as três peças da chave para que você possa não apenas manter a arma longe das mãos de Tan, mas descobrir exatamente o que ela faz. 

Mas tá, agora que você sabe toda a história da produção desse jogo e como um pintor austríaco frustrado foi o direto responsável por ele, vamos a questão que realmente importa: e aí, o pew pew pew é bom? Então...


Antes de eu responder isso, deixa eu explicar uma coisa: entre 1998 e a falência da 3DO em 2003, a empresa produziu algo em torno de 20 títulos da série Army Men (sem contar ports, alguns dos quais poderiam ser considerados jogos totalmente diferentes), e a qualidade desses títulos é... instável, na melhor das hipóteses. Isso quer dizer que a 3DO na verdade estava mais preocupada em estabelecer uma base sólida para explorar com DLCs vendidos como jogos novos, e é exatamente isso que ela faz aqui.

Isso quer dizer que o primeiro jogo de tiro em terceira pessoa tem uma base sólida em cenário. armamento e objetivo das missões... mas meio que vai até aí. O básico tá funcionando? Então tá mais que bom, tchau e bença, quer algo a mais, quer uma mecanica única em algum momento? Compre o próximo jogo da série quando ele sair. Simples assim.

Então enquanto a movimentação e a detecção de acerto dos tiros funciona - até mesmo te dando tempo para desviar dos tiros, o que é bem legal - o jogo nunca vai além do "okay, essa é a engine, isso tá funcionando, embala e vende". Com efeito, não vai demorar muito até você perceber que o seu Sarge é o único soldado competente na guerra inteira. Soldados inimigos não se movem, ou mais precisamente, eles não se movem bem. Às vezes, você os verá correndo pelo campo de batalha em caminhos que eles devem seguir quando você se aproxima, mas uma vez que seus pés estão plantados, eles geralmente só giram para acertá-lo. 

Se você sair da vista, eles não seguem. Jogue uma granada nos pés deles, e eles ficarão ali esperando que ela exploda. Enquanto você se agita atrás da cobertura para atirar neles, eles esperarão pacientemente. Só para tornar as coisas mais patéticas, muitas das armas deles têm alcance muito limitado, e eles são incapazes de fazer qualquer coisa enquanto você fica fora de alcance senão  apenas esperar vc voltar.

O sistema de mapas funciona bastante bem, isso não pode ser tirado do jogo

Nas poucas fases que vc tem aliados, a IA aliada consegue ser pior ainda. Eles são tão idiotas e fracos quanto os inimigos, mas sua missão depende deles sobreviverem a propria burrice e isso é um problema. Em uma missão, você tem que guiá-los por um campo minado, primeiro marcando as minas com um detector. Toda vez que eu interagia com eles, eles davam dois passos, encontravam uma mina que eu não tinha varrido e explodiam. Às vezes, eles ficavam tão animados em me ver que corriam para mim antes que eu pudesse terminar de varrer e imediatamente explodiam. Eu juro que estava me sentindo dando ordens pros Minions, pq a patetice dos bichos chega a ser cinematográfica

Depois, tem os veículos, cuja inclusão parece legal no papel, mas na prática a teoria é outra. A realidade é que eles são um incômodo com o qual só se deve interagir se nenhuma outra opção for possível dado que muito pouco esforço de programação foi dado aos tanques e jipes que você encontra. O som de seus motores é um zumbido estridente, não muito diferente do zumbido de um aspirador de pó, e seus controles são terrivelmente bêbados. Conforme você acelera, a sensibilidade da direção acelera junto, o que significa que um toque suave em velocidade máxima resultará no veículo fazendo uma curva fechada, geralmente em um obstáculo.

Isso quer dizer que todo o básico, o esqueleto está aqui: tem veículos, aliados e armas, mas tudo funciona no minimo aceitável, quando funciona: os veículos parecem inúteis, encontrar soldados aliados ​​incita um sentimento de pavor, e a seleção de armas é tão atrofiada que há poucos motivos para trocar o rifle padrão. Todos estes elementos, é claro, serão expandidos em continuações próprias: vai ter uma focada em veículos, uma focada em armas interesantes, uma que melhora a IA... entende o problema aqui?

Seria um exagero dizer que é um jogo ruim, mas a experiencia toda não tem muito mais esforço que os bonequinhos genéricos feitos as dezenas milhares de uma vez só que são o tema do jogo. Até pq essa franquia também foi feita para trabalhar no mesmo molde, com dezenas de milhares de jogos lançados de uma vez só e poucos deles conseguem romper o limiar da mediocridade - com muitos no reino do serem injogáveis. Mesmo aqueles que podem realmente ser chamados de "agradáveis" vêm com a ressalva de "apesar de seus muitos defeitos". E enquanto esse jogo não é ruim, "agradável" talvez seja uma palavra forte demais para Army Men 3D.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
EDIÇÃO 133 (Novembro de 1998)


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 058 (Janeiro de 1999)


EDIÇÃO 062 (Maio de 1999)

MATÉRIA NA GAMERS
Edição 039 (Março de 1999)