quarta-feira, 10 de agosto de 2022

[#945][Jun/96] X-PERTS


Que a Sega era uma bagunça em 1996 já é um fato amplamente registrado nesse blog, e os grandes erros da Sega são bastante fáceis de apontar. Porém hoje vamos falar sobre um dos erros da Sega mais curiosos: alguém aí lembra de ETERNAL CHAMPIONS

Certamente que não, e nenhum juri do mundo o condenaria por isso. Mas recapitulando brevemente, ETERNAL CHAMPIONS foi a tentativa da Sega de inventar uma franquia de luta para chamar de sua... e que no meio do caminho foi alterado pra ser um cavalo de venda para o golpe chamado Activator. Pouco surpreendentemente, ninguém se importa com ETERNAL CHAMPIONS, certo?

"Faixa preta em ninjutsu"... eu não acho que é assim que funciona, apenas acho...

Sim, ninguém poderia se importar menos com ETERNAL CHAMPIONS... exceto que apesar de ter abandonado a ideia de fazer novos jogos para a franquia, a Sega continuou investindo nela através de alguns quadrinhos e esse beat'm up que é um spin-off. Pq hey, é o que todos queriamos, certo? Um spin-off em beat'em up de uma franquia que a Sega já tinha largado de mão, yay...

Quer dizer, o que possivelmente poderia dar errado, não é?

Só que esse não é um beat'm up qualquer como as dezenas que foram lançadas (com certa qualidade até) para o Mega Drive, oh não, isso seria muito simples. Esse é um beat'm up com elementos de RTS e eu não estou de sacanagem com vocês.

Funciona assim: a fase tem um mapa geral e você tem três agentes nesse mapa. Você controla apenas um de cada vez, mas você sempre tem que ficar cuidando o mapa tanto para assumir o controle dos outros agentes que estão indefesos enquanto isso dado que tudo acontece em tempo real. 

NÃO SERIA MAIS FACIL ENTÃO APENAS COLOCAR OS TRES PERSONAGENS JUNTOS?

Ser seria, mas então tem o problem do limite de tempo que esse jogo tem. São apenas duas horas pra terminar o jogo, então vc PRECISA espalhar seus agente pelo prédio para eles fazerem coisas mais rápido. Tipo ativar o um computador no andar 7 Leste para abrir uma porta no andar 3 Oeste, não vale o tempo gasto para ir de um lado a outro quando vc pode apenas posicionar o agente e alternar entre eles

É uma ideia bem ambiciosa para um jogo de Mega Drive, um tipo de THE LOST VIKINGS só que mais voltado pra ação, é algo que eu posso ver funcionar, basta apenas ter uma jogabilidade que não te faça desejar arracar as orelhas usando uma colher enferrujada... o quão dificil pode ser isso, né?

... né? Bem, vamos ver como isso se saiu, sim?


Rory Sheet...

Imagine, se puder de alguma forma, uma mistura de CYBORG JUSTICEHEAVY NOVA e BATMAN FOREVER. Agora pegue esse puro suco de sofrimento e dor, e adicione um lag para TUDO que você fizer. Eu quero dizer tudo mesmo, entre dar um soco a simplesmente se virar tudo nesse jogo demora pelo menos um segundo desde o momento que você apertou o botão.

O gif não está rodando em camera lenta, o jogo é nessa velocidade mesmo

Porém mesmo que os controles respondessem dentro da mesma era geologica em que estamos, o que repito não ser o caso, esse jogo seria um beat'm up realmente medíocre sem nada de especial no seu combate. Pelo amor das Pinkie Pies saltitantes, esse jogo saiu em 1996 e a esse ponto o Mega Drive já tinha jogos como MIGHTY MORPHIN POWER RANGERS: The Movie ou VENOM - SPIDER-MAN: Separation Anxiety que mesmo sendo jogos de porradaria medíocres são infinitamente mais interessantes que isso.

Você chuta, soca, defende... teoricamente tem uma arma mas leva tanto tempo e vc não pode andar com a arma sacada então ignore ela... e é isso o jogo. E isso sem nem entrar na questão da hit detection que, vamos colocarassim... olha só um negócio desses:


Honestamente eu estou com dificuldades em lembrar um beat'm up pior que esse jogo. Eu diria que vc precisa evocar coisas como HEAVY NOVA do Sega CD ou DOUBLE DRAGON 3 do Nintendinho para sequer ter uma competição, mas ainda sim se alguém quiser dizer que esse é o pior beat'm up de todos os tempos... eu não vou dizer que essa pessoa esta errada realmente.

