quinta-feira, 3 de abril de 2025

[#1437][Nov/1999] TUROK: Rage Wars


Então... Turok: Guerra dos Boladão... certo, suponho que eu tenha que começar sendo honesto aqui porque quando eu ouvi falar desse jogo, minha reação inicial foi algo tipo: "Espera... o quê? TUROK 2: Seeds of Evil já não tinha um modo multiplayer perfeitamente funcional? Qual diabos é a necessidade de um jogo dedicado exclusivamente ao multiplayer?" E, honestamente, ao começar a jogar esse jogo o sentimento meio que não mudou muito.

Vamos a isso então, Turok: Rage Wars é... bem, é Turok, duh. Isso quer dizer que você corre por aí, atira em coisas (principalmente dinossauros, naturalmente), e há um número obsceno de armas ridículas e exageradas. Parece familiar? Sim, porque é praticamente o mesmo jogo que TUROK 2: Seeds of Evil só que dessa vez sem um modo campanha

Isso quer dizer que tudo que vem nesse cartucho é uma uma série de arenas onde você pode explodir seus amigos em pedacinhos - ou alguns bots de IA, porque convenhamos que se você está lendo isso, as chances de você ter amigos não é exatamente alta. Você escolhe seu boneco de uma lista surpreendentemente diversificada, que vai do clássico Turok a raptores enormes e até alguns personagens mais… únicos, vamos colocar assim. 

Então, é um cada um por si (ou cada time por si, dependendo do modo de jogo) enquanto você corre para pegar armas, power-ups e o high ground para derrotar Anakins enquanto tenta evitar virar comida de dinossauro ou vítima de um Cerebral Bore bem colocado.

Sim, a famosa perfuradora cerebral porque Rage Wars traz de volta o arsenal icônico que os fãs de Turok conhecem e amam. Estamos falando do Tek Bow com suas flechas explosivas, o devastador Shredder que mastiga os inimigos como manteiga e, claro, o lendário Cerebral Bore – uma arma tão deliciosamente horripilante que ficou em terceiro na lista da IGN de melhores armas da história dos videogames de todos os tempos (atrás apenas da BFG de DOOM, em segundo, e da Master Sword da franquia Zelda)

Para os não iniciados, o Cerebral Bore é uma broca que vai lenta e dolorosamente perfurando o crânio de um oponente e… bem, vocês podem imaginar o resto. É tão satisfatório agora quanto era em 97, e acertar um Bore em um amigo no multiplayer ainda é um momento de puro e indisfarçável schadenfreude. Claro, seria mais MAIS legal se Rage Wars trouxesse armas novas, mas então pelo menos o arsenal de Turok é divertido o suficiente para não ser a pior coisa do mundo jogar com ele novamente.

TÁ, ISSO É LEGAL E TAL, MAS... VOCÊ AINDA NÃO RESPONDEU PRA QUE ESSE JOGO EXISTE SE TUROK 2: Seeds of Evil JÁ TEM UM MODO MULTIPLAYER

Então, Jorge, TUROK 2: Seeds of Evil de fato apresenta um modo multiplayer com suas próprias arenas. Então, qual é o sentido de Rage Wars? Pra que dedicar um jogo inteiro a algo que já estava presente no jogo anterior?

É aqui que reside a principal diferença: foco e design. Enquanto o multiplayer de TUROK 2: Seeds of Evil parecia mais um recurso bônus anexado à massiva campanha para um jogador, Rage Wars foi construído desde o começo com o multiplayer em mente. Ainda usa a mesma engine de TUROK 2: Seeds of Evil, mas varias alterações nela foran feits pensando nessa experiencia.

Pense assim: TUROK 2: Seeds of Evil é uma aventura grandiosa onde você também podia ter algumas escaramuças divertidas com seus amigos. Rage Wars foi a arena dedicada onde essas escaramuças assumiram o centro do palco desde o começo, o que quer dizer uqe o level design de Rage Wars reflete essa mudança. Aqui você não vai encontrar as selvas extensas e enevoadas e os templos antigos repletos de espaços vazios de TUROK 2: Seeds of Evil

Em vez disso, você tem arenas mais compactas e focadas, criadas especificamente para combates rápidos e intensos. Esses mapas são projetados com o posicionamento de armas e power-ups em mente, incentivando o movimento constante e o pensamento estratégico.

