Ah, okay... esse vai ser um daqueles, né? Então, o jogo dos fungos azuis mais famosos dos quadrinhos para PS1 lançado no final de 1999 é um daqueles que é dificil de falar a respeito justamente pq não tem muito exatamente o que falar a respeito dele.
Quero dizer, é um jogo de plataforma voltado para crianças pequenas - o que faz sentido, dado o IP em questão - onde você anda e pula. Como é um jogo de plataforma europeu (afinal que outro lugar do mundo faria 1547 jogos de quadrinhos europeus como Asterix, Smurfs e... hey, CADE O MEU JOGO DO TINTIN PARA PS1?!), você anda como se estivesse no gelo e pula como se estivesse em baixo d'água, a hit detection foi programada com a bunda... você sabe, o velho raguru que você deve esperar de um jogo europeu dos anos 90.
Mas a coisa é... meio que não importa? Quero dizer, é um jogo claramente voltado para crianças entre 5 e 6 anos de idade, tudo é tão básico que nem a mais europeia das europices consegue estragar isso, então... é okay? Hã, é, va lá, dessa vez passa.
Pra não dizer que o jogo não faz nada NADA de diferente, tem tambem um modo Tamagotchi onde você precisa dar coisas para o bebê Smurf pq:
Na verdade o modo "Tamagotchi" é tão básico que empalideceria o próprio Rakuraku Dinokun em pessoa digital, pq aparece na tela o que o bebê quer e você aperta um botão. E é isso. O que, novamente, va lá, é passável para crianças de 5 anos de idade e eu não tenho muito o que argumentar contra isso. Porém isso me deixa com um problema sério: eu ainda preciso falar alguma coisa sobre esse jogo, afinal o trabalho é esse, e não tem muito o que falar.
A jogabilidade é o que eu já disse, os gráficos são até que bem decentes para a época - todas as coisas consideradas - e a duração é de aproximadamente 40 minutos de jogo. O que, novamente, me remete a questão: o que eu vou falar sobre esse jogo então?
Ora, o que vocês não contavam é que eu estava sim preparado! Aha! Isso pq, saibam vocês, esse jogo é mais ou menos (mais para "menos" do que para "mais") no episódio "Once in a Blue Moon", o primeiro episódio da terceira temporada do cartoon de 1981, que por sua vez é mais ou menos (aí um pouco para "mais" do que para "menos") baseado no livro "The Baby Smurf" do mesmo ano que a terceira temporada foi ao ar (vulgo 1984, para quem está tendo dificuldades em fazer as contas).
Então já que eu não tenho nada melhor pra fazer mesmo pq a minha vida deu errado eu estou falando sobre Smurfs para absolutamente ninguém as 7 horas da manhã de segunda-feira, vamos ver qual é a desse episódio...
O episódio começa com os Smurfs fazendo aquelas merdas de Smurf de sempre na floresta — tudo azul, tudo fofinho, tudo “la-la-la” — até que do NADA — PÁÁÁ — A WILD BEBÊ SMURF APPEARS, mano. Sem aviso, sem tutorial, toma que o filho é teu. O que obviamente leva a muitas questões sobre os metodos de reprodução dos Smurfs, questões que a internet já mais do que respondeu ao seu próprio modo eu diria. Mas então tem a porcaria do bebê ali, largado como se fosse encomenda do Amazon Prime para criaturas místicas. E por quê? Porque é lua azul, porra. Não qualquer lua, não... é tipo uma Lua, só que azul. E essa é toda explicação que você vai ter, ainda é um cartoon dos anos 80 e esforço em world building é contra a lei.
A principio, os Smurfs não levam o pacote muito a sério e acham que é uma pegadinha do Joca. Você sabe, a clássica pegadinha do teste de DNA na sua porta, e tratam o cesto como só uma embalagem pq o bebê está em coma ou alguma coisa assim.
Mas enfim, o Papai Smurf explica que após o quase infanticidio culposo, os Smurfs agora tem um bebê pq é claro que eles tem. Ao que os Smurfs PIRAM com o bebê. A Smurfette vira uma princesa da Disney com TPM em overdose de açúcar, o Papai Smurf finge que não tá surtando com a ideia de pensão atrasada, e o Rabugento... bem, continua sendo o Rabugento. Mas até ele começa a derreter feito picolé no micro-ondas. É como se alguém tivesse jogado uma bomba de fralda fofa no meio da vila, e agora TODO MUNDO acha que é pai e mãe de aluguel.
Os Smurfs fazem o que sabem de melhor para cuidar do bebê - ou seja, tocar lá-lá-lá em orquestra ou fazer um bolo cagado em açucar para um bebê recem-nascido. Olha, eu não sou o maior especialista em bebês do mundo nem nada, mas... eu acho que ou eu estou muito mal informado de como se cuida de um bebê, ou esses fungos vão matar essa criança antes do final do dia.