Mas se o beat'm up é horrendo, a parte das "missões" configura como nada senão crimes contra a humanidade. Isso pq o que vc faz nesse jogo é essencialmente "hackear" computadores e isso demora... um pouco, vamos dizer assim...


Leva 17 segundos para encher uma porção de barrinha de hacking, e como dá pra ver são várias delas. Eu sei o tempo exato pq eu contei, não é como se eu tivesse algo melhor para fazer mesmo... porém se um inimigo te atacar enquanto isso o procedimento todo tem que ser reiniciado e a esse ponto eu não tenho mais duvida nenhuma que esse jogo foi patrocinado por um instituto gastrologico para tratar as úlceras nervosas que essa coisa causa.

E não que saber o que fazer seja realmente mais simples ou algo do tipo, nada poderia ser mais longe da verdade. Quando eu comecei a jogar, eu não tinha ideia do que diabos estava acontecendo ... só que de todos os personagens, o jogo só te deixa realmente começar se vc selecionar o "Zach", porque ele é a única pessoa que consegue descobrir como abrir uma porta. A principal missão do primeiro nível é abrir as portas para os outros agentes. Isso mesmo, as pessoas que enviamos para salvar o mundo dos terroristas não conseguem descobrir como ABRIR UMA PORTA.


Depois de resolver o primeiro quebra-cabeça (confie em mim, não foi fácil, eu tive que descobrir qual dos dez computadores era o certo para agressivamente espancar o teclado, suponho que é assim que se hackeava na época), os outros agentes estavam livres para finalmente socar a porrada em algum rabo terrorista.

Matei todos os terroristas que pude encontrar, o que abriu mais dois objetivos em outro andar. O único problema com isso tinha a ver com acesso restrito aos elevadores. A única coisa que as duas garotas Tashile e Shadow podiam fazer era andar para frente e para trás enquanto horrivelmente animadas e mexer no suporte de vida. Zach, por outro lado, parecia muito feliz e contente por não estar perto de nenhum das duas agentes agentes e não fez nenhum esforço para consertar o elevador.

O ponto aqui é que o jogo é muito vago e você nunca realmente sabe se o que você está fazendo nos computadores não está funcionando pq não é pra funcionar, ou apenas pq o jogo registra as coisas direito, não é como ele te desse um feedback por suas ações ou algo do tipo nem nada.


Ah, e eu mencionei que o jogo inteiro se passa em um único mapa que foi desenhado com a critividade de alguém do departamento de contabilidade da Sega? Basicamente o jogo inteiro são esses corredores aí e é isso o jogo. Como eles poderiam se esforçar MENOS é algo que sequer consigo conceber...

Os gráficos não envelheceram mal pq pra isso eles teriam que ser okay na época, o que não é o caso. Em 1996 ele já parecia horrendo e a animação era tosca, mesmo jogos de CG digitalizada no Mega Drive (como VECTORMAN ou TOY STORY) que não chegavam perto de um DONKEY KONG COUNTRY ainda sim são três bilhões e meio de anos superior a esse acidente de trem. E o som eu não preciso nem dizer, é um jogo de Mega Drive afinal e qualquer coisa que soe  melhor do que um moedor de café enferrujado com o sangue dos inimigos do seu Deus já seria uma vitória...  que nem chega a ser o caso aqui.

Pra pausar o jogo vc tem que apertar Start e selecionar essa opção no menu, senão o timer de duas horas não para... alias eu mencionei que o jogo não te avisa claramente que vc tem um limite de tempo? Pois é.

X-Perts consegue a façanha de ser não apenas um dos piores jogos de Mega Drive (o que já seria muito em um console repleto de ports de eurotrashs de Amiga), mas um dos piores jogos de todos os tempos em todos os campos. A única real razão para isso é se vc tiver um desejo autodestrutivo de sentir como é sua alma ir definhando lentamente.

E nem isso ele faz direito, pq sua alma definha bem rápido nisso daqui.

MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 030 (Setembro de 1996)