A Casa dos que Comeram Capim Pela Raiz — também conhecida como The House of the Dead — é uma das franquias mais longevas e tradicionais da Sega. Desde 1996, já são mais de 18 jogos lançados, com o mais recente, House of the Dead 2: Remake, saindo agora em 2025. Ou seja, a série está mais viva do que nunca... e todo mundo já sabe a piadoca que eu vou fazer aqui sobre uma franquia de zumbis. Podemos seguir adiante.
ESPERA, SE É UMA FRANQUIA TÃO GRANDE, COMO VOCÊ NUNCA FALOU DELA? ESPECIALMENTE VOCÊ, QUE NÃO PERDE UMA CHANCE DE FALAR MAL DA SEGA?
Primeiramente, Jorge... ouch. Minhas análises são sérias, equilibradas e absolutamente imparciais.
AHAM, SEI...
Segundamente — e aqui vai a real — eu nunca falei de House of the Dead por um motivo muito simples:
Eu não falo de shooters on rails porque... honestamente, eu acho esse gênero insuportavelmente chato de jogar. Simples assim, meu blog, minhas regras. Não é nem (dessa vez) culpa da Sega. É só que esse tipo de jogo nunca me pegou. Mas Zombie Revenge? Bem, esse é um zumbi de uma cor inteiramente diferente.
Antes de mergulharmos de cabeça nessa carnificina beat ’em up, vale colocar os pingos nos “is”: Zombie Revenge não é um título da linha principal da franquia, mas sim um spin-off. Dentro dessa linhagem grotesca da House of the Dead, os shooters on rails são maioria esmagadora — você sabe, aqueles jogos de arcade onde você segura uma pistola de luz e grita "AAAARGH!" enquanto a tela anda sozinha.
Mas a Sega, eu tenho que reconhecer este mérito na minha inimiga, sempre está tentando coisas novas (principalmente pq as antigas raramente funcionam, mas enfim), e HotD não é exceção. Já tivemos The Typing of the Dead, porque claro, digitar palavrões em inglês é uma arma legítima contra o apocalipse ou então teve House of the Dead Pinball, porque aparentemente nada diz "terror" como um zumbi quicando em cima de um fliperama psicodélico.
Porém dentre os spin-offs da franquia, o meu favorito é de longe Zombie Revenge onde a Sega disse: “Cansados de atirar em zumbis em um trilho? Que tal atirar em zumbis no formato briga de rua?”. E sabe, esse que transforma transformar uma série de tiro em um beat'm up é uma das melhores ideias que a Sega já teve. Então prepare seu melhor tapa de mão flamejante e ajuste o afro — porque, nesta resenha, vamos descobrir por que Zombie Revenge se tornou o primo distorcido e inesquecível da família House of the Dead.
Então, a primeira coisa que precisa ser dita é que Zombie Revenge é um jogo que nasceu na hora errada, no lugar errado. O pobre coitado foi lançado justo quando os jogos de arcade estavam sendo chutados escada abaixo pela indústria, enquanto o mundo virava os olhos para RPGs cinematográficos de 40 horas, ou então para hack’n slashs ultradinâmicos cheios de partículas e espadas do tamanho de um Fiat Uno.
Os beat ‘em ups cooperativos de dois jogadores e seu ritmo lento e repetitivo estavam virando peças de museu. E pra piorar, estávamos entrando na sombria era do “adeus ao Engrish”, aquele maravilhosamete horrível que dava alma aos jogos japoneses mal traduzidos. Triste mesmo.
E é realmente uma pena que quase ninguém estivesse prestando atenção nessa época... porque Zombie Revenge é, honestamente, um dos melhores (e derradeiros) exemplares de beat ’em up bem feito. Um jogo sólido, suculento, cheio de personalidade — com um sistema de tiro surpreendentemente competente, uma variedade enorme de cenários, chefes maravilhosamente bizarros, e toneladas — TONELADAS — de armas diferentes pra você destroçar zumbis com estilo e carinho.
O jogo funciona quase como um sucessor espiritual dos outros beat ’em ups 3D da Sega, tipo DIE HARD ARCADE e DYNAMITE COP!. Mas aqui, a Sega simplesmente disse: “Dobrar o número de armas? Nah... vamos triplicar isso, apenas porque sim”. O que, convenhamos, faz muito sentido para um spin-off de uma franquia famosa por transformar cadáveres em peneiras de chumbo.
Agora, verdade seja dita: Zombie Revenge é um pouco mais contido no uso de objetos do cenário como armas (infelizmente, não dá pra pegar um relógio cuco e estourar na cabeça do defunto, como em DIE HARD ARCADE). Mas ele compensa isso com uma absurda variedade de pipocos que você pode descarregar nos presuntos. A vibe aqui lembra o clássico ALIEN VS PREDATOR de arcade — só que com detecção de colisão mais satisfatória e mais explosões.
Esse foco maior nas armas - porém sem deixar de ser um beat'm up - adereça um dos maiores problemas do genero: a repetitividade. Aqui não é apenas sobre socar e andar pra frente já que você tem que gerenciar sua munição e alternar com sair no soco, sempre tem alguma coisa para te manter ocupado pela quase uma hora que o jogo dura. Tá, eu sei que não é muito, mas então... cara, é um beat'm up, a barra aqui é realmente baixa e não são tantos os jogos assim que passam por ela sem os óculos de nostalgia. Sim, Tartarugas Ninja 2, estou olhando pra você.