Os modos de jogo tambem refletem esse ethos: enquanto o single-player de TUROK 2: Seeds of Evil era todo sobre exploração, resolução de quebra-cabeças e sobrevivência a hordas de inimigos diversos, Rage Wars simplifica tudo ao seguinte núcleo: sobreviver e atirar. 

Ainda existe um modo single-player em Rage Wars, mas ele é menos uma campanha e mais uma série de desafios para realizar na arena ("mate X inimigos com 3 vidas", "capture a bandeira X vezes", etc)e modos de sobrevivência, meio que como um modo de treinamento para a verdadeira razão do jogo – o multiplayer.

Outra diferença fundamental reside no elenco de personagens. O multiplayer de TUROK 2: Seeds of Evil apresentava principalmente variações do próprio Turok. Rage Wars, no entanto, apresenta um zoológico inteiro de personagens jogáveis. Quer sair por aí como um enorme End Trail Guard? Vá em frente. Quer ziguezaguear como um Raptor mortal da morte mortífeta? Fique à vontade. 

... espera... então você pode realmente jogar como um DINÓCERO? Seria este o lendário jogo em que você pode apenas se divertir como um DINÓCERO que eu tanto sonhei neste blog e por anos a fio a indústria dos videogames me negou este simples sonho humilde?

Não, claro que não. Continua sendo a regra mais fundamental da industria dos videogames que eu jamais, em hipotese alguma, serei feliz jogando como um dinossauro. Aqui, enquanto você pode de facto jogar como um raptor e ele é bem ágil, você está limitado a ataques melee em um jogo marcado pela eficiencia e criatividade das suas armas de fogo. Meh, okay, mas não a melhor experiencia.

A parte importante disso tudo, entretanto, é que como o jogo não tem que processar areas que vão daqui a Tangamandápio, como todo cenário é mais compacto em uma area bem menor, esse jogo roda bem mais dinamico e rápido que seu predecessor, o que funciona bem para um jogo focado no PVP e passa ainda mais a sensação de gottagofast gogogo. Então enquanto o jogo usa exatamente a mesma engine, como consumir menos recursos do videogame faz tudo ser mais rápido acaba gerando uma experiencia de FPS bastante diferente no fim do dia.

Enquanto estou aqui, pensando mais sobre isso, estou começando a ver a… lógica por trás de Rage Wars, mesmo que eu não o chame necessariamente de uma obra-prima inovadora. O multiplayer de TUROK 2: Seeds of Evil, embora funcional, parecia um pouco improvisado. Não era o foco e não tinha o mesmo nível de polimento ou design dedicado da campanha para um jogador. Rage Wars, por outro lado, disse: "Quer saber? As pessoas realmente gostam de atirar em dinossauros (e uns nos outros) com armas ridículas. Vamos apenas fazer ISSO."

Faz mais sentido ainda quando você pensa no contexto do cenário de jogos do final dos anos 90, onde os jogos de arena (especialmente online) estavam na moda, como UNREAL TOURNAMENT ou QUAKE 3 ARENAmeio que faz sentido que a Acclaim tivesse pensado "hey, as crianças gostam disso e não tem nada assim nos consoles domésticos, a gente pode lençar uma coisa para atender esse público no Nintendo 64 e enquanto não vai ficar tão bom quanto um FPS de PC online... não é como se eles tivessem opção melhor realmente". 

Então a minha conclusão é que de repente eu acho que Turok: Rage Wars é uma parte essencial do cânone Turok? Não exatamente. Ainda acho que eles podiam apenas ter feito um modo multiplayer mais robusto dentro de TUROK 2: Seeds of Evil. Mas consigo ver o apelo para aqueles que queriam principalmente um jogo de tiro de arena sem frescuras e com tema de dinossauros. É uma experiência multiplayer mais focada e desenhada especificamente para isso.

O resultado não é um jogo que eu particularmente amo, e ainda mantenho que sua existência parece um pouco… redundante. Mas eu entendo agora. É o universo Turok destilado em uma experiência multiplayer pura e competitiva. São as Olimpíadas do Cerebral Bore. E nesse contexto, sim, ok. Faz um certo sentido. Ainda não é um jogo que eu lembrarei nas minhas memórias póstumas quando a minha hora chegar e toda minha vida passar diante dos meus olhos... exceto se for para lembrar todas as vezes que eu não fui feliz jogando com um DINÓCERO, pq sério caras, o quão dificil pode ser fazer isso?

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
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