terça-feira, 22 de abril de 2025

[#1456][Nov/1999] PAPERBOY

The Daily Sun

ENTREGANDO A VERDADE, UM POLÍGONO DE CADA VEZ

By C² | November 4th, 1999

Paperboy Retorna — And dessa vez, ele está entregando 3D

Quando Paperboy foi lançado nos arcades em 1984, era um videogame revolucionário: não só a máquina de arcade tinha um guidão de bicicleta como joystick, e a jogabilidade era impressionante para a época com diversos alvos possíveis na tela e várias animações diferentes dependendo do que você acertava. Para 1984, era impressionante.

Quando Paperboy 2 saiu em 1991, era bem menos impressionante. Nos ultimos sete anos os videogames evoluíram muito e agora já tínhamos jogos como Street Fighter 2, A Link to the Past  e Mega Man 4, de modo que a simples entregação de jornal já era apenas uma tolice que seria apenas um minigame dentro de um jogo maior.

Imagine então em 1999 quando a High Voltage Software’s decidiu trazer a franquia para o 3D. A boa notícia é que a conversão para o 3D foi bastante digna e dá pra dizer que o jogo manteve sua identidade em três dimensões. A notícia ruim é que isso quer dizer que na prática, na prática mesmo o que mudou foi que agora vc tem que lutar com a camera de vez em quando, pq a jogabilidade não mudou muita coisa realmente.  

Agora você pode vagar pelos bairros, fazer acrobacias, desviar de perigos e jogar jornais em uma realidade que se recusa a fazer sentido — em vez de cachorros e bueiros, o jogador agora é perseguido por cortadores de grama ensandecidos, crianças demoníacas e, claro, a maior ameaça de todas: a câmera do próprio jogo.

NÃO SÃO GRÁFICOS RUINS, É UMA ESCOLHA ARTÍSTICA

Na época, os críticos detonaram os gráficos do jogo e eu entendo o ponto: ele é realmente feio para um jogo de 1999. A coisa é, no entanto, que eu acho que esses gráficos são mais uma escolha artistica deliberada do que incompetencia dos seus criadores. A estética lembra o videoclipe de Money for Nothing misturada ao caos dos desenhos animados de meados do século, eu meio que gosto da coisa que foi mais detonada em Paperboy 64, tenho que dar isso a eles.

Tudo é ousado, quadrado e assumidamente low-poly. Os personagens têm membros como palitos de pão e cabeças como balões de festa. Prédios se inclinam, árvores se contraem e, ainda assim, de alguma forma — ou justamente por isso — funciona. 

TODA MAGIA DE 1984, NO CONFORTO DE 1999

O gameplay ainda é essencialmente o mesmo de 1984, a grande diferença é que agora Paperboy (ou Papergirl, olha a inclusividade) em algumas fases oferece total liberdade de movimento, permitindo que os jogadores pedalem em qualquer direção, realizem acrobacias de bike, e desbloqueiem power-ups como aumentos de velocidade e saltos elásticos. O jogo agora tem até lutas contra chefes, colecionaveis, fases desbloqueáveis, o pacote completo, acredite você ou não. Não é em todas as fases, mas com alguma frequencia você não está mais preso a um único caminho de rolagem, você está livre para explorar o bizarro sandbox suburbano e planejar sua rota perfeita de entrega de jornais — ou morrer tentando.

Mas com grande liberdade vêm grandes obstáculos. Você ficará preso em cercas. Sua mira irá traí-lo. Seu tiro perfeito irá ricochetear em um meio-fio e cair em uma sarjeta. Não dá pra dizer que eles não tentaram fazer Paperboy parecer um jogo moderno, isso tem que ser dado a eles.

ESSE PASSEIO DE BIKE É REALMENTE NECESSÁRIO?

Paperboy 64 é um bom jogo? Tecnicamente, suponho que sim. Mas é divertido? Aí já tenho que dizer que acho que não. Verdade que não posso dizer que eles não fizeram o que era humanamente possível para transformar o arcade de 1984 em um jogo de 1999 sem perder sua identidade. Quer dizer, suponho que eles poderiam totalmente fazer um jogo de plataforma 3D em uma bicicleta, mas então não seria realmente Paperboy, seria?

Então até onde dava, eles realmente deixaram o jogo com cara de um jogo moderno. O problema é que "até onde dava" não é realmente muita coisa. 

EM OUTRAS NOTÍCIAS:

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
EDIÇÃO 147 (Janeiro de 2000)


MATÉRIA NA GAMERS
EDIÇÃO 046 (Dezembro de 1999)