No quesito pancadaria, Zombie Revenge entrega tudo. Você pode bloquear, esquivar, correr, dar combo, ativar o “extra joy” (que nome maravilhoso), estrangular e explodir cabeças com uma doçura que faria George Romero chorar de orgulho. As armas? De tudo um pouco: lasers, lança-chamas, brocas gigantes, minas terrestres, e até uma guitarra-armada estilo El Mariachi. Porque claro que sim.
Os zumbis também não ficam atrás. Tem zumbi que morde, zumbi que soca, zumbi que atira com DUAS armas ao mesmo tempo e, claro, o clássico “vômito explosivo de longa distância”. Sério, como esses cadáveres conseguem vomitar com tanta força? Eles têm diafragma de maratonista?
O DIAFRAGMA NÃO É O QUE FAZ O VOM... AH, DEIXA PRA LÁ, É UMA BATALHA PERDIDA MESMO...
E a variedade? É um festival: zumbi dançarino fã de beisebol, zumbi-macaco, zumbi-planta, zumbi-cabeção, zumbi-elétrico… e o MELHOR de todos: o zumbi que você vira quando morre. Sim, você cai, levanta como morto-vivo e parte pra cima do seu ex-colega de equipe. É esse tipo de detalhe que mostra o carinho da Sega na criação desse delírio digital.
Isso tudo faz de ZR um beat'm up mecanicamente satisfatório onde bater (ou atirar) nas coisas é muito gostoso - o que meio que é uma coisa importante em um jogo em que tudo que você faz é bater (ou atirar) nas coisas. Sim, eu sei, minhas analises são tecnicamente muito sofisticadas. Se tivesse parado aí, já seria bom o suficiente... só que então temos a arma secreta da franquia House of the Dead: o quão fabulosamente ruim sua história é!
UÉ, E DESDE QUANDO SER RUIM É VANTAGEM?
Quando você faz isso do jeito certo... oh, sim, é cinema. Porque House of the Dead sempre entendeu perfeitamente a arte de abraçar, sem pudores, toda a estética gloriosa do horror trash dos anos 70 e 80. Misture isso com uma pitada generosa de blaxploitation, polvilhe com Engrish de dar arrepios — não de medo, mas de pura delícia linguística — e você tem algo que transcende o simples "jogo ruim divertido". Você tem ABSOLUTE CINEMA.
E a história de Zombie Revenge é o puro suco dessa proposta. Você controla três agentes da AMS (sim, a mesma agência de House of the Dead), presos numa cidade tomada por mortos-vivos. O motivo? Um plano obscuro do governo chamado Projeto U.D.S., que consistia basicamente em usar cadáveres como armamento biológico — para surpresa de zero pessoas — obviamente deu errado. É claro que deu. Um ano depois, a cidade está tomada por zumbis. É claro que está.
É aí que entram nossos heróis de hoje: o galã Stick Breitling e seu maravilhoso nome de ator pornô, a agente Linda Rotta e seu trocadilho infame (ela literalmente se chama "Linda Apodrecendo" pq é um jogo de zumbis, sacaram? Hã? Hã?) e Rikiya Busujima — a cruza de Charles Bronson com Bruce Lee, pq é claro que o jogo teria uma cruza de Charles Bronson com Bruce Lee. Que só fala em japonês. E que tem um retalho de Monstro de Frankenstein costurado na cara.
Seja como for, a missão é limpar a cidade de zumbis e descobrir quem é o tal "Zed", o cérebro por trás da carnificina. Spoiler: Zed não está só no comando — ele também é um dramalhão ambulante. No melhor estilo vilão de novela das oito, ele revela que o pai de Stick fazia parte do Projeto U.D.S., e que os próprios pais dele foram assassinados pelo governo. E como todo vilão que se preze, Zed quer vingança... A VINGANÇA DOS ZUMBIS™.
E pra fechar com chave de ouro o teatrinho necro-existencial, Zed injeta em si mesmo um U.D.S. ultra-poderoso e se autoproclama "Deus da Destruição". Porque claro. Mas nossos três agentes chutam traseiros podres, colocam o bicho de volta no buraco e salvam o dia — tudo isso com muito estilo, frases ruins e animações ainda piores. É lindo. É puro Sega. É Zombie Revenge.
O que torna a narrativa de ZR particularmente memorável, são dois aspectos distintos: primeiro, o quão PAVOROSA a dublagem é. Sério, as falas são lidas com tanta falta de energia que parece que socaram duas caixas de Rivotril goela abaixo dos dubladores e então apontaram uma arma pra obrigar eles a lerem os textos. Especialmente o dublador do Zed, parece que toda e cada fala dele está pela metade e que ele apenas foi embora no meio da frase.
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Eu não acho que essas são as palavras que você gostaria de usar, miss Rotta.
A Sega estava tão inspirada nesse dia que até mesmo se prestou a resolver o maior problema dos seus jogos em consoles domésticos: a falta de conteúdo - o que não é problema em um arcade onde vc joga por ficha durante 5 minutos, mas que sim é uma coisa muito negativa quando voce paga 60 dolares para ter um jogo, como eu expliquei na review de CRAZY TAXI.
EDIÇÃO 146 (Dezembro de 1999)
EDIÇÃO 061 (Abril de 1999)