sábado, 5 de abril de 2025

[#1439][Out/1998] GAUNTLET LEGENDS


Certo, antes de começar eu sou moralmente obrigado a informar que a minha relação com o GAUNTLET original de arcade - e seus respectivos ports - é tão calorosa e amigável quanto uma lavagem intestinal com cactos. Porque se tem alguma coisa que grita pra mim tudo que havia de errado com os arcades daquela época, se existe um símbolo máximo de como os anos 80 eram sobre achacar o seu dinheiro e foda-se, esse símbolo pra mim é GAUNTLET.

Sério, eis o que eu disse de GAUNTLET cinco anos e meio atrás nesse blog:
Mas isso quer dizer que a Atari não inventou nada interessante para a época? Hmm, não exatamente. Em primeiro lugar, como todos já devem saber, eram máquinas construídas com o objetivo de tirar a maior quantidade de dinheiro das crianças no menor espaço de tempo possível. E deu. Sim, os bons e velhos tempos, não é que nem hoje que os desenvolvedores são gananciosos e só querem lucro, yada yada yada.

Enfim, todos arcades faziam isso, porém em Gauntlet elevou isso a um status de arte: aqui sua vida esta sempre diminuindo e você precisa ficar pegando comida para não morrer. Se tomar dano ela diminui mais rápido, porém só de existir ela diminui. Porque, yay, pra que esperar o jogador morrer se nós podemos fazer ele perder a ficha apenas por existir?

Genius, puro genius. Anos 80 de merda, bando de retardados vou te contar viu...
 "Warrior needs food badly"? Mais para "Sua carteira precisa ser esvaziada rapidamente."

VOCÊ REALMENTE ERA TÃO GENTIL EM 2019 QUANTO É HOJE, PELO QUE EU VEJO...

Eternamente um gentleman, é o meu lema. Mas enfim, meu ponto é que aquele buraco negro de moedas também era um vazio criativo que oferecia tanta profundidade quanto uma poça d'água. Eu não vou entrar em detalhes aqui porque eu literalmente já escrevi umaa review sobre isso (vide meu texto de GAUNTLET), mas estou contando isso para deixar claro que eu vi que teria que jogar a sequencia Gauntlet Legends, mesmo ele prometendo uma abordagem mais "moderna" da fórmula, eu fiquei compreensivelmente cético. 


Mas, olha só, kudos onde kudos são devidos, não é que os cars realmente tentaram? Quer dizer, eles colocaram power-ups! Power-ups de verdade! Quase uma dezena de power ups que dão ataques diferentes alterando a frequencia, dano e/ou tamanho dos seus projeteis, ou que mudam sua velocidade... enfim, power ups, como em um jogo de verdade! Foi como sair de comer crostas de pão amanhecidas para... crostas de pão levemente menos amanhecidas, mas hey, é um progresso!

Porém power ups não são a única qualidade de vida adicionada nessa continuação 3D, por exemplo: quando você aperta um botão pra abrir uma porta, o jogo tem a cortesia de apontar em que direção está a porta que abriu ao invés de apenas rir da sua cara enquanto você vaga pra cima e pra baixo como um idiota.


Quer dizer, eles podiam apenas ser cuzões e deixar você patetear pra aumentar artificialmente o tempo de jogo... mas não. Os desenvolvedores aqui foram bastante decentes com o jogador, na real. E "decência humana minima" é uma das ultimas coisas que eu esperava de um jogo de Gauntlet. Pequenas vitórias, gente, pequenas vitórias.

E em um verdadeiro esforço para parecer um jogo de verdade, eles foram além e adicionaram coisas como ostentar colecionaveis para desbloquear fases secretas e batalhas contra chefes de verdade. Por mais estranho que seja dizer isso (especialmente depois do que aconteceu em SHADOW MAN), aqui ninguem pode acusar a Midway de não ter tentado. 


Mas tá, eu concedo que eles tentaram, certo. Só que essa repentina explosão de (relativa) engenhosidade transformou Gauntlet em algum tipo de obra-prima esquecida? Nah, nem perto. Ainda é Gauntlet, só que em 3D. O que significa que ainda é repetitivo pra caramba, você vai ficar hackeando e cortando hordas dos mesmos velhos goblins, fantasmas e demônios até seus polegares sangrarem e seu cérebro virar mingau. 

A grande diferença é que, alem de não ter mais a coisa de perder energia só por existir porque PQP véi, é que desta vez você tem um arsenal um pouco maior de maneiras de fazer a mesma coisa de sempre. Pense nisso como fazer um upgrade de uma faca de manteiga enferrujada para um abridor de cartas ligeiramente menos enferrujado.

Visualmente, não tem como adoçar a pílula: Gauntlet Legends não é bonito. Na verdade, é meio feio para sua época. Mas há um certo... charme? Não, charme não é a palavra aqui, mas esse jogo tem sim algo acontecendo por ele.


