Como o orgulhoso e apenas muito ocasionalmente rabugento boomer que eu sou, permita-me dizer uma coisa: eu já joguei muitos jogos. E quando eu digo "muitos", eu me refiro a muitos MESMO, tipo mais do que qualquer ser humano em sã consciência poderia jogar e ainda lembrar que cor é o Sol. Dito isso, tem uma coisa que eu nunca fiz em todos estes anos nessa indústria vital: eu nunca fiz um jogo.
Nunca me sentei em um escritório enfumaçado às 3 da manhã debatendo contagens de polígonos com um produtor que ainda está de pé graças apenas a café barato e péssimas escolhas de vida. Então não, eu não posso falar da experiencia de como é desenvolver um jogo, tudo que eu sei sobre game design eu aprendi através de entrevistas e reviews post-mortem. Mas tem sim uma coisa que, mesmo de fora, eu posso afirmar: eu tenho a mais absoluta certeza de que o desenvolvimento de jogos deve ser um dos empreendimentos mais caóticos e enxaquecosos conhecidos pela humanidade.
Uma prova irrefutável disso é que tantas sequências ao longo dos anos acabam parecendo aquele episódio de Chaves em que o Professor Girafales está ensinando Kiko a tocar violão: "Faça isso", e Kiko faz perfeitamente... mas no momento em que tenta adicionar algo novo, esquece tudo o que fez certo segundos antes. Isso, meus amigos, é exatamente o que acontece com inúmeras sequências: os desenvolvedores heroicamente consertam o que não funcionou no primeiro jogo — yay! — mas, inexplicavelmente, acabam cagando o que tinham acertado em cheio da primeira vez — menos yay!