Agora "The Muppets" é um caso curioso na minha vida: embora o programa nunca tenha passado em TV aberta, ainda sim é algo pelo qual eu tenho bastante carinho. Em primeiro lugar, eu conheci os Muppets pelo desenho animado spin-off "The Muppet Babies" que era uma versão dos personagens como bebês (o que era uma moda na época, vide Tom e Jerry Kids ou O Pequeno Scooby-Doo). Durante muitos anos eu nunca soube que Muppet Babies era um spin-off de outro programa, pra vc ver como a informação funcionava naquela época...
De qualquer forma, o que importa realmente é que Muppet Babies é um desenho dos anos 80 que realmente era bom! Ao que só podemos reagir da seguinte forma:
Eu não faço muito segredo o quanto eu acho que os desenhos dos anos 80 eram absolutamente terríveis, até porque eles eram apenas comerciais de brinquedos de meia hora sem nenhum outra razão de existir. Não é realmente chocante que essa era é chamada "Dark Age of Animation", pq a coisa é terrível desse jeito.
Muppet Babies, entretanto, não parecia particularmente preocupado em te vender nada e sim apenas ser um desenho divertido. E olha só, não é que era?
Se no programa de televisão original os bonecos contracenavam com cantores, artistas e celebridades da época, no cartoon os personagens interagiam não com versões animadas dessas pessoas, mas com cenas de filmes, imagens de programas de TV e tudo mais que a imaginação dos criadores pudesse inventar. O que foi uma sacada muito mais interessante e dava um tom único ao desenho animado, era comum um personagem abrir uma porta e se deparar com um Tie Fighter de “Guerra nas estrelas” ou um monstro de sci-fi Pulp dos anos 50, por exemplo.
Os episódios não tinham muita estrutura, apenas os criadores iam soltando a imaginação com o que viesse a mente em uma espécie de trisavô de Rick e Morty. Por exemplo, no primeiro episódio eles estão tentando fazer o Animal sossegar o facho e vão tentando todo tipo de coisa, incluindo aí colocar ele para assistir televisão. Aí do nada o Gonzo entra na televisão e já vira uma paródia de Superman com o Gonzark Kent e miss Piggy Lane. Aí o Animal fica entediado e decide entrar na história, e a vira uma paródia de King Kong. E a coisa só vai na moda louca assim, e novamente para um cartoon dos anos 80 é inacreditavelmente criativo.
Era um desenho bem desenhado (algo que definitivamente não podia ser dado como garantido na época) e super criativo, logo era um dos meus desenhos favoritos quando criança.
A outra coisa pela qual The Muppets me marcou foi o filme "Os Muppets Conquistam Nova York", que volta e meia passava na televisão. Em particular por causa de uma cena: depois de falhar emplacar um sucesso em Nova York, os Muppets decidem se separar e voltar da onde vieram. Então eles se despedem ao som de "It's Time for Saying Goodbye" e um a um vão indo embora.
O que essa cena tem de tão importante pra mim é que eu lembro de ter chorado assistindo um filme. Tá, eu sei que é uma cena triste mas não taaaaaao dramática em um filme que não é tão profundo assim, mas então na época eu tinha 6 ou 7 anos e eu nunca tinha me sentido assim por causa de um filme. Definitivamente foi algo que me marcou, ao ponto que eu lembro disso decadas depois.
E quer saber? Eu realmente acho que é uma pena que o show principal nunca passou na TV aberta por aqui, porque os Muppets é uma obra de criatividade e energia muito única. Ele é tipo um tataravô do humor aleatório da Geração Z de hoje, só que meio século antes.
Como, por exemplo, tem um quadro em que o Beaker faz uma capela de Ode to Joy através de Mimimi apenas porque sim. Apenas pq é engraçado, e é isso!
E quem nunca assistiu uma das esquetes mais iconicas de todos os tempos?
Quando devidamente escrito, no seu melhor os Muppets são surpreendentes mas não totalmente aleatórios, inteligentes mas não pretensiosos, bobos mas não estúpidos, travessos mas não mesquinhos, inocentes mas não chatos, e wholesome mas não piegas.
Mas talvez o mais importante é que você consegue realmente sentir o quanto o seu criador Jim Hansom realmente colocou de si nesses bonecos. Quando alguém está fazendo o melhor e mais honesto que pode, quando alguém verdadeiramente se importa, isso é algo que dá realmente pra sentir. É meio que como Final Fantasy 9, quando algo é feito com o coração isso chega até o publico - e os Muppets definitivamente é um caso desses.
- Senhor, o roteiro diz que deveria ter uma cena de explosão aqui... mas isso é meio caro, a gente não tem como macetar essa cena?