O que esse jogo não usa para fazer gráficos bonitos, ele compensa com o número absurdo de inimigos que eles conseguem colocar na tela ao mesmo tempo. A versão 2D do jogo já fazia isso, mas essa quantidade de bonecos em 3D é muito mais dificil de fazer e não deixa de ser uma conquista tecnica impressionante ... a menos que você esteja preso à versão do PlayStation 1.

Ah, o pobre e velho PS1. Abençoado seja seu coração de 32 bits, ele simplesmente não conseguia acompanhar os meninos grandes da época quando se tratava de contagem de coisas na tela. Então, o que você tem no PS1 é o mesmo jogo feio, mas com significativamente menos coisas para bater. Então vc fica com o aspecto negativo e perde completamente o positivo que as outras versões ganham em troca. O pior de dois mundos. 


E por falar em variedade (ou a falta dela), vamos dar uma olhada nas Classes de Personagens. A coisa é que todas as classes mais ou menos acabam parecendo no fim do dia: to Warrior que é lento e arremessa machados, depois vinha a Valkyrie que é menos lenta e arremessa espadas, aí tínhamos o Wizard, o mestre dos raios coloridos  e  por último, mas não menos esquecível, o Archer, que passava o tempo todo correndo e atirando flechinhas que pareciam cócegas nos inimigos. Escolher um deles não mudava fundamentalmente a experiência de apertar os botões até seus dedos caírem, mas pelo menos dava pra variar um pouco a skin do seu avatar da mesmice.

Agora, se tem uma coisa que chegava perto de tornar Gauntlet Legends remotamente divertido, era o Multiplayer Caótico. Juntar quatro amigos (de preferência aqueles que você não se importa de xingar um pouco) é a melhor (e talvez única) maneira de extrair alguma faísca de diversão dessa repetição infinita. 


Gauntlet Legends funciona melhor como um festival de gritos, cada um correndo desesperadamente para agarrar os power-ups antes dos outros, invariavelmente alguém acaba preso em alguma textura bugada ou tentando atravessar uma parede que não existe. Um caos coordenado (ou melhor, descoordenado) que, de alguma forma, funcionava. E funcionava bem em todas as versões... menos, é claro, na pobre coitada da versão de PlayStation 1. Aquele console guerreiro só aguentava dois jogadores, e mesmo assim, o framerate sofria tanto que parecia que o jogo estava rodando em uma torradeira debaixo d'água. Tá foda pro PS1zinho hoje.

Em seu esforço para parecer com um jogo de verdade, GL também tem um sistema de level up... mas honestamente, não espere muita coisa disso também. Sim, entre uma horda e outra de inimigos genéricos, o jogo te dava a oportunidade de aumentar alguns atributos básicos do seu personagem, mas não é como se você sentisse muito diferente aumentando seu ataque. Você pode gastar horas farmando e XP gold para, no final das contas, ficar... um pouquinho mais resistente? Dar um ataque menos a cada 10 segundos? Não exatamente material pra escrever para casa a respeito.


A história é único outro aspecto do jogo que eu realmente gosto (depois do narrador de Mortal Kombat fazendo um bico aqui, os berros dele de power up e level são o puro suco de fliperama dos anos 90 e isso é cool), não ironicamente mesmo, é a sua história. Eis o que rola: era uma vez um mago do mal que odiava o bem chamado Garm. Garm queria dominar o mundo e para isso conjurou não apenas um demonio, mas o senhor de todos os demonions, a malignidade em diabeza, a capirotice máxima na forma de um cramuião chamado Skorne.

E como isso acabou para o maligno Garm, você pergunta?



Eu ri, vai. Tomou no cu, otário. Mas bem, suponho que agora ALGUÉM tem que limpar a bagunça, pedras elementais, banir o demonio de volta para o inferno, o velho raguru de sempre.

Então, Gauntlet Legends é bom? Objetivamente? Provavelmente não. É melhor que o jogo de arcade original? Absolutamente, inequivocamente, sim. É como comparar um canal radicular a bater o dedinho do pé na quina do móvel. Ambos são ruins, mas um é claramente menos agonizante. 


Se você é um fã ferrenho de Gauntlet (e eu genuinamente não te entendo se você for, mas ei, sem julgamentos... no melhor que eu puder fazer), ou se você tem um fascínio estranho por jogos 3D antigos lutando pra ver quantos bonecos eles conseguem colocar na tela antes do hardware implodir em uma bola termonuclear de chamas (exceto no PS1, coitado), então talvez, haja algo aqui para você. 

Para o resto de nós? Esse jogo é repetitivo e chato pra caramba, mas bem, pelo menos eles tentaram. E no mundo dos videogames, às vezes, isso é quase o suficiente. Quase.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
EDIÇÃO 138 (Abril de 1999)


EDIÇÃO 154 (Agosto de 2000)


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
EDIÇÃO 061 (Abril de 1999)


EDIÇÃO 068 (Novembro de 1999)


MATÉRIA NA GAMERS
EDIÇÃO 045 (Outubro de 1999)


EDIÇÃO 062 (Abril de 2000 - Semana 4)


EDIÇÃO 068 (Junho de 2000 - Semana 2)