Mas AÍ — plot twist do caralho! A PORRA da cegonha volta dizendo: “Opa, foi mal, endereço errado”, como se tivesse largado um pacote na privada do vizinho. Diz que vai ter que levar o bebê embora. QUÊÊÊ? Cê tá de sacanagem comigo? Quero dizer, quantas comunidades de fungos azuis sensientes existem por aí? Se o bebê não era pra ser entregue ali então existe OUTRA comunidade comunista de Smurfs? Muitas perguntas, nenhuma resposta. O fato é que o bebê tem que ser devolvido, só que a gente não tá falando de meia perdida — é UM BEBÊ DE VERDADE, PORRA.
E a cegonha, com a cara mais lavada do mundo, manda um “Oopsie, tenho que devolver o bebê”, como se essa entrega sagrada de recém-nascido lunar fosse só mais uma cagada logística dos Correios querendo sugar tudo para Curitiba encantada. Resultado? A vila inteira entra em colapso. Smurfette chora rios, a aldeia vira grupo de apoio de trauma emocional, e o Papai Smurf tá um passo de enfiar um Smurf-Xanax goela abaixo.
Mas aí entra em cena o RABUGENTO.
O cara que odeia TUDO. Desde o primeiro minuto já tava rosnando “Eu odeio bebês” com a energia de um emo com gastrite. Só que na hora que vão levar o bebê embora? Ele SURTA. Vira o modo Missão Resgate Bebê, pega o neném nos braços e vaza no meio da floresta correndo igual protagonista de Identidade Bourne: Edição Fralda.
E ele ainda manda um: “NÃO HOJE, CARTEIRO PENUDO.”
Enquanto isso, os outros Smurfs tão em pânico, correndo atrás dele, tropeçando em cogumelo, pisando em bosta de troll, sei lá. E o Rabugento desviando de galho, segurando o bebê como se fosse o Um Anel do Sauron. É o momento MAIS FODA e emocional de toda uma série que é, basicamente, comunismo em forma de cogumelo colorido.
E quando finalmente alcançam o cara? Ele tá lá, sentadinho, segurando o bebê no colo, travando as lágrimas tipo um soldado traumatizado que já viu merda demais na guerra… e ainda solta, na voz mais grave e suave possível: “Eu amo o bebê.”
Tipo… QUÊ? Esse cara, o hater oficial da aldeia, larga essa frase como uma bomba atômica no coração. Eu juro, até quem odeia Smurf deve ter grunhido um “PQP, isso pegou.”Esse momento? É puro LORE do Rabugento. É tipo se o Rambo tivesse um lado sensível e fosse lutar pela guarda compartilhada num mundo feito de balas de goma.
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Porém o momento emotivo do Rabugento é interrompido por um fucking dilúvio, pq essa é a forma de Deus dizer "não fazemos sentimentos aqui, não no meu turno!" |
Aí vem o drama final: Smurfette chorando como se cancelaram o TikTok dela, e o Rabugento pronto pra sair na mão, o que é hilário vindo de um nugget azul do tamanho de uma caixa de fósforos. E então... a cegonha mete um "Ema Ema Ema, cada um com os seus pobrema" e leva o bebê embora. . VAZOU. Trauma emocional em embalagem pastel.
MAS ESPERA. Quando você acha que acabou — BOOM — surge uma SEGUNDA LUA AZUL. Isso mesmo. A PORRA DE UMA SEGUNDA. Porque aparentemente a lua decidiu fazer hora extra hoje. Como se o universo dissesse: “Eita, foi malz, refaz aí.” E olha só quem volta? A mesma merda da cegonha, como se fosse um patch de DLC bugado, e devolve o bebê.
Sem desculpa. Sem recibo. Só um “Tá aqui sua dedução fiscal mágica, foi mal pelo colapso emocional.” E os Smurfs? Comemoram como se fosse o fucking Ano Novo.
Mas espera, o bebê não devia ter ido pra outra comunidade? Então essa outra comunidade tomou no cu, ou ela nunca existiu e o serviço publico da floresta que fez uma merda do tamanho de Roraima? Todas essas são excelentes questões... para as quais jamais teremos uma resposta, pq novamente isso é um cartoon dos anos 80, ninguém gastava meio segundo pensando se as coisas faziam sentido.
Mas então, o que a gente aprendeu?
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Os Smurfs são instáveis emocionalmente.
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Cegonhas são o PIOR correio mágico da história.
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E luas azuis são basicamente Deus Ex Smurfina no roteiro.
Sobe os créditos, bebê dá risadinha, tela fica azul.
E... é isso o episódio. Moral da história: eu sei que já disse isso antes nesse blog em várias oportunidades, mas cara, se tem uma coisa que eu não sinto falta nessa vida são os cartoons dos anos 80. Eu sinto pelos animadores que tinham que baixar a cabeça e fazer essas coisas genéricas pra pagar os boletos, mas já faz quarenta anos que essa decada desgraçada passou e ainda não tá longe o bastante. Sem mais, chega de patifaria por hoje.
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
EDIÇÃO 146 (Dezembro de 1999)