- Tá safe, meu consagrado. O pai tem uma ideia...
Adicionalmente, eu gosto muito do tema geral da coisa, o conceito que permeia o show é que é um conjunto de fantoches que tem um show (é um show dentro do show, vamos dizer assim), e nos bastidores eles são um grupo de quase perdedores que encontraram uma maneira de vencer se apoiando uns nos, para quem o absurdo da vida é mais bem suportavel uportado juntos.
Como escreveu Spider Robinson: "A alegria compartilhada aumenta, a dor compartilhada diminui". E é sobre isso que os Muppets são, afinal. Eu gosto particularmente do filme de 2011 que é ao mesmo tempo um reboot e uma homenagem ao trabalho de uma vida. É só ver a quantidade de celebridades que participam desse filme apenas quem não aceitaria participar de um filme dos Muppets?
Porém não é do filme de 2011 que eu vim falar hoje, e sim o de 1996: A Ilha do Tesouro. Com uma participação não menos especial que Tim Curry como Long John Silver. O que possivelmente poderia dar errado?
Bem, nada. Nada dá errado nesse filme, como poderia dar?
Mais do que isso, é até curioso que na época os criadores do filmes certamente não poderiam sonhar nem em seus sonhos mais loucos que em 25 anos, sua música “Cabin Fever” seria o hino não oficial de todo o mundo em 2020-2021.
(apenas para referencia, "Cabin Fever" se refere ao colapso mental de ficar muito tempo confinado em um espaço fechado como era o caso das viagens de navio que duravam meses... ou 2020, pq foda-se esse ano de merda)
O filme realmente não cobre nenhum terreno realmente novo, em termos de história não é particularmente original – não sendo a adaptação da “Ilha do Tesouro” e com certeza não será a última – mas a Ilha do Tesouro dos Muppets é os Muppets em seu melhor.
Eu gosto particularmente de como Muppet Treasure Island equilibra a violencia e morte do livro com comédia, logo no começo tem uma cena em que o Gonzo diz "é claro que ele não morreu de verdade, esse é um filme para crianças!", ao que o morto responde: "Morri sim, aaaarrgh...". Outro desses momentos notáveis que mostra o humor dos Muppets em seu melhor é quando Long John Silver dispara suas pistolas para se defender de sua multidão enfurecida de piratas: um pirata fica de luto depois que um de seus companheiros é aparentemente fatalmente ferido pelo tiro do Tim Curry!
"Você matou o Dead Tom!", para então ser gentilmente lembrado por alguém: “Mas Dead Tom sempre esteve morto – é por isso que a gente chama ele Dead Tom!”. Ao que o cara apenas responde "ah!" e larga o corpo.
E eu realmente adoro a cara do Tim Curry assistindo tudo ali atrás de "o que diabos tem de errado com essa gente?". Como eu disse, Muppets em seu melhor.
Claro, grande parte do que faz o filme funcionar também se deve aos números musicais. Todos são relevantes e integrais ao enredo, e cada um deles ajuda a criar o clima alegre e aventureiro do filme tendo algumas das musicas mais populares até hoje em quase 50 anos de Muppets.
Os Muppets, nesse filme, não decepcionam. E isso por si só vale a pena.
Mas ... e o jogo licenciado lançado na época, desaponta? É sobre o que viemos falar hoje afinal, não foi?
Bem, não desaponta... mas basicamente pq não tem muito o que esperar dele em primeiro lugar. Destinado a crianças a partir de cinco anos, este é um point'n click que é essencialmente uma coleção de minigames. Pense em BARNEY'S HIDE & SEEK GAME, só que para PC. Então sempre tem algo acontecendo quando você clica, e frequentemente é algo divertido e bem muppet-like.
Por exemplo, uma vez que você tenha o mapa, você deve tentar ver o Fozzie (como no filme), mas você não terá sucesso até que esteja vestido adequadamente - então vc precisa jogar alguns minigames para conseguir dinheiro para comprar roupas, e cada roupa que você compra tem sua própria cutscene bonitinha.
Então embora esse jogo seja uma coleção de minigames, ele também é um point'n click bem básico onde a criança tem que performar certas tarefas para avançar no jogo. O que é um campo de treinamento ideal para jogadores iniciantes de jogos de aventura, que mais tarde poderão jogar aventuras mais complexas nessa premissa como como THE SECRET OF MONKEY ISLAND ou FULLTHROTTLE.
Este é um excelente título infantil ao que se propõe a fazer. E quando o que ele se propõe a fazer é mostrar mais cenas do Tim Curry com o Gonzo, bem, isso é algo com o que eu posso conviver.
MATÉRIA NA SUPER GAME POWER Edição 031 (Outubro de 1996)